terça-feira, março 31, 2015

Marx está morto!


Victor Emanuel Vilela Barbuy

O século XIX foi o século burguês por excelência. Foi o apogeu desta civilização inautêntica cujo cadáver carregamos hoje e caracterizada pela crença inabalável nos mitos do progresso indefinido [1], do cientificismo, do tecnicismo e do economicismo e por um imperialismo fundado no poderio econômico e militar e justificado pela crença supostamente científica na superioridade irredutível de determinados povos sobre outros.

O século XIX foi marcado, assim como o século que o precedeu, pelo progresso técnico, econômico e científico e pela decadência moral, ética e social; pela absurda ideia de que se constrói o futuro rejeitando o passado e de que o Homem de então era superior a seus antepassados, ideia ainda seguida por aqueles que não percebem que não há verdadeiro progresso sem Tradição e de que não se torna uma Nação maior vilipendiando a memória daqueles que a fundaram.

O século XIX foi o século, por fim, das visões unilaterais do Universo e do Homem; da rejeição de toda ordem transcendente; das legislações inautênticas, avessas aos espíritos nacionais, às constituições não escritas que são as tradições integrais das nações; do destronamento de Cristo e da entronização do dinheiro, do número e da máquina.

Ninguém representa melhor o século XIX do que Karl Marx, o eterno burguês, defensor do materialismo absoluto, que acreditou como poucos nos mitos do cientificismo, do tecnicismo e do progresso indefinido, tudo explicou pelo fator econômico, e foi um homem profundamente racista e etnocêntrico e um apologista do imperialismo, do mesmo imperialismo que seus discípulos, a partir de Lênin, tanto condenariam, a despeito de praticá-lo com impressionante brutalidade.

As concepções de Marx são, como ressalta Giovanni Gentile, concepções rigorosamente econômicas e materialistas para as quais "tudo aquilo que é humano é econômico, e ninguém tem o direito à existência se não é [economicamente] útil" [2], não atentando para o fato de que o fator "econômico não é humanidade, mas instrumento do homem", sendo útil tão somente enquanto serve a este [3]. Com efeito, como aduz Carl Schmitt, em O conceito do político, o sistema marxista é um sistema antes de tudo econômico, intentando pensar economicamente e permanecendo, por conseguinte, "no século XIX, o qual é essencialmente econômico" [4].

Nascido Moses Kiessel Mordechai Levi Marx a 5 de maio de 1818 na bucólica cidade renana de Trier, também conhecida como Trèves, seu nome francês, o futuro criador do socialismo "científico" era descendente, tanto pelo lado materno quanto pelo paterno, de importantes rabinos e talmudistas. Seu pai, o advogado Hirschel Marx, se converteria ao protestantismo, juntamente com toda a família, exceto a esposa, em 1824, mudando o nome para Heinrich em virtude das restrições então impostas aos não protestantes em geral e aos judeus em particular no Estado prussiano. Este, que anexara a católica Renânia após o Congresso de Viena, em 1815, reservava os cargos públicos aos protestantes, sendo que o pai de Marx era advogado do Estado.

Criado na Igreja Evangélica Prussiana, de orientação luterana, e ateu desde a juventude, após uma fase em que aparentou ser um cristão fervoroso, Karl Heinrich Marx, nome que recebeu ao ser batizado, foi, porém, como observa o intelectual anarquista judeu Bernard Lazare, "um talmudista lúcido e claro a quem as minúcias da prática não traziam qualquer embaraço. Um talmudista que se devotou à sociologia e aplicou as suas qualidades de exegeta à crítica da economia política animado pelo antigo materialismo hebraico" [5].

Marx foi o criador de uma ideologia essencialmente burguesa e somente compreensível enquanto fruto da árvore da burguesia, ideologia inautêntica que subsiste graças tão somente a seu caráter religioso [6]. Neste sentido, preleciona Heraldo Barbuy em Marxismo e Religião:

"Dentre as afirmações do marxismo, algumas são inverificáveis; outras, puderam ser confrontadas com a experiência e foram pela experiência refutadas. Mas no marxismo, tanto as proposições inverificáveis, quanto as que foram refutadas pela experiência, funcionam como um sistema religioso. As críticas racionais e a contestação do marxismo pelos fatos, têm sido completamente inúteis em face da eficiência que o sistema tira de seu caráter religioso" [7].

Ao contrário dos sistemas científicos, que perdem a vigência a partir do momento em que deixam de coincidir com a realidade, "os grandes credos coletivos não vivem", como observa o autor de O problema do Ser, "pela força de suas supostas verdades ou erros científicos, e sim pela fé que despertam" [8].

Como diria Guerreiro Ramos, em artigo publicado no Jornal do Brasil a 25 de novembro de 1979, o marxismo é "um culto popular", que "não é teoria nem ciência". O marxismo, afirma o sociólogo baiano, "é a mais influente força obscurantista da história contemporânea, que dificulta o esforço de ordenamento da vida nacional e internacional. Nos chamados regimes socialistas, onde o marxismo prevalece como ortodoxia, reina o obscurantismo e a chatice" [9].

O autoproclamado socialismo "científico", aliás, cem vezes mais utópico do que o socialismo a que os marxistas denominam "utópico", é uma religião inautêntica que tem em Marx o seu profeta, em O Capital e no Manifesto Comunista seus livros sagrados, no proletariado seu "povo eleito" e no comunismo seu paraíso.

Também é uma religião o bolchevismo, como, aliás, bem notou Plínio Salgado, que, em O sofrimento universal, sublinhou que a luta que este abrira contra as religiões no país dos sovietes fora "um movimento ao qual podemos denominar sem receio de erro: o grande movimento religioso da Rússia" [10].

O caráter religioso do bolchevismo, ainda mais pronunciado que o do próprio marxismo, se dá sobretudo em razão da influência que este recebeu do espírito profundamente místico da Santa Rússia e de seu povo.

Isto posto, insta ressaltar que o bolchevismo constitui, em diversos aspectos, - como o voluntarismo, o anti-imperialismo e a ideia de que o partido comunista se constituiria na vanguarda do proletariado, incapaz de fazer a "revolução" por si próprio - a própria negação das ideias de Marx, um determinista que acreditava que a massa faria a "revolução" por si mesma no momento em que chegasse ao limite a exploração capitalista e, além disso, um defensor do colonialismo. Além do mais, o bolchevismo, ideologia em que se pode sentir algo do cheiro da terra da pátria de Ivã, o Terrível, e de Pedro, o Grande, bem como do sangue e do suor de seu sofrido povo, foi, em diversos momentos, usado como mero instrumento do expansionismo russo, do mesmo expansionismo que Marx – homem profundamente russófobo – tanto temia e condenava. Por ironia do destino, o nome do pensador antipan-eslavista e antitsarista de Trier serviu de bandeira de luta para os tzares vermelhos do Kremlin, que, em nome do socialismo "científico", praticaram a política pan-eslavista e perseguiram o sonho de realizar, por meio da III Internacional, o antigo mito da Terceira Roma.
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Nietzsche viu no Cristianismo uma religião de escravos alicerçada no ressentimento, na inveja e no ódio por tudo aquilo que é grande e belo. Nós, por nossa vez, consideramos – da mesma forma que Max Scheler [11]– que o magno poeta-filósofo de Assim falava Zaratustra jamais compreendeu o verdadeiro sentido do Cristianismo, que é, com efeito, praticamente o contrário daquilo que julgava ser. Ou melhor, cremos que em certos momentos o profeta do Super-Homem até compreendeu, ainda que não integralmente, a mensagem de Cristo, julgando, porém, que ela houvesse sido deturpada por Paulo, a quem se referia como "o ódio de chandala encarnado, feito gênio, contra Roma, contra 'o mundo'", "o judeu, o eterno judeu par excellence" [12].

Isto posto, afirmamos que tudo aquilo que o autor de O anticristo e de A genealogia da moral escreveu contra o Cristianismo, ou contra aquilo a que denominava "cristianismo de Paulo", cai como uma luva para a fé antinatural criada por Marx, o eterno burguês, que se baseia no ódio de morte a tudo aquilo que é superior e nobre.

