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quarta-feira, março 25, 2015

NÓS E OS FASCISTAS DA EUROPA (1936)

Nós e os fascistas da Europa (1936)


Miguel Reale

Uma revista francesa, tecendo elogios ao movimento integralista, considerou os “camisas verdes” filhos espirituais de Maurras, isto é, “nacionalistas integrais”.

Não pode haver engano maior.

Em primeiro lugar, Maurras reconhece a rigorosa necessidade da monarquia no mundo contemporâneo, enquanto que nós integralistas já fixamos de maneira claríssima a nossa orientação republicana.

Em segundo lugar, ele é Católico, intransigentemente católico, mas católico positivista à maneira de Oliveira Lima, por tradição, “católico histórico”, pelo fato de reconhecer no catolicismo um fator básico da grandeza nacional. O Integralismo, ao contrário, reúne católicos, protestantes e espíritas, e ainda nenhum integralista, com suficiente autoridade, fez exclusão desta ou daquela crença, nem será possível qualquer sectarismo em nossas fileiras.

Em terceiro lugar, para Maurras, Barrès, Bourget ou Léon Daudet, nada deve existir acima da Pátria, nem Justiça, nem Verdade, nem Razão.

Segundo a sua doutrina, exposta em linguagem áspera e mesmo violenta – o que não deixa de ser profundamente necessário na terra dos Léon Blun – segundo o “nacionalismo integral” há uma “justiça francesa” uma “verdade francesa”, uma “razão francesa”. Só o nacionalismo para eles tem existência real. O universalismo é aceitável tão-somente quando constitui expressão do gênio francês. A pátria gaulesa é o valor supremo, a realidade fundamental e eterna.

Ora, este exclusivismo patriótico não se enquadra de maneira alguma, dentro dos princípios integralistas. Um brasileiro que tentasse introduzir semelhantes pontos de vista estaria inconscientemente obedecendo a um exagerado nacionalismo gaulês. Seria brasileiro segundo o modelo de Maurras...

As “Diretrizes Integralistas”, em seu item II, fazem prevalecer o espiritual sobre o moral, o moral sobre o social, o social sobre o nacional, e o nacional sobre o particular.

De acordo com tal modo de ver, não consideramos a pátria um “valor supremo”, imutável, ponto de referência para todos os julgamentos.


A pátria para nós é uma realidade e um valor, não há dúvida. É uma realidade porque é uma resultante de natural elaboração histórica, e não um artifício do homem; e é um valor porque representa um patrimônio espiritual e material que umas gerações recebem de outras com a obrigação de legá-lo maior aos filhos e aos netos. E é ainda um valor porque os interesses econômicos só apresentam expressão concreta dentro dos limites nacionais. Eis por que, expondo a doutrina integralista, fazemos sempre questão de pôr em evidência o conceito de pátria como um “organismo ético, político, econômico e cultural”, “uma cooperativa naturalmente estabelecida pela divisão do trabalho”, uma “sociedade solidária constituída pelos trabalhadores do braço, do capital e da inteligência”.

Mas a Pátria não é eterna em sua forma. O que é eterno é a função a que ela se destina. Não podemos, com efeito, confundir a permanência das leis com a fixidez das formas. Na história encontramos muitas formas de Pátria, correspondendo todas elas a uma permanente função necessária, indispensável e natural à espécie humana. É claro, porém, que agimos “como se” a forma atual fosse eterna.

A história do Direito nos mostra que, originariamente particularista, ele foi se universalizando. O mesmo se dá com as instituições políticas. A Liberal-Democracia, por exemplo, após o seu triunfo teórico na França, estendeu-se a todos os países, com manifestações distintas segundo os lugares e as contingências históricas. O mesmo acontece hoje com o ideal da Democracia Corporativa, que dá Itália se estende a Portugal, à Áustria, à Letônia, à Alemanha, aos Estados Unidos e a todo o globo terrestre. Em verdade, nisso não há nada de espantoso. E não há nada mais imbecil que um liberal de 89 ou um socialdemocrata de Weimar acusar o “estrangeirismo” de um corporativista do Século XX. Quem assim procede, não examina a própria história, e desconhece a verdade contida nestas palavras de Cuvillier: “A consciência moral varia, mas ela varia de conformidade com certas leis que se podem resumir assim: especificação crescente da moralidade; espiritualização das noções morais; universalização dos direitos e deveres”.

Que o progresso moral e técnico nos conduz a uma universalização dos direitos e dos deveres, e, por conseguinte, uma identidade cada vez maior entre as formas nacionais de governo, eis uma verdade de grande evidência. Se hoje já se fala em universalização do direito penal, em universalização da moeda, não é por simples palpites, mas sim porque tal necessidade se faz sentir.

Nós devemos reconhecer esses fatos, sem que para isto seja necessário nos perdermos no sonho mirífico do internacionalismo burguês do século passado (1), internacionalismo lírico que teve como consequência o internacionalismo capitalista de um lado, e o internacionalismo marxista, do outro.

Como diz Höffding, “nós não somos antes membros da Família, criadores de cultura, cidadãos do Estado e depois homens, mas nós devemos justamente viver como homens em todas as circunstâncias que possam se apresentar no seio da família, da associação cultural ou do Estado, tratando-nos reciprocamente como homens”.

Somos universais sendo brasileiros, especificamente brasileiros, porque sabemos ser homens no círculo da família e da pátria. O que não devemos fazer é procurar no universalismo uma desculpa para não observarmos o que está perto. Ama a humanidade quem ama o seu próximo. Cria valores universais quem abre os olhos para as realidades concretas. Os “modismos” de cultura, o “cosmopolitismo” nas maneiras de sentir, de pensar e de agir, eis o que não se justifica, o que devemos evitar. Mas isto não é universalismo, mas contrabando que em nome dele se faz.

Nada de extraordinário, por conseguinte, que sejamos brasileiros, nacionalistamente brasileiros, e, ao mesmo tempo, apresentemos valores que se encontram também em movimentos fascistas europeus, como o de Mussolini, de Hitler e Salazar.

“Isso de quererem forçar-nos a ser iniciadores convencionais de uma civilização, fresca, virgem, espontânea – escreveu Tristão de Ataíde corrigindo os excessos do modernismo de 22 – será um erro tão crasso como qualquer academismo vulgar. Somos novos, como americanos. Somos velhos, como europeus”.
“Conciliar não – continua o pensador brasileiro – fundir as correntes contrárias que nos solicitam: a que vem de fora e a que vem da terra. A que importamos como alimento de cultura; e a que vivemos aqui como elemento de cultura. Alimento e elemento – não são apenas um mau trocadilho. São duas formas primárias de nosso espírito. Não podemos vivem sem os elementos locais primitivos, de uma mentalidade. Não podemos muito menos crescer sem alimentar esses elementos primários com a contribuição de cultura superior que o nosso espírito pede”.

Nós alimentamos os elementos político-sociais brasileiros com a lição da experiência alheia. Desde o início da propaganda, afirmamos o nosso propósito de tirar das experiências estrangeiras todo o sumo necessário ao desenvolvimento de nossa Pátria.

O Fascismo italiano contém muitos valores universais, aplicáveis a todos os povos ligados à cultura cristã. Mas o Fascismo foi se elaborando no terreno da práxis. À medida que as necessidades sociais foram se exprimindo em ordenamentos jurídicos e econômicos, revelaram-se os elementos essenciais de uma doutrina, cujos contornos já são nítidos, com a grande vantagem de ser uma “teoria vivida” e não apenas um quadro mental sem a verificação decisiva da experiência. O cunho empírico, pragmático e relativista do Fascismo foi tão notável que os italianos não perceberam, desde logo, o caráter universal de seus princípios. É estranho, mas é verdade. Fomos nós estrangeiros que mostramos aos peninsulares que a experiência do Duce não tem só um valor restrito à Itália, mas constitui uma experiência universal. Primeiro, Mussolini afirmou: “o Fascismo não é artigo de exportação”. Agora ele mesmo reconhece que o Fascismo é a doutrina universal do século. A princípio, a criatura foi maior que o criador...