Marx e Nietzsche partiram ambos da dialética senhor-escravo. O autor de A ideologia alemã defendeu os escravos e seu modelo de Homem é o homo oeconomicus, o mesmo homo oeconomicus de seus mestres liberais Adam Smith e David Ricardo. Já o autor de Vontade de poder defendeu os senhores e, inspirado no "Único" de Stirner e no "Homem do Futuro" de Wagner, engendrou o Super-Homem, o Além do Homem.

Marx teve o mérito de apontar os erros e mazelas do capitalismo, este desumano sistema que engendrou a luta de classes, mercantilizou a propriedade e dessacralizou o Mundo, o transformando em um vasto mercado dominado pelo poder nefasto do dinheiro e que contém em si os germes da própria destruição. O autor de O Capital diagnosticou bem as doenças do Mundo Contemporâneo, mas o remédio que prescreveu para combatê-las causou mais males à Sociedade do que elas próprias.

Nietzsche, por seu turno, teve o mérito de combater o liberalismo, o coletivismo, o cientificismo, o comodismo e a ditadura do ouro, do número e da máquina, ou, em uma palavra, a civilização burguesa. Errou, porém, ao lutar contra o Cristianismo e divinizar o Homem. O sistema por ele criado é, da mesma forma que o marxista, uma religião: a religião do Super-Homem, do Eterno Retorno, da Vontade de Poder e da transmutação de todos os valores.

Tanto Marx quanto Nietzsche foram homens extremamente egocêntricos. O primeiro foi definido pelo poeta Heinrich Heine como um "deus ateu de si mesmo" [13] e nada é preciso dizer sobre o segundo, autor de Ecce Homo, verdadeiro monumento de egolatria escrito quando já se manifestavam claramente os sinais da demência que o destruiria.

Plínio Salgado, em alusão ao épico germânico medieval Nibelungenlied (Canção dos Nibelungos), principal das fontes que inspiraram Wagner a compor a monumental Trilogia do Anel, observa que os homens atrofiados de Marx, meras peças da grande máquina da Coletividade, não passam de anões de Nibelungen, ao passo que os homens hipertrofiados e divinizados de Nietzsche não são senão gigantes da montanha. Nós, que partimos de uma visão integral do Universo e do Homem, afirma em seguida o preclaro pensador patrício, "não queremos nem o anão, nem o gigante, mas, apenas, o Homem", "o Homem Integral" [14].

Havendo feito referência a Nietzsche, julgamos oportuno assinalar que foi este um filósofo em toda a extensão de significado que tal termo comporta, ao passo que Marx jamais passou de um pensador medíocre, consideravelmente inferior, por exemplo, a seus rivais "esquerdistas" Proudhon, Bakunin, Dühring, Lassale e Bruno Bauer, sem falar no seu próprio amigo Engels. O autor de O crepúsculo dos ídolos foi, ademais, um grande poeta, sobretudo em prosa, sendo Assim falava Zaratustra certamente o mais belo poema em prosa da Literatura alemã, enquanto o autor da Crítica à Filosofia do Direito de Hegel jamais passou de um poeta fracassado.

Chegou Marx a crer, com efeito, na juventude, que sua tragédia em versos, Oulanen, tornar-se-ia um novo Fausto [15]. Por essa época, enviou um poema ao Deutscher Musenalmanach (Almanaque Alemão de Musas), de Leipzig, que não o publicou. Resolveu então presentear o pai com toda a sua coleção de versos, mas este não apreciou muito a poesia do filho, afirmando que teria uma grande tristeza caso o visse como um "poetastro qualquer" [16]. Em 1841, dois poemas seus foram publicados no Athenaeum, de Berlim. Selvagens, apocalípticos e repletos de ódio, violência, vontade de destruição e ideias macabras como pactos de suicídio e pactos com o demônio [17], tais poemas, embora carentes de valor literário, têm importância na medida em que neles já estão presentes vários dos princípios do credo marxista.
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Marx foi um grande plagiário. Quase todos os seus ditos mais célebres foram, com efeito, copiados de outros pensadores. De Marat, tomou as frases "Os trabalhadores não têm pátria" e "Os proletários não têm nada a perder senão suas correntes". De Heine, pegou a frase "A religião é o ópio do povo". De Louis Blanc, proveio a fórmula "De cada um de acordo com suas habilidades, a cada um de acordo com suas necessidades". De Karl Schapper, roubou o lema "Trabalhadores de todo o Mundo, uni-vos!" e de Blanqui a expressão "ditadura do proletariado" [18]. O próprio Manifesto Comunista tem sido apontado, por intelectuais como Enrico Labriola, Georg Brandes, Georges Sorel e Tcherkezichvili, como sendo quase que integralmente um mero plágio do Manifesto Democrático de Victor Considerant, socialista "utópico" francês. Brandes chega a afirmar, aliás, que o Manifesto Comunista é "praticamente uma mera tradução [do manifesto] de Victor Considérant" [19].

Um dos mais graves defeitos de Marx, herdado, aliás, pela absoluta maioria de seus seguidores, é a mais completa desonestidade intelectual, que não se manifesta tão somente nos plágios, mas também no emprego das citações em seus trabalhos. Citemos as palavras do filósofo alemão Karl Jaspers:

"O estilo dos escritos [de Marx] não é o estilo da investigação, ou seja, a constante evocação das instâncias contrárias, a procura de fatos que falam contra a própria tese; mas esses escritos proclamam, de forma inequívoca, a verdade agora definitiva, e só apresentam o que a confirma. Constituem um pensamento de advogado de defesa e não um pensamento investigador, porém um pensamento de advogado que tem a certeza da verdade perfeita não em bases científicas, mas em virtude de fé" [20].

Em 1885, dois estudiosos de Cambridge produziram um artigo para o Clube Econômico de Cambridge intitulado Comentários sobre o uso dos Livros Azuis por Karl Marx no Capítulo XV de "Le Capital". O texto, produto de um estudo realizado com base na edição francesa revisada de O Capital (1872-75), demonstrou que o referido texto de Marx apresenta um desapreço quase criminoso no uso das fontes", permitindo que consideremos quaisquer "outras partes do trabalho de Marx com suspeição". Foi demonstrado, com efeito, que no capítulo de O Capital em apreço, algumas citações dos Livros Azuis da Biblioteca do Museu Britânico haviam sido "convenientemente reduzidas pela omissão de passagens que poderiam ser levantadas contra as conclusões que Marx tentava estabelecer". Ao mesmo tempo, Marx inseriu "citações fictícias" em sentenças isoladas contidas em diferentes partes de um relatório, e que, para burlar o leitor, eram colocadas "entre aspas invertidas com toda a autoridade das citações dos próprios Livros Azuis" [21].

No discurso inaugural da Associação Internacional dos Trabalhadores, em 1864, Marx adulterou criminosamente um trecho da mensagem orçamentária do Primeiro Ministro Britânico, William Gladstone, de 1863. Gladstone dissera que "veria quase com apreensão e dor este inebriante crescimento da riqueza e do poderio se acreditasse que está circunscrito à classe conservadora. A condição média do trabalhador, temos a felicidade de sabê-lo, melhorou nos últimos vinte anos, em um grau que sabemos extraordinário e que podemos quase qualificar como sem paralelo na história de qualquer país e de qualquer época" [22]. Marx, por seu turno, com a completa desonestidade intelectual que lhe era tão peculiar, fez Gladstone afirmar que "este inebriante crescimento da riqueza e do poderio está totalmente circunscrito à classe conservadora" [23].

A desonestidade intelectual está, contudo, muito longe de ser o único defeito de Marx. O grande deturpador da dialética hegeliana e criador da religião ateia do ódio, da violência e da baixeza moral que é o chamado socialismo "científico" foi um homem profundamente cínico, mesquinho, invejoso, interesseiro, violento, desleal e preguiçoso. Na juventude, teria portado irregularmente armas de duelo e tomado parte em pelo menos um duelo, além de ter passado um dia preso por desordens noturnas e embriaguez [24]. E mesmo com mais de quarenta anos, em 1860, ao se encontrar com Bruno Bauer, em Londres, Marx, após muito beber, pôs-se a atirar pedras nos lampiões, fugindo a toda brida assim que viu a polícia se aproximar [25].