Pensando bem, não é muito lógico falar em criador do Fascismo. A doutrina corporativista tem antecedentes no tempo e no espaço, tanto do domínio jurídico, como no econômico-social. Precursores são, por exemplo, Dupont White, Sismondi, List, Le Play, Gerber, Treitschke, Maurras, Sorel, Alberto Torres, etc., etc., cada qual cooperando com uma especial contribuição. Mussolini orientou a síntese, realizou o sincretismo das teorias, algumas delas consideradas até então contraditórias ou irredutíveis... Seu mérito é inexcedível, mas só mesmo a paixão nacionalista poderia considerar todo o “corporativismo” um produto genuíno da Itália...

Consideremos o problema fascista em relação ao integralista.

O espírito ou a índole do nosso nacionalismo não é idêntico do italiano.

Na Itália, os nacionalistas se impuseram a imensa tarefa de reviver as glórias do passado, no esplendor da disciplina das gerações novas. No Brasil a tarefa é mais árdua. Trata-se de revelar uma Nação, cuja palavra ainda não se fez ouvir, cujos valores espirituais o mundo desconhece e não poucos brasileiros ignoram.

O nacionalismo fascista foi uma afirmação violenta, reação natural contra esse Tratado de Versailles que satisfez o orgulho da França e a nunca saciada ambição britânica. Marcou, além do mais, a vitória do espírito nacional contra a traiçoeira fraternidade internacionalista dos centros maçônicos e o seu irmão gêmeo, o internacionalismo socialista.

O nacionalismo na pátria de Dante foi síntese dialética superadora da velha antinomia entre Burguesia e Proletariado, as duas classes antagônicas que olvidaram os ódios e as lutas ásperas, marchando juntas para o fogo das trincheiras, no instante trágico da ameaça às fronteiras.

O chefe socialista Mussolini, soldado nas linhas de vanguarda, quando a paz voltou sem restituir a ordem e a confiança, transformou-se no “duce” do socialismo nacionalista. No fogo das trincheiras operara-se uma das mais maravilhosas combinações históricas: o nacionalismo se tornara socialista, e o socialismo se tornara nacionalista.

As lutas de classes, os ódios classistas revelaram-se mais fracos que o amor que o homem normal tem pela própria Pátria...

1918 é um ponto de partida. Seus efeitos são universais. Pouco importa que o Brasil não tenha perdido milhares de seus filhos. Depois da Grande Guerra, no Brasil como na China, na Índia como na França, não há lugar para nacionalismo que não seja também socialismo, ou seja, que não contenha os elementos de uma profunda revolução social, de uma poderosa renovação nos costumes e hábitos da vida individual e coletiva.

A revolução não se prega mais em nome de uma classe: a revolução é o direito sagrado da Nação, da totalidade das forças nacionais.

Não basta, porém, sentir que uma revolução é necessária. É preciso saber para onde se vai, que objetivos imediatos ou mediatos se procuram, quais os métodos e quais as formas de atuação.

A experiência italiana demonstra que a revolução deve ser feita no sentido de dar uma base corporativa, e não mais partidária, à nova Democracia, tanto no setor dom ordenamento jurídico, da representação política, quanto no domínio das realizações econômicas. O Corporativismo, eis o objetivo final de ordem política.

E Corporativismo implica autoridade do Estado, anti-individualismo, ordem, hierarquia, como condições de liberdades concretas. O Fascismo, dessarte, foi uma grande escola de dinamismo, de “vitalidade”.

Em resumo, podemos dizer que Mussolini, jogando com dados positivos da experiência, estabeleceu estes pontos essenciais:
1°) a revolução social deve ser processada;
2º) dentro dos quadros morais das Nações;
3°) sob a superior orientação do Estado;
4º) sobre uma base sindical-corporativa;
5°) segundo o princípio da solidariedade que deve nortear os membros da coletividade nacional.

Nesse período cremos ter condensado o que há de essencial na doutrina fascista. A revolução não se processa por si, mas como um ato de vontade científico ou heroico, depende; não destrói as Nações, nem aniquila o Estado para o triunfo ridículo do “cidadão” ou a ilusória ditadura do “proletariado”...

O Integralismo, reconhecendo o valor universal dos cinco princípios acima, acrescentou um outro:

6°) sem ofensa dos direitos essenciais à personalidade humana.

Não que na Itália se ofendam os direitos da personalidade. Mas lá há mais vitalismo que propriamente espiritualismo. Cuida-se mais do esplendor da força material ou das manifestações coletivas, do que propriamente dos valores do espírito.

O Fascismo, do ponto de vista do espírito, é uma expressão transitória. O próprio Fascismo dia a dia se corrige, abandonando vícios pré-bélicos. (1)

Algum leitor pode estar pensando que desejaríamos que no Fascismo houvesse menos heroísmo e mais santidade. Mas não é tal. O Fascismo é uma política e não podemos, sem ofensa à lógica, ultrapassar as fronteiras da política. O que desejamos indicar é a existência de um sentido naturalista de vida na península renovada, um sentido cru da existência. O heroísmo e o sacrifício do “camisa preta” são índices de forças espirituais, mas estas forças não se revelam como tais.

O Integralismo, ao contrário, é espiritualista, francamente espiritualista. É uma revolução para o Brasil, sem servir a nenhuma crença em particular, mas, servindo a todas as crenças, porque serve aos valores eternos do espírito cristão.

Temos em relação à Europa duas superioridades: temos terras em abundância, não lutamos com angústias de espaço, nem sentimos a imperiosa necessidade de conquistar domínios; em segundo lugar, temos poucos compromissos ou contas a saldar, uma herança quase nula de ódios ou ressentimentos, de uma vida restrita no tempo.

O nacionalismo da Europa vive de desconfianças, de agressões, na previsão enervante de surpresas bélicas. Nós podemos e devemos ser nacionalistas, sem ser preciso fundamentar a nossa união no ódio ou no receio. É por isto que a luta racista não nos seduz. Preferimos construir o novo Estado sobre sólidos princípios positivos de afirmação de valores novos, do que traça-lo em função de ódios, segundo o compromisso de princípios negativos. Do Hitlerismo podemos tirar algumas lições em matéria de organização política e financeira, mas não sabemos em que nos poderia ser útil a tese da superioridade racial, tese que consulta uma situação local.


Nós brasileiros devemos nos libertar do jugo do capitalismo financeiro e do agiotarismo internacional, sem que para isso abandonemos os princípios éticos para descambarmos até aos preconceitos racistas. A moral não permite que se distinga entre o agiota judeu e o agiota que diz ser cristão; entre o açambarcador que frequenta a Cúria e o que frequenta a Sinagoga. O combate ao banqueirismo internacional e aos processos indecorosos dos capitalistas sem pátria, justifica-se no plano moral. E quando a pureza da norma ética está conosco, não se compreende bem qual a necessidade de outras justificações, que podem ser de efeito, mas que certamente são discutíveis.

Assim como repudiamos o racismo hitlerista, nós nos afastamos do cesarismo italiano, o qual tem a grande virtude de possibilitar gigantescos empreendimentos, mas tem também o defeito de deixar tudo em função de um só homem. O que se ganha em velocidade, compromete-se em durabilidade...

Somos, por assim dizer, mais democratas que os fascistas da Europa. Preferimos a colaboração popular a uma compressão de ordem física ou psíquica. Reconhecemos mais autonomia aos indivíduos e aos grupos. Tememos que a disciplina militarizada habitue os homens a esperar a iniciativa ou o auxílio do Estado, em todas as condições sociais. Para nós, o Estado deveria repetir a grande advertência: “ajuda-te que te ajudarei”.

Este reconhecimento de um maior círculo de atividade individual e grupalista não decorre unicamente de considerações abstratas, porém, consulta uma soma de realidades concretas, próprias de nosso meio.

Oliveira Viana, em um de seus estudos magistrais, observou que o Estado no Brasil não pode prescindir de uma ampla colaboração individual. É uma verdade. Se em toda parte é erro, no Brasil seria uma calamidade o enriquecimento do Estado à custa do empobrecimento dos particulares...

Nós recebemos de nossos antepassados o legado de muitos milhões de território. Cumpre-nos conquista-los. Nosso imperialismo já tem o objeto. Falta a vontade firme do sujeito dominador, porque nos faltou até agora a consciência de um dever comum.

Sendo possuidores, como somos, de tantas riquezas ainda para explorar, devemos ordenar a nossa economia não somente para criar valores trocáveis, como ensina a escola liberal, mas também para utilizar as forças produtivas.

Neste ponto cabe uma observação que consideramos de grande alcance.

Na Europa, os Estados objetivam a organização da vida econômica a fim de ganhar em intensidade o que não pode mais ser obtido satisfatoriamente em extensão, pelo fato simples de não existirem mais terras incultas ou matérias-primas inaproveitadas. Esta situação é tão grave, que a atenção dos técnicos já está voltada para o aproveitamento industrial de determinadas coisas que estavam à margem do ciclo produtivo devido o seu diminuto rendimento.

Nós, ao contrário, temos terra e temos matérias-primas. Pode ser que não sejamos o mais rico dos países; mas com certeza não somos dos mais pobres.

Se assim é, e se somos poucos, nosso dever é nos organizar para que a energia dos indivíduos não se estanque, mas se propulsione mediante a colaboração dos grupos associados e do Estado.

Como escrevi em “O Estado Moderno”, ainda estamos no período do desbravamento, no início de uma economia que ainda não se realizou em extensão, nem na realidade, nem nas obras dos cientistas, tão avultado é o número de riquezas ignoradas.

O erro das nossa economia tem sido este de intensificar a produção de certas riquezas, na exploração descontrolada do açúcar, do café ou do algodão, antes de ter se realizado em extensão. E todo fracasso de culturas isoladas tem constituído um empecilho ao desenvolvimento de novos setores da economia nacional, em virtude dos “déficits” acarretados e das quebras previsíveis.

O corporativismo integralista não pode esquecer essa observação fundamental. Deve ser plástico, adaptável a cada região, variável dentro de um sistema unitário pelos fins e não pelas formas.

É deste ponto que devemos partir para a apreciação do Federalismo Corporativo necessário ao Brasil
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1) Nota do Autor em 1983: Quando escrevi este estudo, não podia prever que iria acontecer exatamente o contrário, com o fascismo reduzido ao endeusamento do Estado totalitário e militarista.
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Publicado originalmente na Revista Panorama, Ano I, Abril-Maio de 1936, nº 6, página 11 e seguintes.


REALE, Miguel. Obras Políticas (1ª Fase – 1931/1937). Volume III. Brasília: UnB, 1983; transcrito da pagina 223 até 233.

domingo, junho 23, 2013

O VOTO POLI-CORPORATIVO

Baruch BenTzion*

A HORA é esta, a   de apresentarmos a ÚNICA, a mais rápida e eficiente forma de uma MUDANÇA para este País: O VOTO “POLI-CORPORATIVO”, DISTRITAL, APARTIDÁRIO E NÃO OBRIGATÓRIO!
Somente com esse sistema, podermos fazer valer  a um Deputado,  faze-lo REPRESENTAR aos seus eleitores, na sua Corporação, e com isto RESTAURARMOS antigas instituições, porém, actualizadas, como os IAPBs, IAPTECs..., e ELIMINARMOS cargos  Ineficazes e meramente politiqueiros, como o de VEREADOR, onde esse “Espaço” seria ocupado pelas ASSOCIAÇÕES DE MORADORES, que hoje não tem força e poder algum! O que é um ABSURDO !
ELIMINEMOS O VOTO “SARAIVA”! (O  candidato recebe aquela saraivada de votos de todos os cantos e setores e acaba por não representar povo algum!)
O  VOTO POLI-CORPORATIVO, DISTRITAL, APARTIDÁRIO E  NÃO OBRIGATÓRIO, é a ÚNICA forma de eliminarmos os LOBISTAS nos congressos e parlamentos, os aumentos irresponsáveis de Impostos, criações de taxas e tarifas e o desperdício público e esse FESTIVAL de cargos Comissionados de ASPONES, Mordomias, etc.

NAS REDES SOCIAIS PROPAGUEM ISSO! A HORA É ESTA!

E pelos “PLEBICITOS  a cada 10 anos sobre o SISTEMA de governo: República Presidencialista (desgraça actual), a República Parlamentarista e ou a Restauração da “DIFAMADA” Monarquia, que seria o calo no Sapato dos Meta-Liberais-Capitalistas-Globalistas-Apátridas-Internacionalistas e aos seus “idiotas úteis”, os Esquerdistas que, sem querer e saber, TRABALHAM ferozmente para esses últimos e por isso são chamados as gargalhadas de “IDIOTAS ÚTEIS", os militantes  e eleitores de “esquerda”!


AVANTE! KADIMAH!
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* ∑. Rio de Janeiro - RJ

quarta-feira, junho 20, 2012

BASES DO CORPORATIVISMO


A Cultura, periódico Integralista cearense do Movimento Águia Branca. Fonte: https://picasaweb.google.com/113485118109961085819/De1945Ate1965#5755126606889995746


Bases do Corporativismo
Gaspar Brigido*
O Sindicato, segundo os princípios filosóficos, morais e científicos que informam a Doutrina dos Águias Brancas, tem quatro funções, harmônicas entre si:
a)      função política – através da sua efetiva participação na vida política nacional, integrando os Conselhos Municipais, os Conselhos Econômicos Provinciais e a Câmara Corporativa Nacional;
b)      função econômica – pela viva atuação na estrutura econômica da Nação;
c)      função cultural – promovendo empreendimentos destinados à formação cultural do povo, para o que manterá cursos, escolas, bibliotecas especializadas, escolas técnico-profissionais, colônias de férias, campos de esportes, tornando a Instrução e a Educação acessíveis a todas as classes; ensino primário obrigatório e gratuito; a ninguém assiste o direito de ser analfabeto;
d)      função moral – assistindo moralmente a todos os que participam, direta ou indiretamente, da obra comum da produção nacional, procurando solucionar pacificamente os conflitos entre Capital e Trabalho.
Justifica-se, por tais funções, a necessidade da existência das Corporações.
O Sindicato congrega produtores de uma única categoria, profissão ou ofício. Reúne ou empregadores ou empregados. Nunca, porém, as duas classes.
O conjunto de Sindicatos forma as Federações (âmbito provincial, formando os Conselhos Econômicos) e as Confederações (âmbito nacional).
As Corporações,  instituições do Estado, reúnem empregadores e empregados. Formam a Câmara Corporativa, que funciona harmonicamente com o Senado ou Conselho Nacional, que congrega as mais expressivas figuras da vida cultural, moral e científica da Nação.
(Publicado originalmente em A Cultura, Nº 17, Ano II, Setembro de 1956)
*∑ - Fortaleza, Ceará. Foi um dos mais destacados líderes do Movimento Águia Branca.

domingo, abril 10, 2011

A Democracia Integral


Marcelo de Albuquerque Magalhães*


Com a nossa Independência (1822) ganhamos o reconhecimento de povo livre, porém, após esse fato, a Nação passa a ser submetida aos desmandos dos partidos políticos, órgãos alheios aos interesses nacionais e que tem as suas ordens nas “ligas”, clubes e comitês de notáveis. Essa situação piorou com a Proclamação da República (1889), onde os partidos políticos cresceram de forma assustadora e desordenada. Hoje, vemos que fragmentam a Nação. Isto, fruto de interesses de pessoas e grupos. Por medo, os brasileiros caem nas armadilhas da liberal-democracia onde se vota em pessoas sem qualificação para o exercício da representatividade.