O barbudo burguês de Trier jamais foi um operário ou mesmo pisou em uma fábrica e sempre foi profundamente hostil àqueles que o haviam feito, isto é, aos operários que adquiriam consciência política, em virtude de suas ideias moderadas de como se chegar a uma Sociedade mais justa, totalmente avessas ao extremismo de Marx [26].

Ao contrário do que sustentam diversos inocentes úteis, Marx, que chegou a gastar parte substancial da herança que recebeu do pai armando trabalhadores belgas [27], sempre foi um apologista da violência. No Manifesto Comunista, sustentou que os objetivos dos comunistas "só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente" [28]. No ano seguinte, dirigindo-se ao governo prussiano, disse: "Nós somos impiedosos e não pedimos clemência de vocês. Quando a nossa vez chegar, não disfarçaremos o nosso terrorismo". Em 1850, o Plano de Ação que distribuiu na Alemanha igualmente encorajava o emprego da violência: "Longe de nos opormos aos assim chamados excessos, aqueles exemplos de vingança popular contra indivíduos odiados ou edifícios públicos que adquiriram odiosas memórias, nós devemos não apenas perdoar tais exemplos, mas ainda dar a eles a nossa ajuda" [29]. Mais tarde, em O Capital, defendeu que "a violência é a parteira de toda velha sociedade que está prenhe de uma nova" [30].

Na luta contra os adversários políticos, Marx sempre seguiu o princípio maquiavélico segundo o qual os fins justificariam os meios. Impossibilitado de destruir o prestígio de Bakunin, cuja influência sobre os trabalhadores temia e invejava profundamente, o pensador socialista, com o intuito de desmoralizar publicamente o adversário, acusou, na Neue Rheinische Zeitung (Nova Gazeta Renana), o líder anarquista russo de ser um agente secreto da polícia tzarista, dando como fonte documentação que segundo ele estaria em mãos da escritora Amandine Aurore Lucile Dupin, mais conhecida pelo pseudônimo de George Sand. Ao tomar conhecimento da calúnia contra Bakunin, George Sand, indignada, exigiu de Marx imediata retratação e este se justificou afirmando que assim procedia "para defender o movimento socialista dos governos capitalistas" [31].

Com efeito, podemos afirmar, com Paul Johnson, que toda e qualquer coisa que aconteceu na União Soviética sob o regime de Stálin já estava prefigurada quase cem anos antes no comportamento de Marx [32]. Afirmamos, aliás, que a única diferença existente entre o "Guia Genial dos Povos" e o místico ateu de Trier reside no fato de que o primeiro chegou ao poder, se transformando no Tzar ou Cã Vermelho, ao passo que seu mestre jamais chegou sequer perto disso. E a mesma comparação poderíamos fazer entre Marx e Mao Zedong, o "Grande Timoneiro" da "Revolução" (anti)Chinesa, o Imperador Vermelho que fuzilou milhões na "Revolução" (anti)Cultural e matou ainda mais de fome durante o "Grande salto para a frente", que deveria ter se chamado "Grande salto para trás".

Nenhuma vítima de Marx foi, porém, maior do que a própria família. Dos seis filhos que teve com a esposa, Johanna "Jenny" von Westphalen, três morreram ainda na primeira infância, vítimas do estado de penúria a que foram submetidos por conta da leviandade e irresponsabilidade do pai, e dois outros - as filhas Eleanor e Jenny Laura – se suicidaram em 1898 e 1911, respectivamente. A outra filha, a jornalista Jenny Caroline, morrera, ao que parece vítima de câncer, em janeiro de 1883.

O último dos filhos de Marx a morrer foi Frederick "Freddie" Demuth, produto da relação extraconjugal do pensador "alemão" com a criada Helena "Lenschen" Demuth (que nunca recebeu um centavo de Marx) e cuja paternidade fora assumida por Engels para evitar um escândalo. "Freddie", que nasceu em 1851 e faleceu em 1929, só viu Marx uma única vez em sua vida.
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Em A questão judaica (1844), Marx afirma:

"Qual é o fundamento secular do judaísmo: A necessidade prática, o interesse egoísta.

Qual é o culto secular praticado pelo judeu? A usura. Qual o seu Deus secular? O dinheiro.

Pois bem, a emancipação da usura e do dinheiro, isto é, do judaísmo prático, real, seria a autoemancipação de nossa época.

(...) A emancipação dos judeus é, em última análise, a emancipação da humanidade do judaísmo.

(...) O judeu se emancipou à maneira judaica não só ao apropriar-se do poder do dinheiro como também, porque o dinheiro se converteu, através dele e à sua revelia, numa potência universal, e o espírito prático dos judeus no espírito prático dos povos cristãos. Os judeus se emanciparam na medida em que os cristãos se fizeram judeus.

(...) Qual era o fundamento da religião hebraica? A necessidade prática, o egoísmo.

(...) O Deus da necessidade prática e do egoísmo é o dinheiro.

O dinheiro é o Deus zeloso de Israel, diante do qual não pode prevalecer outro Deus.

(...) O Deus dos judeus se secularizou, converteu-se em Deus universal. A letra de câmbio é o Deus real dos judeus" [33].

O autor dos Manuscritos econômico-filosóficos, porém, jamais pode se emancipar do "Deus zeloso de Israel", que, segundo ele, se converteu, por meio da ação dos judeus, no "Deus universal" da sociedade burguesa. Suas egoísticas cartas à família e a Engels estão repletas, com efeito, de pedidos de dinheiro. Uma delas, escrita a Engels em princípios do ano de 1863, quando este perdeu Mary, sua companheira, quase pôs termo à amizade que unia os dois criadores do socialismo "científico".

Na referida carta, Marx dizia que ficara surpreendido e transtornado com o falecimento de Mary, que lembrava ser uma pessoa muito boa, de "humor sereno" e apegada ao amigo, mas logo em seguida passava egoisticamente a ocupar Engels com suas dificuldades econômicas. E assim concluía a carta: "De certo, sou horrivelmente egoísta contando-lhe minhas dificuldades em tal circunstância. Mas o remédio é homeopático; um mal expulsa o outro. E, afinal de contas, que posso fazer? Não poderia ter morrido, em lugar de tua Mary, minha mãe, que anda mal de saúde e já viveu bastante? Veja, a que pensamentos extravagantes chegam os homens, ditos civilizados, quando são oprimidos por certas circunstâncias" [34].

Engels sentiu-se bastante mal ao ler a carta de Marx, especialmente em virtude de haver recebido, após o falecimento de Mary, a afetuosa solicitude de diversos amigos dos quais não esperava tanto. E assim escreveu a Marx: "Você achou que esse momento era oportuno para fazer prevalecer seu gélido modo de pensar" [35].

Alguns dias mais tarde, Marx escreveu a Engels procurando se justificar e demonstrar arrependimento e então o autor de A origem da família, da propriedade privada e do Estado o perdoou, de modo que as relações entre os dois coautores do Manifesto Comunista voltaram a ser aquelas de sempre [36].
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Foi em nome dos ideais de Karl Marx que uma minoria organizada de agitadores fez a "Revolução" (anti)Russa de 1917, bem como todas as demais "revoluções" ditas socialistas do século XX, responsáveis pelo extermínio de mais de cem milhões de pessoas, vítimas dos fuzilamentos, das torturas, da fome e das doenças provocadas pela miséria.

Fora em nome das ideias de Jean-Jacques Rousseau que outra minoria de agitadores profissionais fizera a "Revolução" (anti)Francesa de 1789, que em poucos anos foi responsável pela execução de dezenas de milhares de pessoas, sem contar as vítimas das guerras civis e da chamada "Guerra Revolucionária", por ela provocadas, enquanto a tão demonizada Inquisição Espanhola em trezentos e trinta anos matou, segundo os mais insuspeitos historiadores, cerca de três mil pessoas.

Além de terem sido os principais inspiradores dos dois mais nefandos levantes contra a Tradição e a Ordem Natural das últimas centúrias, Rousseau e Marx têm mais semelhanças do que se imagina. Como frisa Henri de Man, a influência do autor de Do contrato social sobrevivia em Marx muito mais do que este admitia [37].

Consoante aduz o filósofo russo Nikolai Berdiaeff, "ao mito democrático do povo soberano, criado por Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx opõe o mito socialista do proletariado, classe messiânica, também intérprete da vontade geral, destinada a libertar e a salvar a humanidade". A despeito de se revestir de um caráter "manifestamente mitológico" e de se constituir em uma "sobrevivência inconsciente da visão israelita do povo eleito por Deus", a teoria marxista da luta de classes está um pouco menos distante da realidade do que a teoria de Rousseau, que imagina "uma vontade geral, infalível e soberana do povo na democracia. Esta infalibilidade, Marx transmite-a do povo soberano ao proletariado – mas, em verdade, nem num nem noutro ela existe" [38].

Felizmente, Oswald Spengler está certo: "Há já bastante tempo que Rousseau está esquecido. Marx o será em breve" [39].
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Não podemos encerrar o presente artigo sem abordar, ainda que sucintamente, a questão do racismo de Marx, bem como sua defesa do colonialismo europeu e estadunidense do Norte, produto da visão profundamente eurocêntrica do poeta fracassado de Trier.

A 15 de fevereiro de 1849, Marx publicou, na Neue Rheinische Zeitung, um artigo defendendo a agressão imperialista dos Estados Unidos da América contra o México, enaltecendo os estadunidenses do Norte como representantes da civilização e do progresso e atacando Bakunin, defensor dos mexicanos, por seu sentimento humanitarista. Acentuando o dinamismo da nação da bandeira das treze listras, Marx sustentou que não constituíra nenhum desastre o fato de "a bela Califórnia" haver sido "arrancada das mãos dos preguiçosos mexicanos". "A independência de alguns californianos pode sofrer com isso, a justiça e outros princípios morais podem ser feridos – mas isto conta, diante de tais realidades que são o domínio da história universal?", se indagava o amoral criador do marxismo [40].

Em 25 de junho de 1853, em célebre artigo publicado no New York Daily Tribune, Marx, dentro da visão eurocêntrica que lhe era tão peculiar, atacou virulentamente a cultura, a religião e a estrutura social da Índia, considerada um exemplo sólido daquilo a que denominava "despotismo oriental". O artigo, que trata a rica e profunda civilização indiana como bárbara e selvagem, contém o elogio do colonialismo britânico, "instrumento inconsciente da história" ao provocar a "revolução" que, segundo ele, fizera ruir o edifício da sociedade indiana [41]. Não é necessário dizer que tal juízo estava totalmente equivocado, já que o edifício da sociedade indiana ainda está de pé e a maior parte dos indianos permanece fiel às origens, cultuando os Deuses e cumprindo os deveres inerentes à sua casta de acordo com o Código de Manu.

Em outro artigo publicado no New York Daily Tribune, este a 8 de agosto do mesmo ano, Marx afirmou que a Índia não tinha História. "O que chamamos história não é senão a crônica de invasores sucessivos que fundaram impérios na base dessa sociedade imutável e não resistente". É o Ocidente, para o místico ateu e burguês de Trier, quem deve introduzir a História na Índia [42].

Ora, a sociedade indiana, que nada tem de não resistente, tanto que, invadida por diversos povos, sempre conseguiu se manter fiel às suas tradições, somente não teria História caso a História fosse, como na absurda visão marxista, a história da luta de classes, já que a sociedade indiana, fiel aos preceitos do Hinduísmo, jamais conheceu tal aberração.

Isto posto, não podemos deixar de destacar o nosso integral repúdio à ignorância de Marx em face da civilização indiana, uma das mais antigas e importantes da História, que produziu joias como os Vedas, os Upanishads, os Puranas, o Bhagavad Gita, o Mahabharata e o Código de Manu, sem falar em todas as invenções, incluindo o número zero e os chamados numerais indo-arábicos.

A civilização que Marx mais atacou, porém, não foi a indiana, mas sim a russa, pela qual o falso profeta de Trier alimentava ódio verdadeiramente irracional, que, como frisa Meira Penna, não se encontra somente em sua concepção de um modo de produção particular, o denominado "despotismo oriental", que escaparia totalmente às leis da dialética determinista, dividida em três fases: feudalismo, capitalismo e socialismo. Esse modo de produção tornaria a Rússia, bem como a China, a Índia e outros países, "imune à ação das forças que conduzem, pela própria dialética das 'leis férreas da História', ao triunfo futuro do comunismo" [43].

Para Marx, o russo era "o bárbaro das margens gélidas do Neva" e a Rússia, o "bizantinismo mais terrível e mais bárbaro que há", um país em que, como ressalta em sua propositalmente olvidada obra A questão do Oriente, "por sua tradição, suas instituições e sua situação é semiasiático". A Rússia é, para o intelectual apátrida de Trier, "a barbárie russo-mongol em nome da qual os pan-eslavistas se preparam para sacrificar oito séculos de participação efetiva à civilização" [44].

Em 1848, em artigo publicado na Neue Rheinische Zeitung, Marx pregou a "guerra revolucionária" contra a Rússia, que, segundo ele, deveria "virilizar" o povo alemão e permitir-lhe expandir para o Leste a sua civilização em um sacrifício libertador. "Às frases sentimentais que se nos oferecem em nome das nações contrarrevolucionárias da Europa, respondemos: o ódio aos russos foi e permanece a primeira paixão revolucionária dos alemães... Salvaguardaremos a revolução por um terrorismo decidido em relação a esses povos eslavos". "Sabemos agora", acrescentava ele, "onde estão os inimigos da revolução: na Rússia e nos países eslavos da Áustria" [45].

Nas páginas que escreveu sobre a Rússia, tanto em livros quanto em jornais, Marx sempre atacou virulentamente o país dos tzares, sustentando que este tinha origens bizantinas e tártaras e que estavam em Gêngis Cã e na Horda de Ouro as origens do poder e do expansionismo do Kremlin. Em sua pouco conhecida obra A Rússia e a Europa – Revelações sobre a história diplomática do século XVIII (1857), livro profundamente antirrusso em que defendeu a tese de que a Inglaterra estava por trás da transformação da Rússia em potência mundial, Marx afirma:

"É na lama sangrenta da escravidão mongol e não na rude glória da época normanda que nasceu a Moscóvia, da qual a Rússia moderna é apenas a metamorfose" [46].

Curioso é saber que Marx – que em suas páginas sobre a Rússia, cheias do mais apaixonado ódio e onde sustenta princípios tão estranhos às suas teorias materialistas quanto a defesa da Civilização Ocidental – acreditava fielmente na absurda lenda do testamento de Pedro, o Grande, programa apócrifo que o fundador de São Petersburgo haveria deixado a seus sucessores para a conquista do Mundo [47].

Como dissemos há pouco, o nome de Marx, por ironia do destino, se transformou em bandeira de luta dos seus mais odiados inimigos, justificando a política expansionista russa que ele tanto combatera. Isto se torna, aliás, mais grave caso concordemos com o juízo de alguns no sentido de que a "Revolução" (anti)Russa de 1917 foi o triunfo da Rússia tártara contra a Rússia europeizada, a vingança de Kazan contra a Moscóvia, ou, a exemplo de Spengler, julguemos que na Rússia de 1917 rebentaram duas "revoluções", a "branca" e ocidentalizada e a "de cor", representante do "bolchevismo asiático" e que, sob o regime de Stálin, teria suplantado a primeira [48].

Julgamos oportuno concluir esta breve exposição a respeito do racismo e do eurocentrismo de Marx, citando um trecho de uma das diversas cartas suas que contêm passagens extremamente racistas. Esta carta, escrita a Engels em 30 de julho de 1862, é talvez a mais célebre e reveladora de todas. Nela, se referindo ao líder socialista Ferdinand Lassale, Marx escreveu:

"Está completamente claro para mim agora que ele, como é provado por sua formação cranial e seu nariz, descende de negros do Egito (supondo-se que sua mãe ou avó não tenha cruzado com um negro). Agora esta união de Judaísmo e Germanismo com uma substância negra básica deve produzir um produto peculiar. A impertinência do camarada é também própria de Crioulo" [49].
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Somos contra Marx porque, assim como Giovanni Gentile, "somos contra o liberalismo que ele combatia, mas de cujo espírito se pode dizer que ele foi o mais franco, o mais lógico representante" [50].