Os partidos políticos brasileiros são grupos de alta rotatividade e que se ajuntam pelo bel prazer de alguns caudilhos, seus membros não possuem qualquer responsabilidade para com seus eleitores, pois eles não se submetem a nenhum compromisso moral ou doutrinário. Partido no Brasil, não precisa ter coerência, um dia choca a Nação com revelações sobre o Partido adversário e já no outro, se vê em aliança com o inimigo de ontem. Os partidos “partem” a nossa Nação, deixando-a totalmente sem rumo, confundem a população numa eterna “guerrilha” psicológica onde algum candidato combatido hoje, se torne um “braço direito” amanhã, constituindo assim a balbúrdia que rege o Brasil nos dias atuais. A representação não obedece nenhum critério, os laços do candidato, podem ser tão elásticos como a imaginação de seus propagandistas, obedecendo ao clamor do momento e direcionando às reinvindicações para os mais diversos setores da vida da Pátria. O povo, neste contexto, é representado por todos e por ninguém. Por todos, na hora de se pedir o voto e por ninguém, na hora de clamar pela sua representação. Como não existe um sistema de pleito bem definido, algum artifício que regule essa representação, o candidato pode atribuir os seus votos a quem quer que seja e sempre se esquivar das reinvindicações de seus eleitores.

Prova-se então a ilegitimidade dos partidos no Brasil, sempre indiferentes aos auspícios de nosso povo. Os partidos atuais são ineficazes e desfibrados, totalmente desprovidos de coerência doutrinária. Nenhum partido político brasileiro possui doutrina coesa, são partidos no jogo da politicagem que se chama eleições, através do voto direto (sufrágio universal).

Somente as corporações integralistas podem substituir com sucesso os atuais partidos políticos. Só assim poderá haver representação com compromisso e seriedade. Ultrapassando os limites do indivíduo que só é requisitado de quatro em quatro anos, esse cidadão ficará bem mais atento no que concerne a sua representação, pois essa afetará a ele e a sua comunidade de uma maneira bem mais objetiva. Acabando, desde já, com a indiferença manifestada no comércio de votos. É de vital importância notarmos que o germe da prática corporativa já existe em quase todos os campos de nossa sociedade, grande parte da Nação nunca deixou de se agrupar dessa forma. É só ver os magistrados, professores universitários, metalúrgicos, militares, bancários, etc.

Enfim, resumidamente, a única doutrina dos partidos é a de quem está no poder ou então como alcança-lo, ou seja, é a ânsia de poder sem ter autoridade para governar, criando assim abutres que vivem na máquina politiqueira brasileira.

Quanto as corporações integralistas, não devemos confundi-las com as antigas corporações europeias medievais e muito menos com o Corporativismo Fascista, pois estas possuem a ideia antidemocrática e antipopular de poder, onde o Povo era mero espectador manipulado pelos ricos e pelos poderosos. A diferença crucial é que o Corporativismo Integralista é movido pelos seus sindicatos formados pelo povo trabalhador que escolhe seus representantes na Câmara Corporativa, entendendo-se assim que funcionamos de baixo para cima na pirâmide social. O povo escolhe por quem quer ser governado através de seus representantes de classe trabalhista.

O momento é este! A hora é agora! O Brasil pede que o Corporativismo Integralista semeie-se já! Com muita luta e afinco conseguiremos mobilizar os brasileiros para esta causa; com a ajuda e compreensão de nosso Povo, isto será eterna realidade!

Partido Político – fator de desunião e entreguismo Nacional.

Corporações Integralistas – fator de integração e união Nacional!

BRASIL ACIMA DE TUDO!

(Transcrito de “Alerta”, Nº 47 – Maio de 2000 – págs. 1 e 4)

*∑ - São Paulo (SP).

sábado, junho 19, 2010

Os Corporativismos Integralista e fascista na Obra “O Estado Moderno” de Miguel Reale

Sérgio de Vasconcellos*

Ao Companheiro Cezar Augusto Machado da Silva

O renomado Jurista Miguel Reale – recentemente falecido – ingressou no Integralismo em Novembro de 1932, tornando-se quase que imediatamente uma das figuras eminentes do Movimento. Numericamente, sua Bibliografia Integralista só é superada pela de Plínio Salgado e Gustavo Barroso. Paralelamente a intenção de escrever Obras de Divulgação Doutrinária, existia em Miguel Reale a preocupação em lançar os fundamentos jurídico-filosóficos do Estado Integral, e assim, publicou os seguintes Livros:
- O Estado Moderno (1934).
- Formação da Política Burguesa (1934).
- Perspectivas Integralistas (1935).
- O Capitalismo Internacional (1935).
- ABC do Integralismo (1935)
- Atualidades de um Mundo Antigo (1936).
- Atualidades Brasileiras (1937).
Todas estas Obras tiveram reedições.

A mais famosa, certamente, é “O Estado Moderno”, onde ele critica brilhantemente o liberalismo e sua concepção meramente jurídica do Estado, e traça vigorosamente os lineamentos do Estado Moderno, isto é, os do Estado Integral. Infelizmente, a compreensão desse Livro tem sido viciada, pois, como ele mesmo diz no Prefácio da 3ª edição, razões imperiosas determinaram que “O Estado Moderno” fosse publicado antes dos volumes que lhe preparariam o terreno, digamos assim. Eis as palavras exatas de Miguel Reale:
“A 3ª edição de “O Estado Moderno” sai agora, precisamente quando devia estar no prelo a primeira, isto é, depois de dois livros que o esclarecem e preparam: “Formação da Política Burguesa” e “ O Capitalismo Internacional”.
“Foi a atividade política que me levou a publicar o resultado final de minhas pesquisas antes de mostrar o caminho longo empreendido através da história em busca de um sentido de existência que, no caos presente, apenas se vislumbra.
“Sobre as exigências cronológicas do tempo prevaleceu a exigência fundamental do momento em que vivemos. Eis porque ainda me resta publicar o primeiro dos volumes pensados, “Duas Civilizações”, em que traço um paralelo entre a política romana e a grega(1).
Ao invés, portanto, de ser consultado após a leitura de “Atualidades de um Mundo Antigo”(o “Duas Civilizações” do Prefácio citado acima), de “Formação da Política Burguesa” e de “O Capitalismo Internacional”, que introduziriam o material necessário para uma plena compreensão de “O Estado Moderno”, este foi e ainda é lido em primeiro lugar, e os demais posteriormente, quando são lidos... Perde-se assim o sentido de conjunto das Obras citadas, que constituem, sem exagero, uma Tetralogia Integralista Realeana. Obras posteriores que chegaram a ser anunciadas, mas, que não foram publicadas, devido a funesta implantação do Estado Novo, “Concepção Integral do Direito”, e “O Estado Integral Brasileiro”, certamente aprofundariam tais estudos, e se tivessem vindo a lume, teríamos que falar em Hexalogia.e não em Tetralogia. Mas, em 1940, ainda na vigência do totalitarismo estadonovista ele edita “Fundamentos do Direito” e “Teoria do Direito e do Estado”, que trazem mais dados para a compreensão do Estado na concepção do insigne Miguel Reale.

Outro fator que oblitera o entendimento correto de “O Estado Moderno”, é que seu Autor faz larga e positiva alusão ao Estado fascista, e, obviamente, as inteligências simplistas deduzem: Miguel Reale elogia o fascismo, logo, ele é fascista; o fascismo é corporativista, o Integralismo também, logo, o Integralismo é fascista. Pronto e acabou-se! Lamentavelmente, este raciocínio obtuso é compartilhado por muita gente com título acadêmico, o que demonstra que não basta ter um curso superior para tornar alguém inteligente.

Antes de nos debruçarmos sobre “O Estado Moderno”, façamos um esclarecimento preliminar: O Corporativismo não é e nunca foi uma exclusividade do fascismo italiano. Existem e sempre existiram diversas correntes de pensamento corporativo, sendo o fascismo apenas UMA delas. A literatura corporativista é vasta, em diversos idiomas. Mesmo na Itália, entre os próprios teóricos fascistas, não havia unanimidade no pensamento corporativista. Constitui grave erro científico tentar ignorar as especificidades de cada corrente corporativa e as variações dentro de uma mesma corrente.