Marx, que, no plano econômico, foi discípulo de Adam Smith, do banqueiro judeu David Ricardo e dos fisiocratas franceses, acreditou combater a burguesia, mas na verdade nunca se libertou do espírito burguês dominante em seu tempo. E, aliás, caso estivesse certa a sua tese no sentido de que "a natureza dos indivíduos depende das condições materiais que determinam sua produção" [51], isto é, da classe social a que pertencem, ele seria burguês, e, por conseguinte, seu ideário seria também burguês.

Marx está morto. O marxismo, religião nascida do liberalismo e da civilização burguesa, fruto do século XIX e somente compreensível enquanto tal, está morto desde que a Humanidade ultrapassou a época do tear mecânico e dos lampiões de gás. É somente em certos países da África e da Ásia e na denominada América Latina que Marx e seu nefando credo ainda são levados a sério pelos intelectuais. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, marco da ruína, na Europa, do sistema que mais matou e oprimiu na História, promovendo a igualdade entre os Homens tão somente na escravidão, ainda carregamos o cadáver putrefato desta ideologia espúria, baseada nos mais baixos instintos do Homem e destinada a permanecer para sempre na latrina da História.

Seremos verdadeiramente grandes apenas quando nos livrarmos de tal cadáver, o que se dará tão somente quando erradicarmos as fontes do marxismo, que são o espírito burguês e o sentimento de revolta dos injustiçados pelos desmandos do desumano sistema capitalista. Seremos verdadeiramente grandes quando fizermos triunfar o Espírito da Nobreza, restaurando o Primado da Tradição e, ao mesmo tempo, substituirmos o atual sistema político, econômico e social por outro mais justo, solidário e fraterno, que sirva à Pessoa Humana e não seja servido por ela.

NOTAS:
[1] Sobre o mito do progresso: BARBUY, Heraldo. O mito do progresso. In BARBUY, Heraldo. O problema do Ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio/ EDUSP, 1984, pp. 101-118.

[2] GENTILE, Giovanni. Economia ed etica. In GENTILE, Giovanni. Memorie italiane e problemi della filosofia della vita. Florença: G. C. Sansoni – Editore, 1936-XIV, p. 285.

[3] Idem, p. 287.

[4] SCHMITT, Carl. O conceito do político - Teoria do partisan. Trad. de Geraldo de Carvalho. 1ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 91.

[5] LAZARE, Bernard. Antisemitism – It's History and Causes. Lincoln: University of Nebraska Press, 1995, p. 157.

[6] Sobre o caráter religioso do marxismo: BARBUY, Heraldo. Marxismo e Religião. 2ª ed. São Paulo: Editora Convívio, 1977; BERDIAEFF, Nicolas. O marxismo e a religião. Prefácio e trad. de Duarte de Montalegre. Coimbra: Mensagem, 1948.

[7] BARBUY, Heraldo. Marxismo e Religião, cit., p. 15.

[8] Idem, loc. cit.

[9] RAMOS, Guerreiro, apud DOREA, Gumercindo Rocha. Posfácio. In SALGADO, Plínio. Manifesto de Outubro de 1932 (Edição do Cinquentenário). São Paulo: Editora Voz do Oeste, 1982, p. 72.

[10] SALGADO, Plínio. O sofrimento universal. 3ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, p. 28.

[11] SCHELER, Max. Das Ressentiment im Aufbau der Moralen. Frankfurt am Main: Klostermann, 1978.

[12] NIETZSCHE, Friedrich. Der Antichrist. In Nietzsche Werke, v. 13.
Ed. por Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Berlim, Nova Iorque: Walter de Gruyter, 1969, p. 244.

[13] Citamos de memória.

[14] SALGADO, Plínio. A Quarta Humanidade. 1ª ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1934, p. 109.

[15] , Paul. Intellectuals. Nova Iorque: Harpers Perennial, 1990, p. 54.

[16] CHIERICATI, Cesare. Marx. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1975, p. 7.

[17] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., loc. cit.

[18] Idem, p. 53.

[19] BRANDES, Georg. Ferdinand Lassale. Nova Iorque: Bernard G. Richards, 1925, p. 115.

[20] JASPERS, Karl. Razão e anti-razão em nosso tempo. Trad. de Álvaro Vieira Pinto. Disponível em:

http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/smartsection/item.php?itemid=53. Acesso em 12 de novembro de 2009.

[21] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 67.

[22] GLADSTONE, William, apud JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 66.

[23] MARX, Karl, apud JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 67.

[24] CHIERICATI, Cesare. Marx, cit., p. 7.

[25] Idem, p. 14.

[26] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 60.

[27] Idem, p. 74.

[28] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. 5ª ed. Rio de Janeiro: Vitória, 1963, p. 62.

[29] MARX, Karl, apud JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., p. 71.

[30] MARX, Karl. O capital. II vol. São Paulo: Nova Cultural (Col. Os Economistas), 1985, p. 286.

[31] Cf. PONTES, Ipojuca. Sobre a moralidade de Karl Marx. In Jornal da Tarde, São Paulo, 20/10/2001.

[32] JOHNSON, Paul. Intellectuals, cit., loc. cit.

[33] MARX, Karl. A questão judaica. Trad. e apres. de Wladimir Gomide. Rio de Janeiro: Achiamé, s/d, pp. 41-43.

[34] MARX, Karl, apud CHIERICATI, Cesare. Marx, cit., p. 63.

[35] ENGELS, Friedrich, apud CHIERICATI, Cesare. Marx, cit.,loc. cit.

[36] Cf. CHIERICATI, Cesare. Marx, cit.,loc. cit.

[37] MAN, Henri de. Le Socialisme constructif. Trad. francesa de L. C. Herbert. Paris:Éditions Alcan, 1933, p. 43.

[38] BERDIAEFF, Nicolas. Le Christianisme et la lutte des classes.Trad. francesa de I. P. H. M. Paris: Éds. Demais, 1932, pp. 30-31.

[39] SPENGLER, Oswald. La decadencia de Occidente: Bosquejo de una morfología de la Historia Universal. Trad. espanhola de Manuel G. Morente. Buenos Aires, México: Espasa-Calpe Argentina S.A., 1952, Tomo II, p. 588.

[40] Marx, Karl, apud PONTES, Ipojuca. Sobre a moralidade de Karl Marx, cit.

[41] MARX, Karl, apud PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX. 2ª ed. São Paulo: IL/ Nordica, 1994, pp. 191-192

[42] MARX, Karl, apud PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 193.

[43] PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 183.

[44] MARX, Karl, apud , J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 185.

[45] MARX, Karl, apud , J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 187.

[46] MARX, Karl, apud , J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 189.

[47] PENNA, J. O. de Meira. A ideologia do século XX, cit., p. 188.

[48] SPENGLER, Oswald. Anos de decisão. Trad. Herbert Caro. Porto Alegre: Edições Meridiano, 1941, pp. 184-185.

[49] MARX, Karl, apud WHEEN, Francis. Karl Marx. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 58.

[50] GENTILE, Giovanni. Economia ed etica, cit., p. 293.