Mas, tentemos desfazer esta confusão criada pelas mentes simplistas dos acadêmicos que pontificam em nossas Universidades, examinando “O Estado Moderno”, buscando verificar se existem elementos que endossem a acusação de serem fascistas, o saudoso Companheiro Miguel Reale e o Integralismo.

A Obra “O Estado Moderno” está dividida em quatro partes, que o Autor designa como “ensaios”: Duas Épocas, O Estado demo-liberal, O Fenômeno fascista, e, Fundamentos do Estado Integral.

No 1º Ensaio, o Autor critica o naturalismo e o determinismo do liberalismo e do socialismo(2), os fragmentários conceitos do Homem(3), o unilateralismo das concepções vigentes até então(4). Mas, também assinala o surgimento de um novo espírito, que recusa as concepções e soluções parciais, buscando a realidade e as soluções orgânicas(5). É ainda neste Ensaio que faz a distinção importantíssima de “ser” e “dever ser”(6), e que afirma ser a Política Integral o conjunto de ciência política e moral(7).

O 2º Ensaio é dedicado a examinar o Estado Liberal Democrático. Assim, passa em revista o contratualismo(8), a fisiocracia(9), a igualdade formal diante das leis(10), a concepção exclusivamente jurídica do Estado(11), a desigualdade social e econômica(12), a não intervenção do Estado na economia(13) e as desastrosas conseqüências de tal absenteísmo e a reação que suscitou nos explorados, que exigiram a substituição da fictícia “liberdade contratual” pelos realísticos contratos coletivos de trabalho(14). Ante os trustes e cartéis do Alto Capitalismo erguiam-se os Sindicatos e as Federações dos Trabalhadores(15). Não controlando a Economia, o Estado Liberal termina por ser controlado pelas forças econômicas(16). O Estado deixa de ser uma síntese de aspirações para ser um simples instrumento do internacionalismo capitalista(17). Os bancos controlam as economias nacionais, impondo seus ditames aos produtores, agricultores, comerciantes, operários, etc(18). O Estado super-nacionalista capitalista dirige de fato os Estados ditos nacionais(19). Aborda também a adoção do liberalismo no Brasil e o artificialismo político que engendrou(20).

No “O Fenômeno fascista” – que é o 3º Ensaio – começa criticando aqueles que, ao estudarem o fascismo, o nazismo, o integralismo e o bolchevismo se prendem a um ponto de vista – jurídico, financeiro, econômico, etc. -, pois, tal reduzido campo visual não dá conta da totalidade do real, não abrange tais fenômenos na amplitude de suas manifestações(21). Em seguida, vai tratar das fontes do fascismo(22), versa sobre o sindicalismo(23), estatismo(24), o nacionalismo e o socialismo(25), o solidarismo(26) e o fascismo propriamente dito(27).

Finalmente, no Ensaio IV, “Fundamentos do Estado Integral”, sintetiza magistralmente o Estado Integralista. Principia conceituando o Estado(28), depois fala-nos do Estado Ético(29), da Economia Dirigida(30), da Democracia Integral(31), novamente do sindicalismo(32), e, termina com “O Integralismo e o Brasil”(33).

O simples exame do resumo – imperfeito, reconheço -, feito acima já nos demonstra a estultície dos que pretendem reduzir “O Estado Moderno” a mera literatura de propaganda do fascismo. Trata-se de Obra complexa e de leitura indispensável a todos os que querem pensar política e realisticamente o Brasil. A própria necessidade sentida pelo Autor de expor fascismo e Integralismo em Ensaios separados, já indicaria ao leitor sem idéias pré-concebidas que Miguel Reale entendia não serem idênticos, a despeito de quaisquer semelhanças reais ou aparentes ou circunstanciais. Todavia, o preconceito ideológico de liberais e marxistas não permite independência de vistas.

Mas, entremos num dos aspectos que, segundo os pseudo-estudiosos do Sigma, prova ser Integralismo e fascismo a mesma coisa, o corporativismo. O que nos diz Reale – na Obra que estamos comentando – sobre isso? Será que ele sustenta que o corporativismo fascista é igual ao do Integralismo? Vejamos.

Esclarece que o sindicalismo fascista difere do sindicalismo socialista, pois, deixa de ser o instrumento de um partido e da luta de classes, para ser órgão de participação dos produtores no Estado(34). Mas, o Estado Fascista afirma-se Estado Totalitário(35), em que o indivíduo é apenas um meio através do qual o Estado atinge seus fins próprios(36). É o Estado absorvente(37), sintetizado na fórmula “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”(38). Ora, apesar dessas é de outras opiniões críticas – que por brevidade, não abordamos -, Miguel Reale, com a largueza de vistas que sempre o caracterizou, assinala que existem vozes discordantes dentro do fascismo, que não concordam com o totalitarismo de Estado e que indicam outros rumos à revolução fascista(39), bem como tece elogios ao próprio Benito Mussolini(40). Tal atitude superior não pode ser aceita pelas mentes medíocres, que jamais conseguem ir além dos próprios preconceitos, que só vêem nas suas críticas uma dissimulação de sua verdadeira posição, a fascista. É triste, mas somos forçados a reconhecer que a deformação ideológica de certos indivíduos os incapacitam a ver os fatos como eles são. No entanto, só pelo que deixamos sintetizado neste parágrafo, qualquer pessoa inteligente já deduziria que o Estado Ético do Integralismo, o Estado Integral, não é idêntico ao Estado Totalitário do fascismo.

Agora, verifiquemos o que diz sobre o Estado Corporativo Integralista:
Também no Integralismo, os Sindicatos deixam de ser instrumentos na luta de classes, e assumem, então, funções políticas, econômicas, éticas e culturais(41). Dos Sindicatos, de base Municipal, passa-se para as Federações, Confederações, Corporações até chegar-se a Câmara Corporativa Nacional(42). Todavia, a Nação não é unicamente vida econômica, logo, ao lado da representação econômica deve existir a representação das categorias não-econômicas(43). E aí encontramos outra diferença fundamental em relação ao fascismo, pois, o corporativismo integralista não é exclusivamente econômico(44). O Integralismo não visa abolir a Democracia, pelo contrário, pretende instaurar o verdadeiro regime democrático(45). O Estado Integral é o Estado Ético, isto é, o Estado que é subordinado à moral, ao contrário do Estado hegeliano em que a moral é que se subordina ao Estado(46).

O confronto entre os dois sistemas corporativos, o fascista e o Integralista – conforme a exposição de Miguel Reale, que estamos resumindo -, evidencia que são bastante dissemelhantes e que a acusação de que o Integralismo copia o corporativismo fascista é insustentável, falsa mesmo, e só pode provir ou da má-fé ou da ignorância.

Até aqui acompanhamos “O Estado Moderno”, e a conclusão que chegamos, rigorosamente verdadeira, de que não são idênticos os corporativismos fascista e Integralista, impõe-se naturalmente a todos aqueles que ainda conseguem raciocinar por si mesmos. Mas, para que não reste dúvida, seguiremos a sugestão do próprio Miguel Reale que recomenda a leitura de “ABC do Integralismo” para melhor compreensão do corporativismo integralista(47).

No “ABC do Integralismo”, Miguel Reale dedica todo um Capítulo, denominado “Em Lugar dos Partidos, as Corporações”, a expor, em linguagem popular, o corporativismo integralista(48). E aí encontramos, porém, com maior desenvolvimento, todos os ítens que extraímos de “O Estado Moderno”, isto é, os sindicatos radicados nos Municípios(49), e as subsequentes esferas representativas, as Federações, nas províncias, e as Confederações e Corporações, no âmbito nacional(50), tendo por remate a Câmara Corporativa(51). Assim, realiza-se a verdadeira democracia(52). A representação corporativa no Integralismo, não contempla apenas as categorias econômicas, mas, também as corporações não econômicas, cujo mais alto órgão de expressão será o Conselho Nacional(53). Definindo claramente o que distíngüe o corporativismo fascista do Integralista, ele vai dizer:
“O corporativismo pregado pelo Integralismo é mais completo que o fascista, pois não consideramos apenas as corporações econômicas, mas também as corporações sociais e culturais da Nação, como as Igrejas, o exército, a magistratura, as sociedades das ciências e das artes.
“De mais a mais, enquanto na Itália ainda subsiste um Senado de base não corporativa e um Conselho originado do Partido Fascista (fora das corporações), nós Integralistas proclamamos que só é legítimo o poder constituído sobre alicerces corporativos.
“As corporações, portanto, não serão, no Brasil, subordinadas a um poder político de origem não corporativista: as próprias corporações serão o Estado”(54).

Finalizando, cremos que não haverá mais dúvida possível, os Corporativismos Integralista e fascista são dois sistemas distintos de organização do Estado, não havendo a menor possibilidade de um ser cópia do outro, pois, além de uma estrutura diversa, colimam finalidades diferentes. Como dissemos, existem variadas escolas corporativistas, que certamente compartilham alguns valores universais, como por exemplo a concepção grupalista da sociedade, que se contrapõe ao individualismo liberal e ao coletivismo socialista, mas, o Corporativismo Integralista é uma genuína e original construção de pensadores Brasileiros, e inteiramente adequado a nossa realidade, não é uma ideologia estrangeira importada e totalmente divorciada das reais necessidades do Povo Brasileiro, como o são o liberalismo, o socialismo, o anarquismo, etc. E se não fosse fugir por completo aos fins e aos limites deste trabalho, poderiamos aduzir mais elementos comprobatórios da não identidade entre Integralismo e fascismo, não só das demais Obras de Miguel Reale, mas, também das de Plínio Salgado, Gustavo Barroso, Tasso da Silveira, Anor Butler Maciel, Oswaldo Gouveia, Mourão Filho, Ferdinando Martino Filho, Jaime Regalo Pereira, Contreira Rodrigues, Cotrim Neto, Jaime Ferreira da Silva e tantos outros. Mas, cremos que aquilo que aqui sintetizamos da Obra de Miguel Reale é mais do que suficiente e não nos esqueçamos que, quando ele escreveu “O Estado Moderno” – e o “ABC do Integralismo”, também -, ele era o Secretário Nacional de Doutrina da Ação Integralista Brasileira, o que dá cunho oficial as suas palavras. Termino afirmando que Integralismo e fascismo não são a mesma coisa e quem disser o contrário é um imbecil.

Anauê!

* Σ – Comerciante – Rio de Janeiro(RJ).

Palestra proferida na Sede dos Núcleos Integralistas do Estado do Rio de Janeiro – NIERJ, em 2009.

Notas:
1 REALE, Miguel. O Estado Moderno. 3. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935; página 9.
2 REALE, Miguel. O Estado Moderno. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1934; página 11 e seguintes, e página 23 e seguintes.
3 REALE, Miguel, 1934, páginas 20 e 21.
4 REALE, Miguel, 1934, página 28 e seguintes.
5 REALE, Miguel, 1934, páginas 29, 30, 32, 54 e seguintes.
6 REALE, Miguel, 1934, página 42 e seguintes.
7 REALE, Miguel, 1934, página 48.
8 REALE, Miguel, 1934, página 65 e seguintes.
9 REALE, Miguel, 1934, página 72 e seguintes.
10 REALE, Miguel, 1934, página 85 e seguintes.
11 REALE, Miguel, 1934, página 93 e seguintes.
12 REALE, Miguel, 1934, página 95 e seguintes.
13 REALE, Miguel, 1934, páginas 96 e 97; páginas 102 e seguintes.
14 REALE, Miguel, 1934, páginas 98 e seguintes.
15 REALE, Miguel, 1934, página 100.
16 REALE, Miguel, 1934, páginas 100 e seguintes.
17 REALE, Miguel, 1934, páginas 116 e seguintes.
18 REALE, Miguel, 1934, página 121.
19 REALE, Miguel, 1934, página 122.
20 REALE, Miguel, 1934, página 124 e seguintes.
21 REALE, Miguel, 1934, páginas 133 e 134.
22 REALE, Miguel, 1934, página 134 e seguintes.
23 REALE, Miguel, 1934, página 134 e seguintes.
24 REALE, Miguel, 1934, página 145 e seguintes.
25 REALE, Miguel, 1934, página 158 e seguintes.
26 REALE, Miguel, 1934, página 167 e seguintes.
27 REALE, Miguel, 1934, página 172 e seguintes.
28 REALE, Miguel, 1934, página 179 e seguintes.
29 REALE, Miguel, 1934, página 192 e seguintes.
30 REALE, Miguel, 1934, página 200 e seguintes.
31 REALE, Miguel, 1934, página 213 e seguintes.
32 REALE, Miguel, 1934, página 224 e seguintes.
33 REALE, Miguel, 1934, página 234 e seguintes.
34 REALE, Miguel, 1934, páginas 134, 135 e 136.
35 REALE, Miguel, 1934, páginas 184 e 185.
36 REALE, Miguel, 1934, página 184.
37 REALE, Miguel, 1934, página 185.
38 REALE, Miguel, 1934, página 185.
39 REALE, Miguel, 1934, páginas 185 e 186.
40 REALE, Miguel, 1934, páginas 172 e 173.
41 REALE, Miguel, 1934, páginas 232 e 233.
42 REALE, Miguel, 1934, páginas 218 e seguintes.
43 REALE, Miguel, 1935, páginas 199 e 200.
44 REALE, Miguel, 1935, nota 1, páginas 199 e 200.
45 REALE, Miguel, 1934, página 219 e seguintes.
46 REALE, Miguel, 1934, páginas, 197, 198 e 199.
47 REALE, Miguel, 1935, nota 1, página 200.
48 REALE, Miguel. ABC do Integralismo. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, páginas 71 e seguintes.
49 REALE, Miguel. ABC do Integralismo, páginas 78, 79, 81 até 87.
50 REALE, Miguel. ABC do Integralismo, páginas 78,79, 90 e seguintes.
51 REALE, Miguel. ABC do Integralismo, página 89.
52 REALE, Miguel. ABC do Integralismo, página 79 e 91.
53 REALE, Miguel. ABC do Integralismo, página 89.
54 REALE, Miguel. ABC do Integralismo, páginas 88 e 89.