[51] Citamos de memória.


sábado, março 28, 2015

SKINHEADS - II

SKINHEADS – II
Alberto Vianna
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A TENTATIVA DE RECONSTRUÇÃO DOS SKINHEADS
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Admiro a tentativa de reformular os skinheads a uma vertente mais culta, mas, infelizmente, os skinheads sempre serão estrangeiros, a não ser para os Afro-Jamaicanos, entre os quais o movimento NASCEU, FOI CRIADO E TEVE ORIGEM, para eles, os skinheads são LEGÍTIMOS, para nós e o resto do mundo, não. Ainda faço questão de retirar os Britânicos desta história, pois, os skinheads também se infiltraram na cultura legítima britânica. Falarei o porquê dos termos "legítimo” e “ilegítimo" mais adiante. Explicarei tudo mais a frente... Vamos lá... O próprio nome do movimento mostra suas origens claramente, não adianta querer traduzir ao português, ou tentar esquecer e ou apagar as suas verdadeiras raízes. Suas origens históricas e ideológicas possuem influências CLARAS de movimentos decadentes e de origens subversivas da década de 60 e 70, o estilo musical é empiricamente indecente e contrário aos valores éticos e morais… Não reconhecer isso é negar a própria história e origem do movimento dos skinheads. Não se pode negar a própria origem a fim de querer converter-se e ou usar a causa de outro. Há a vontade de querer mudá-la, mas os skinheads ainda são vistos como um movimento mundial e interdependente, o que aniquila a possibilidade de mudança do movimento e ou legitimidade cultural para com uma cultura de um País. Vemos isso claramente ao entrar na página dos carecas e ouvir um estilo musical de influência e espelhado ao Rock and roll.

O próprio nome Skinhead é estrangeiro. Sua origem histórica, cultural e ideológica é mundana, indecente e imoral, não importa o quanto tentem mudar ou tentarem se integrar e ou usar movimentos íntegros em seu nome, como o Integralismo. A origem dos skinheads ocorreu  na pior época da humanidade na era contemporânea. Eu realmente admiro a tentativa de quererem construir algo novo, de mudar o velho, mas a origem histórica e ideológica dos skinheads é antagônica ao Nacionalismo clássico em qualquer país, e aparentemente e em especial ao Integralismo. Somente abolindo tudo e reiniciando o movimento do zero, sem influência de absolutamente nada, é que seria possível dizer que os skinheads "mudaram". Para começo, ter-se-ia que abolir o próprio nome, o termo "skinheads"... E abolir também o estilo musical e de vida que eles têm, em outras palavras, tudo... Não adianta mudar 40% ou 60%... Não funciona assim, o movimento simplesmente não é HISTORICAMENTE E IDEOLOGICAMENTE COMPATÍVEL. Católicos e protestantes possuem laços HISTÓRICOS E ATÉ MESMO IDEOLÓGICOS, no caso, o CRISTIANISMO e suas origens históricas... Não ocorre isso com os skinheads, são COMPLETAMENTE ANÔMALOS a todos os movimentos nacionalistas existentes no planeta, tanto HISTORICAMENTE como IDEOLOGICAMENTE FALANDO.

Eu expus 4 tópicos principais e pessoais em que formalizo o meu posicionamento em relação a esse grupo, os skinheads. Não é apenas por ser uma subcultura, mas por TODOS AQUELES FATORES que escrevi naqueles quatro tópicos que os considero incompatíveis com o Nacionalismo.

Adotar e usar o nome do Integralismo a fim de validarem-se como uma “não subcultura" e ou "legítimos às causas nacionalistas no mundo e no Brasil" não faz parte do roteiro.
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DEFINIÇÃO SOCIOLÓGICA DE SUBCULTURA
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O Integralismo não é uma subcultura, pois teve origem e reflexo em toda a CULTURA BRASILEIRA em um período no qual subculturas não existiam. O Integralismo é e foi espelhado em uma cultura de uma civilização construída pelas influências da CULTURA EUROPEIA LUSITANA e, posteriormente, BRASILEIRA LEGÍTIMA. Subculturas são ILEGÍTIMAS e só se deram a existir a partir da década de 60 com CATEGORIAS ESPECÍFICAS que você poderá observar após adentrar no tema pelo viés sociológico e histórico, com os efeitos da globalização e de influências indiretas e diretas do marxismo cultural no mundo, como mostrei anteriormente e detalharei adiante.

O termo sociológico de subcultura é muito mais complexo do que o conceito básico do dicionário, é muito mais abrangente, principalmente se for estudado em comunhão com a década em que se originou, que foi a de 60 e 70, e com influência da subversividade e ou globalização. Eu teria que escrever literalmente um livro para explicar, mas vou tentar resumir um pouco a questão, mas posso garantir que para se identificar uma subcultura, necessita-se muito mais do que saber apenas o conceito bruto da palavra.

Pesquisem sobre:
Estilos de vida alternativos
Cultura Popular
Underclass
Cultura Urbana
Subcultura de juventudes
Neotribalismo
Interculturalismo
Heterosocioality
Relações com a Mainstream Cultura
Identificando subculturas - Vide: Consciência pós-guerra / fashion
Leia sociólogos que comentam sobre o tema tais como, Gary Alan Fine, Sheryl Kleinman, David Riesman, Pierre Bourdieu, Sarah Thorton etc…
Tribos-Urbanas
Revolução Sexual - O nascimento das subculturas
Subcultura e globalização
Subversividade e todos seus paradigmas
Popular culture
Urban culture
Urban sociology
Youth subculture
Art world
Adolescence
Folk culture
Neotribalism
History of Western subcultures in the 20th century
Intercultural competence
Subculture: The Meaning of Style

ETC…

Só depois de ter um panorama geral disto é que alguém poderá  ver o que o termo subcultura é verdadeiramente, e como as subculturas afetam nosso estilo de vida, principalmente após ligá-la ao fator subversivo da época, revolução sexual de 60 e 70 e vários outros, além do que vivemos atualmente sobre a influência do marxismo cultural e da globalização e da mídia de massa… Somando tudo isso, aí teremos uma VAGA IDÉIA do quanto é  prejudicial e de como identificar uma subcultura.

Os skinheads possuem origem própria, no estilo musical Afro-Jamaicano, possuem estilo de vida próprio, minoritário e completamente diferente da maioria do povo e da cultura brasileira, no qual o Integralismo se espelhou e nasceu, inclusive, na década de 30, onde não existiam subculturas, cuja origem data-se de 60 para frente. Subcultura não é apenas definida nesse conceito vago de dicionário, ela se explica em termos sociológicos, é algo muito mais abrangente e complexo de se compreender, mas podemos dizer categoricamente que se diferencia da CULTURA CIVILIZATÓRIA DE UMA SOCIEDADE E OU PAÍS, por serem minorias com costumes completamente ANÔMALOS e ou antagónicos à comunidade em que estão. A origem histórica e ideológica dos skinheads é EXATAMENTE ISSO, skinheads não podem negá-la mesmo tentando usurpar e ou usar e ou eleger ideologias nacionais alheias à sua causa, isso não muda suas origens, suas influências, sua ideologia e em especial seu gênero musical e ou estilo de vida, o qual os skinheads glorificam.

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"SKINS" - O INIMIGO DO MEU INIMIGO É MEU AMIGO?!
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Não concordo com esse pensamento, seria o mesmo caso dos liberais para com o Integralismo, com quem felizmente não é de costume fazer alianças. Mas, sejamos úteis e pragmáticos, às vezes combatem-se coisas semelhantes e as circunstâncias fazem aliados, e aí já demonstram simpatia ao Integralismo. Todavia, infelizmente, torna-se um pouco impraticável alegar que o Integralismo e ou qualquer nacionalismo seja espelhado nos skinheads e ou vice-versa, principalmente com um histórico e ideologia tão antagônicos quanto o dos skinheads. Enfim, é bom evitar generalizações e ou estigmatização. De qualquer maneira, nego veementemente o convite dos skinheads, por ser cristão, nacionalista, simpatizante à causa integralista e, principalmente, por abominar todos os gêneros subculturais que assolam a face da terra. 

quarta-feira, março 25, 2015

NÓS E OS FASCISTAS DA EUROPA (1936)

Nós e os fascistas da Europa (1936)


Miguel Reale

Uma revista francesa, tecendo elogios ao movimento integralista, considerou os “camisas verdes” filhos espirituais de Maurras, isto é, “nacionalistas integrais”.

Não pode haver engano maior.

Em primeiro lugar, Maurras reconhece a rigorosa necessidade da monarquia no mundo contemporâneo, enquanto que nós integralistas já fixamos de maneira claríssima a nossa orientação republicana.