sexta-feira, fevereiro 29, 2008

O Integralismo para o Século XXI

O Integralismo para o Século XXI.
Marcelo B. Silveira
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira
O Integralismo brasileiro, de inspiração Tomista e tendência republicana, surgiu na década de trinta do século passado num momento extremamente propício ao que ele representava. Era uma época de indefinição política. Momento em que o pensamento de homens como Oliveira Viana, Francisco Campos, Mário de Andrade, entre muitos outros, tinha forte influência no meio intelectual. A Ação Integralista Brasileira, meritoriamente soube catalisar muito bem as ansiedades gerais brasileiras em torno da real necessidade da nação amparar-se num Estado forte, propondo-se como um meio perfeito para instrumentá-lo efetivamente, buscando a solução dos graves problemas nacionais de natureza social, econômica, política e moral. Previu os excessos do capitalismo, numa época que poderia ser definida como pré-capitalista; antecipou as mazelas do cosmopolitismo, inseridas no contexto de um país ainda prestes a entrar numa era industrial em maior plenitude; alertou para a conseqüência dos dois anteriores, com os enormes riscos do avanço do marxismo e da lavagem cerebral de adeptos comunistas disfarçados como camaleões nas mais diversas esferas da sociedade; defendeu acertadamente a substituição do Estado liberal democrático e dos partidos políticos por estruturas corporativas nacionais e, principalmente, fez o maior chamado da História do Brasil, até hoje sem qualquer paralelo, para nosso povo emergir da sua secular condição de coadjuvante, finalmente assumindo seu devido papel, nos colocando entre as nações poderosas e predestinadas pelo Criador.
Observando tudo isso, e apesar dos diversos acontecimentos das últimas sete décadas registrados pela história, constatamos que continua mais atual do que nunca a idéia do Estado Integral e dos antigos ideais Integralistas. Por acaso, não temos sido vítimas passivas do imperialismo das nações hegemônicas forjado por uma determinada, e muito bem conhecida, oligarquia financeira? Não vemos agora, quase quatro décadas após a contra-revolução de 1964, o socialismo internacional, fortemente inspirado por Gramsci, partir para mais um insidioso intento de subversão em nosso país? Não presenciamos a prevalência do nefasto coronelismo e da clientela em diversas regiões do solo pátrio? Não notamos com clareza, a continuidade dos mesmos velhos e surrados esquemas políticos e a atuação de partidos que não passam de meras legendas de aluguel sem qualquer sentido social ou institucional? Enganam-se redondamente, pois, aqueles que dizem estar o Integralismo ultrapassado, e que um apelo à volta daqueles antigos ideais, seria como um "regressismo". Essas opiniões, quando não de pobres ignorantes, partem de grupos ou indivíduos ideologicamente comprometidos com quem não tem compromisso nenhum com o Brasil. Essa é a grande verdade!
Portanto, a realidade, respeitando as limitações de sua época, veio cobrir de razão aos primeiros Integralistas que elaboraram uma doutrina que transcende Eras e jamais vai perder a atualidade. Da mesma forma, se faz mais vivo do que nunca um questionamento do chamado projeto iluminista de racionalidade, que não trouxe felicidade alguma à humanidade; mas, que muito pelo contrário, está a descaracterizando continuadamente e a levando, dessa forma, rumo ao mais profundo abismo.
Porém, mesmo o quadro vigente sendo gravíssimo, e observando todas as adversidades repletas nos caminhos que teremos a trilhar, doravante creio do fundo do meu espírito que temos possibilidades extraordinárias pela frente. O mais importante, nesse momento, é a serenidade aliada à coragem. Coragem para colocar as coisas no seu devido lugar e para encarar frente a frente esse bando de nulidades, parafraseando Rui Barbosa, hoje representantes do sistema liberal democrático vigente. Espelho de povos decadentes e mentes impregnadas de valores esquerdistas e fisiologistas, quando não demagogos desonestos, corruptos e aburguesados na sua forma mais vil e dolosa. Vemos com revolta e pesar que os maiores inimigos do Brasil, estas conhecidas prostitutas intelectuais, estão hoje enquistados de forma dominante na política, nas academias e na mídia de massa. Sempre com um discurso barato e repetitivo, repleto de vagas e vãs considerações filosóficas sobre "democracia" e "liberdade". Sempre com interpretações deturpadas sobre o Integralismo e acusações mentirosas na ponta da língua contra os verdadeiros defensores da pátria.
Companheiros, teremos que encará-los de frente sem aceitar intimidações! Mantenhamos a obstinação e a cabeça erguida sendo a única real voz dissidente e mudemos o curso da história! Estejam certos que nada disso é impossível!
A importância do trabalho, que deve alicerçar e dar base para o futuro de uma verdadeira ação Integralista faz sentir intimamente a necessidade de buscar serenidade e humildade, qualidades que nesse momento são imperativas, pois, com o conhecimento da importância para a história do país que carregam homens de vulto como Plínio Salgado, Gustavo Barroso, Miguel Reale, Olbiano Melo, Luís da Câmara Cascudo, Dom Hélder Câmara, Tasso da Silveira, entre outros, cuja memória reverenciamos, homens de gênio, constatamos que as atenções e as responsabilidades de agora se tornam redobradas. Pois, ao mesmo tempo, que não podemos abrir mão de princípios básicos, perenes e atemporais; urge a obrigatoriedade de darmos ao Integralismo a feição do século XXI sem correr o risco de mantermo-nos fossilizados numa nostalgia infrutífera, irrealista e anacrônica. E isso não diz respeito, de forma alguma, a exterioridades ou tipos de mídia e propaganda que surgiram graças aos avanços tecnológicos e que, no momento oportuno serão úteis. Mas aos exemplos e lições extraídos da história, e na ponderada reflexão que deverá traduzir-se na lucidez que deveremos ter para interpretar a palavra dos nossos mestres inspiradores com base na atualidade e inclusive, sabendo utilizar neologismos e eufemismos, quando necessários, para não incorrermos na possibilidade de sermos erroneamente interpretados. Antes de qualquer coisa, temos que ter ciência que deveremos optar por meios diferentes para atingirmos o mesmo fim.
Mas é necessário estarmos preparados para armadilhas e mentiras. Precisamos mudar nossa mente e voltarmos nossas atenções para uma constante vigilância. Devemos fazer um chamado à consciência questionando se realmente temos feito pelo Movimento o que nos cabe e está dentro de nossas possibilidades. Devemos ter fé na inacreditável força adormecida, no poderoso legado que nos foi deixado. Para isso, temos que mudar nossa atitude frente aos obstáculos e à forma de nós empreendermos essa luta árdua. Pois, a revolução interior pregada no passado pelos dois maiores homens do Integralismo, Plínio Salgado e Gustavo Barroso, deve ser agora revivida para essa nova geração tão carente de valores e referenciais. Para essa juventude completamente alienada, que está cada vez mais se apequenando às ilusões de um hedonismo cego sem qualquer noção de abnegação ou espírito de sacrifício pelo bem comum. Para essa burguesia podre e incapaz de enxergar que, enquanto uma enorme massa de compatriotas se encontra na mais abjeta miséria, andarilhos e miseráveis; certos apátridas detentores do poder financeiro internacional, seguros em seus abrigos e mansões, manipulam a política a nível mundial concomitantemente à imposição de um despotismo global que, não tenham dúvidas, pode levar o planeta ao período mais negro de toda sua história.
Brasileiros, o Integralismo, mais do que nunca, É A MAIOR DAS RESISTÊNCIAS!

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Democracia Orgânica

Democracia Orgânica.
Maria Amélia Salgado Loureiro (coordenadora).
Que quer dizer democracia?
Etimologicamente, Democracia é o governo do povo. O que supõe o reconhecimento efetivo das prerrogativas da Pessoa Humana e a participação mais direta dos cidadãos no governo do Estado. Essa participação se processa através do voto.
É este o sentido que as diversas correntes políticas conferem à Democracia?
A palavra Democracia, em nossos dias, recebeu significações substancialmente diferentes e até mesmo contraditórias, de acordo com a filosofia de vida esposada por cada regime político. Assim, pouco tem de comum a liberal-democracia, as democracias populares (marxistas) e a democracia cristã. Quase sempre, porém, a palavra democracia encobre um regime político anti-humano e, portanto, anti-democrático.
Quais os elementos necessários para que um regime seja democrático?
Três são esses elementos:
a) Representação;
b) Voto;
c) Igualdade de direitos.
O que é a Democracia para o Integralismo?
É uma democracia de conseqüências; é um efeito, jamais uma causa. Sua fonte são os princípios, a doutrina, as regras originárias de uma concepção de vida. A Democracia, para o Integralismo é, antes de tudo, uma declaração de princípios cristãos.
Qual o papel da verdadeira Democracia?
A democracia pregada pelo Integralismo, a única exeqüível, vivifica a liberdade do homem e autoridade do Estado, fazendo a primeiro fundamento da segunda e a segunda, condição da primeira. Sua base está em Deus e a sua inspiração nos ensinamentos do Evangelho.
Outorga a democracia pregada pelo integralismo liberdade aos cidadãos?
Sim. Menos a de utilizar essa liberdade para implantar regimes que contrariem aqueles seus princípios fundamentais.
Mas com esse condicionamento não estará negando os princípios democráticos?
Jamais. A liberdade sem freios é a mãe de todos os totalitarismos, a destruição da própria liberdade. O que pregamos hoje é o que se pregava na Grécia antiga, isto é, a defesa da democracia contra os perigos da liberdade que levam à anarquia, da anarquia que incita às reivindicações extremas de igualdade, e da igualdade que produz o domínio de um só ou de alguns, sobre a multidão escravizada.
Democracia e forma de governo tem a mesma significação?
Não. Democracia, que é regime, não se confunde com forma de governo. A forma de governo pode ser monárquica ou republicana. No Brasil, temos um regime democrático e uma forma de governo republicana.
Pode-se confundir Democracia com modo de votar?
De maneira nenhuma. Há diversos tipos de voto num regime democrático: o voto direto e o indireto, o sufrágio universal e o profissional. No Brasil, temos usado o sufrágio universal, isto é, o voto direto e geral.
O Integralismo é pelo sufrágio universal?
O integralismo prega outro tipo de voto, porque sabe que o voto universal favorece a vitória dos que dispõe de mais dinheiro, deturpando assim a verdadeira expressão da vontade popular.
Qual o tipo de voto pregado pelo Integralismo?
O voto indireto: os eleitos vão constituir Câmaras que escolhem os administradores, ao invés de serem esses escolhidos diretamente pelo eleitor. Pregamos o voto profissional porque melhor e mais fielmente traduz a defesa dos interesses do povo. Isto quer dizer que a forma do estado que desejamos é constituída dos organismos profissionais, culturais, familiares e religiosos, cada qual elegendo seus representantes pelos votos de classe e qualidade. É o que denominamos Democracia Orgânica.
Quem, pois, participa do Governo do Estado na Democracia Orgânica?
Quem participa do Governo do Estado não é a massa amorfa, mas o homem livre e consciente, enquanto integrado nos grupos naturais, isto é, o povo.
O que vem a ser a Câmara Orgânica?
É a Câmara formada pelos representantes das diversas categorias profissionais.
Por que o Integralismo pugna pela formação da Câmara Orgânica?
Porque entende que somente os componentes de cada categoria profissional podem, na verdade, conhecer os problemas específicos de sua classe, pois que os sentem na própria carne.
Como assim?
Está claro: um metalúrgico entende muito mais de seus próprios problemas do que um tecelão; o médico sabe mais de suas próprias necessidades que o engenheiro; este mais que o advogado e assim por diante. Podemos exemplificar com os órgãos do corpo humano: aos rins cabe a tarefa de filtro e para isso ele está aparelhado convenientemente; assim, acontece ao coração, ao pulmão, ao fígado. Todos são órgãos vitais, mas não poderão jamais cumprir a tarefa de outros. É da correta realização de suas funções e da harmonia entre todas essas mesmas funções, que resulta a saúde do corpo humano.
O que se entende por Câmara Política?
É a Câmara destinada a legislar, dar forma legal, às proposituras elaboradas pela Câmara Orgânica.
Qual a estrutura da Câmara Orgânica?
A Câmara Orgânica, constituída pelos representantes diretos das categorias econômicas e culturais da Nação, eleitos por seus pares, funcionará como órgão técnico de assessoria das outras casas do Congresso e poderá ter iniciativa de projetos de lei, que serão enviados à Câmara dos Deputados, a qual ajuizará de sua constitucionalidade.Será um órgão de grande precisão técnica ao contrário do que sucede atualmente nas comissões permanentes da Câmara dos Deputados e do Senado.
Como assim?
Adotando-se nessas Casas o critério político, vemos advogados em comissões de Minas e Energia ou Saúde; médicos ou engenheiros em comissões de Justiça; comerciantes em comissões de Educação; professores em comissão de Transporte e assim por diante.
E a conseqüência desse estado de coisas?
Os estudos são feitos de improviso, pois somente ao cabo de um ou dois anos o membro da comissão vai entrando no assunto, porque falta-lhe a vivência deles.
E quanto ao Poder Executivo?
Aí se recrutam técnicos e teóricos, leitores de livros soezes em citações de autores e mais versados em algarismos frios de estatísticas do que na palpitante realidade humana dos fatos, mais apegados a conceitos e aforismas de doutrinas muitas vezes superadas, do que ao sincero desejo de pesquisar e sobretudo de ouvir e ver o que na verdade se passa no País.
E com a Câmara Orgânica?
Na Câmara Orgânica estarão os homens em cuja própria carne doem os problemas. Se uma categoria pleiteia uma reivindicação para sua área, o que pode ser em detrimento de outras, aí estão todas as categorias para debater e questão e encontrar a linha de equilíbrio, tendo em vista, antes de mais nada, o interesse supremo da Pátria.
A Câmara Orgânica não diminuirá os poderes e prerrogativas da Câmara e do Senado?
Ao contrário, virá fortalecê-los, complementando-os como assessoria técnica e corrigindo a inexpressividade do sufrágio universal, cujos representantes nada mais exprimem do que as correntes de opinião do País, mas não, especificamente, os interesses de qualquer das categorias componentes do corpo vivo da Nação.
Existirá outra vantagem com a formação da Câmara Orgânica?
Sim. Não mais poder-se-ão ouvir as queixas da agricultura, da indústria, do comércio, do operariado, do funcionalismo,das entidades culturais contra o Congresso ou o Poder Executivo, alegando que não foram consultados ao se tomarem certas deliberações, pois se lhes foi conferido uma parcela de responsabilidade nas decisões legislativas ou governamentais.
Plínio Salgado teve a oportunidade de apresentar o Projeto da Câmara Orgânica ao Parlamento?
Sim. Através da Emenda Constitucional número 609, assim redigida:
Ao artigo 28 do capítulo VI do projeto de Constituição de iniciativa do Poder Executivo, acrescentando-se:
"e da Câmara Orgânica".
Onde convier:
Art. A Câmara Orgânica será constituída pelos representantes diretos das categorias econômicas e culturais da Nação, eleitos pelos órgãos de classe, em número de dois para cada uma e com as mesmas prerrogativas dos membros do Congresso.
Art. A Câmara Orgânica funcionará como órgão técnico de assessoramento das outras Casas do Congresso e poderá ter iniciativa de projetos de lei que serão enviados à Câmara dos Deputados, a qual ajuizará de sua constitucionalidade e jurisdicidade.
Art. A manutenção da Câmara Orgânica correrá por conta das categorias representadas, na forma estabelecida em lei.
Art. São consideradas categorias econômicas as atuais Federações e Confederações das classes patronais e de empregados.
Art. São consideradas categorias culturais as instituições de cultura nos diversos ramos científicos, técnicos, literários e artísticos e as entidades representativas das profissões liberais.
Art. Os projetos oriundos de uma categoria deverão ser discutidos com a participação de todas, visando-se evitar desequilíbrio resultantes das implicações que a medida legislativa proposta possa ter sobre outros setores da vida nacional.
Art. Nenhuma lei que se relacione com qualquer das categorias econômicas e culturais do País poderá ser aprovada sem parecer prévio da Câmara Orgânica.
Parágrafo Único. Os pareceres da Câmara Orgânica sobre projetos oriundos da Câmara dos Deputados, do Senado ou do Poder Executivo, terão caráter opinativo.
Art. O Poder Executivo deverá ouvir a Câmara Orgânica sobre matérias de decretos ou instruções que afetem interesses das categorias econômicas e culturais da Nação.
Art. Em cada Estado da União haverá uma Câmara Orgânica Regional, eleita pelas federações de classes, a qual se organizará e funcionará de acordo com os artigos precedentes, nos assuntos relativos à competência das Assembléias Legislativas e do Governo do Estado.

(Excertos do Livro Coordenado por Maria Amélia Salgado Loureiro, “O Integralismo. Síntese do Pensamento Político Doutrinário de Plínio Salgado” – São Paulo – Voz do Oeste – 1981 – 80 págs. – il.; págs. 60, 61, 62, 63, 66, 67, 69 e 70).