Em segundo lugar, ele é Católico, intransigentemente católico, mas católico positivista à maneira de Oliveira Lima, por tradição, “católico histórico”, pelo fato de reconhecer no catolicismo um fator básico da grandeza nacional. O Integralismo, ao contrário, reúne católicos, protestantes e espíritas, e ainda nenhum integralista, com suficiente autoridade, fez exclusão desta ou daquela crença, nem será possível qualquer sectarismo em nossas fileiras.

Em terceiro lugar, para Maurras, Barrès, Bourget ou Léon Daudet, nada deve existir acima da Pátria, nem Justiça, nem Verdade, nem Razão.

Segundo a sua doutrina, exposta em linguagem áspera e mesmo violenta – o que não deixa de ser profundamente necessário na terra dos Léon Blun – segundo o “nacionalismo integral” há uma “justiça francesa” uma “verdade francesa”, uma “razão francesa”. Só o nacionalismo para eles tem existência real. O universalismo é aceitável tão-somente quando constitui expressão do gênio francês. A pátria gaulesa é o valor supremo, a realidade fundamental e eterna.

Ora, este exclusivismo patriótico não se enquadra de maneira alguma, dentro dos princípios integralistas. Um brasileiro que tentasse introduzir semelhantes pontos de vista estaria inconscientemente obedecendo a um exagerado nacionalismo gaulês. Seria brasileiro segundo o modelo de Maurras...

As “Diretrizes Integralistas”, em seu item II, fazem prevalecer o espiritual sobre o moral, o moral sobre o social, o social sobre o nacional, e o nacional sobre o particular.

De acordo com tal modo de ver, não consideramos a pátria um “valor supremo”, imutável, ponto de referência para todos os julgamentos.


A pátria para nós é uma realidade e um valor, não há dúvida. É uma realidade porque é uma resultante de natural elaboração histórica, e não um artifício do homem; e é um valor porque representa um patrimônio espiritual e material que umas gerações recebem de outras com a obrigação de legá-lo maior aos filhos e aos netos. E é ainda um valor porque os interesses econômicos só apresentam expressão concreta dentro dos limites nacionais. Eis por que, expondo a doutrina integralista, fazemos sempre questão de pôr em evidência o conceito de pátria como um “organismo ético, político, econômico e cultural”, “uma cooperativa naturalmente estabelecida pela divisão do trabalho”, uma “sociedade solidária constituída pelos trabalhadores do braço, do capital e da inteligência”.

Mas a Pátria não é eterna em sua forma. O que é eterno é a função a que ela se destina. Não podemos, com efeito, confundir a permanência das leis com a fixidez das formas. Na história encontramos muitas formas de Pátria, correspondendo todas elas a uma permanente função necessária, indispensável e natural à espécie humana. É claro, porém, que agimos “como se” a forma atual fosse eterna.

A história do Direito nos mostra que, originariamente particularista, ele foi se universalizando. O mesmo se dá com as instituições políticas. A Liberal-Democracia, por exemplo, após o seu triunfo teórico na França, estendeu-se a todos os países, com manifestações distintas segundo os lugares e as contingências históricas. O mesmo acontece hoje com o ideal da Democracia Corporativa, que dá Itália se estende a Portugal, à Áustria, à Letônia, à Alemanha, aos Estados Unidos e a todo o globo terrestre. Em verdade, nisso não há nada de espantoso. E não há nada mais imbecil que um liberal de 89 ou um socialdemocrata de Weimar acusar o “estrangeirismo” de um corporativista do Século XX. Quem assim procede, não examina a própria história, e desconhece a verdade contida nestas palavras de Cuvillier: “A consciência moral varia, mas ela varia de conformidade com certas leis que se podem resumir assim: especificação crescente da moralidade; espiritualização das noções morais; universalização dos direitos e deveres”.

Que o progresso moral e técnico nos conduz a uma universalização dos direitos e dos deveres, e, por conseguinte, uma identidade cada vez maior entre as formas nacionais de governo, eis uma verdade de grande evidência. Se hoje já se fala em universalização do direito penal, em universalização da moeda, não é por simples palpites, mas sim porque tal necessidade se faz sentir.

Nós devemos reconhecer esses fatos, sem que para isto seja necessário nos perdermos no sonho mirífico do internacionalismo burguês do século passado (1), internacionalismo lírico que teve como consequência o internacionalismo capitalista de um lado, e o internacionalismo marxista, do outro.

Como diz Höffding, “nós não somos antes membros da Família, criadores de cultura, cidadãos do Estado e depois homens, mas nós devemos justamente viver como homens em todas as circunstâncias que possam se apresentar no seio da família, da associação cultural ou do Estado, tratando-nos reciprocamente como homens”.

Somos universais sendo brasileiros, especificamente brasileiros, porque sabemos ser homens no círculo da família e da pátria. O que não devemos fazer é procurar no universalismo uma desculpa para não observarmos o que está perto. Ama a humanidade quem ama o seu próximo. Cria valores universais quem abre os olhos para as realidades concretas. Os “modismos” de cultura, o “cosmopolitismo” nas maneiras de sentir, de pensar e de agir, eis o que não se justifica, o que devemos evitar. Mas isto não é universalismo, mas contrabando que em nome dele se faz.

Nada de extraordinário, por conseguinte, que sejamos brasileiros, nacionalistamente brasileiros, e, ao mesmo tempo, apresentemos valores que se encontram também em movimentos fascistas europeus, como o de Mussolini, de Hitler e Salazar.

“Isso de quererem forçar-nos a ser iniciadores convencionais de uma civilização, fresca, virgem, espontânea – escreveu Tristão de Ataíde corrigindo os excessos do modernismo de 22 – será um erro tão crasso como qualquer academismo vulgar. Somos novos, como americanos. Somos velhos, como europeus”.
“Conciliar não – continua o pensador brasileiro – fundir as correntes contrárias que nos solicitam: a que vem de fora e a que vem da terra. A que importamos como alimento de cultura; e a que vivemos aqui como elemento de cultura. Alimento e elemento – não são apenas um mau trocadilho. São duas formas primárias de nosso espírito. Não podemos vivem sem os elementos locais primitivos, de uma mentalidade. Não podemos muito menos crescer sem alimentar esses elementos primários com a contribuição de cultura superior que o nosso espírito pede”.

Nós alimentamos os elementos político-sociais brasileiros com a lição da experiência alheia. Desde o início da propaganda, afirmamos o nosso propósito de tirar das experiências estrangeiras todo o sumo necessário ao desenvolvimento de nossa Pátria.

O Fascismo italiano contém muitos valores universais, aplicáveis a todos os povos ligados à cultura cristã. Mas o Fascismo foi se elaborando no terreno da práxis. À medida que as necessidades sociais foram se exprimindo em ordenamentos jurídicos e econômicos, revelaram-se os elementos essenciais de uma doutrina, cujos contornos já são nítidos, com a grande vantagem de ser uma “teoria vivida” e não apenas um quadro mental sem a verificação decisiva da experiência. O cunho empírico, pragmático e relativista do Fascismo foi tão notável que os italianos não perceberam, desde logo, o caráter universal de seus princípios. É estranho, mas é verdade. Fomos nós estrangeiros que mostramos aos peninsulares que a experiência do Duce não tem só um valor restrito à Itália, mas constitui uma experiência universal. Primeiro, Mussolini afirmou: “o Fascismo não é artigo de exportação”. Agora ele mesmo reconhece que o Fascismo é a doutrina universal do século. A princípio, a criatura foi maior que o criador...

Pensando bem, não é muito lógico falar em criador do Fascismo. A doutrina corporativista tem antecedentes no tempo e no espaço, tanto do domínio jurídico, como no econômico-social. Precursores são, por exemplo, Dupont White, Sismondi, List, Le Play, Gerber, Treitschke, Maurras, Sorel, Alberto Torres, etc., etc., cada qual cooperando com uma especial contribuição. Mussolini orientou a síntese, realizou o sincretismo das teorias, algumas delas consideradas até então contraditórias ou irredutíveis... Seu mérito é inexcedível, mas só mesmo a paixão nacionalista poderia considerar todo o “corporativismo” um produto genuíno da Itália...

Consideremos o problema fascista em relação ao integralista.

O espírito ou a índole do nosso nacionalismo não é idêntico do italiano.

Na Itália, os nacionalistas se impuseram a imensa tarefa de reviver as glórias do passado, no esplendor da disciplina das gerações novas. No Brasil a tarefa é mais árdua. Trata-se de revelar uma Nação, cuja palavra ainda não se fez ouvir, cujos valores espirituais o mundo desconhece e não poucos brasileiros ignoram.

O nacionalismo fascista foi uma afirmação violenta, reação natural contra esse Tratado de Versailles que satisfez o orgulho da França e a nunca saciada ambição britânica. Marcou, além do mais, a vitória do espírito nacional contra a traiçoeira fraternidade internacionalista dos centros maçônicos e o seu irmão gêmeo, o internacionalismo socialista.

O nacionalismo na pátria de Dante foi síntese dialética superadora da velha antinomia entre Burguesia e Proletariado, as duas classes antagônicas que olvidaram os ódios e as lutas ásperas, marchando juntas para o fogo das trincheiras, no instante trágico da ameaça às fronteiras.

O chefe socialista Mussolini, soldado nas linhas de vanguarda, quando a paz voltou sem restituir a ordem e a confiança, transformou-se no “duce” do socialismo nacionalista. No fogo das trincheiras operara-se uma das mais maravilhosas combinações históricas: o nacionalismo se tornara socialista, e o socialismo se tornara nacionalista.

As lutas de classes, os ódios classistas revelaram-se mais fracos que o amor que o homem normal tem pela própria Pátria...

1918 é um ponto de partida. Seus efeitos são universais. Pouco importa que o Brasil não tenha perdido milhares de seus filhos. Depois da Grande Guerra, no Brasil como na China, na Índia como na França, não há lugar para nacionalismo que não seja também socialismo, ou seja, que não contenha os elementos de uma profunda revolução social, de uma poderosa renovação nos costumes e hábitos da vida individual e coletiva.

A revolução não se prega mais em nome de uma classe: a revolução é o direito sagrado da Nação, da totalidade das forças nacionais.

Não basta, porém, sentir que uma revolução é necessária. É preciso saber para onde se vai, que objetivos imediatos ou mediatos se procuram, quais os métodos e quais as formas de atuação.

A experiência italiana demonstra que a revolução deve ser feita no sentido de dar uma base corporativa, e não mais partidária, à nova Democracia, tanto no setor dom ordenamento jurídico, da representação política, quanto no domínio das realizações econômicas. O Corporativismo, eis o objetivo final de ordem política.

E Corporativismo implica autoridade do Estado, anti-individualismo, ordem, hierarquia, como condições de liberdades concretas. O Fascismo, dessarte, foi uma grande escola de dinamismo, de “vitalidade”.

Em resumo, podemos dizer que Mussolini, jogando com dados positivos da experiência, estabeleceu estes pontos essenciais:
1°) a revolução social deve ser processada;
2º) dentro dos quadros morais das Nações;
3°) sob a superior orientação do Estado;
4º) sobre uma base sindical-corporativa;
5°) segundo o princípio da solidariedade que deve nortear os membros da coletividade nacional.

Nesse período cremos ter condensado o que há de essencial na doutrina fascista. A revolução não se processa por si, mas como um ato de vontade científico ou heroico, depende; não destrói as Nações, nem aniquila o Estado para o triunfo ridículo do “cidadão” ou a ilusória ditadura do “proletariado”...

O Integralismo, reconhecendo o valor universal dos cinco princípios acima, acrescentou um outro:

6°) sem ofensa dos direitos essenciais à personalidade humana.

Não que na Itália se ofendam os direitos da personalidade. Mas lá há mais vitalismo que propriamente espiritualismo. Cuida-se mais do esplendor da força material ou das manifestações coletivas, do que propriamente dos valores do espírito.

O Fascismo, do ponto de vista do espírito, é uma expressão transitória. O próprio Fascismo dia a dia se corrige, abandonando vícios pré-bélicos. (1)

Algum leitor pode estar pensando que desejaríamos que no Fascismo houvesse menos heroísmo e mais santidade. Mas não é tal. O Fascismo é uma política e não podemos, sem ofensa à lógica, ultrapassar as fronteiras da política. O que desejamos indicar é a existência de um sentido naturalista de vida na península renovada, um sentido cru da existência. O heroísmo e o sacrifício do “camisa preta” são índices de forças espirituais, mas estas forças não se revelam como tais.

O Integralismo, ao contrário, é espiritualista, francamente espiritualista. É uma revolução para o Brasil, sem servir a nenhuma crença em particular, mas, servindo a todas as crenças, porque serve aos valores eternos do espírito cristão.

Temos em relação à Europa duas superioridades: temos terras em abundância, não lutamos com angústias de espaço, nem sentimos a imperiosa necessidade de conquistar domínios; em segundo lugar, temos poucos compromissos ou contas a saldar, uma herança quase nula de ódios ou ressentimentos, de uma vida restrita no tempo.

O nacionalismo da Europa vive de desconfianças, de agressões, na previsão enervante de surpresas bélicas. Nós podemos e devemos ser nacionalistas, sem ser preciso fundamentar a nossa união no ódio ou no receio. É por isto que a luta racista não nos seduz. Preferimos construir o novo Estado sobre sólidos princípios positivos de afirmação de valores novos, do que traça-lo em função de ódios, segundo o compromisso de princípios negativos. Do Hitlerismo podemos tirar algumas lições em matéria de organização política e financeira, mas não sabemos em que nos poderia ser útil a tese da superioridade racial, tese que consulta uma situação local.


Nós brasileiros devemos nos libertar do jugo do capitalismo financeiro e do agiotarismo internacional, sem que para isso abandonemos os princípios éticos para descambarmos até aos preconceitos racistas. A moral não permite que se distinga entre o agiota judeu e o agiota que diz ser cristão; entre o açambarcador que frequenta a Cúria e o que frequenta a Sinagoga. O combate ao banqueirismo internacional e aos processos indecorosos dos capitalistas sem pátria, justifica-se no plano moral. E quando a pureza da norma ética está conosco, não se compreende bem qual a necessidade de outras justificações, que podem ser de efeito, mas que certamente são discutíveis.

Assim como repudiamos o racismo hitlerista, nós nos afastamos do cesarismo italiano, o qual tem a grande virtude de possibilitar gigantescos empreendimentos, mas tem também o defeito de deixar tudo em função de um só homem. O que se ganha em velocidade, compromete-se em durabilidade...

Somos, por assim dizer, mais democratas que os fascistas da Europa. Preferimos a colaboração popular a uma compressão de ordem física ou psíquica. Reconhecemos mais autonomia aos indivíduos e aos grupos. Tememos que a disciplina militarizada habitue os homens a esperar a iniciativa ou o auxílio do Estado, em todas as condições sociais. Para nós, o Estado deveria repetir a grande advertência: “ajuda-te que te ajudarei”.

Este reconhecimento de um maior círculo de atividade individual e grupalista não decorre unicamente de considerações abstratas, porém, consulta uma soma de realidades concretas, próprias de nosso meio.

Oliveira Viana, em um de seus estudos magistrais, observou que o Estado no Brasil não pode prescindir de uma ampla colaboração individual. É uma verdade. Se em toda parte é erro, no Brasil seria uma calamidade o enriquecimento do Estado à custa do empobrecimento dos particulares...

Nós recebemos de nossos antepassados o legado de muitos milhões de território. Cumpre-nos conquista-los. Nosso imperialismo já tem o objeto. Falta a vontade firme do sujeito dominador, porque nos faltou até agora a consciência de um dever comum.

Sendo possuidores, como somos, de tantas riquezas ainda para explorar, devemos ordenar a nossa economia não somente para criar valores trocáveis, como ensina a escola liberal, mas também para utilizar as forças produtivas.

Neste ponto cabe uma observação que consideramos de grande alcance.

Na Europa, os Estados objetivam a organização da vida econômica a fim de ganhar em intensidade o que não pode mais ser obtido satisfatoriamente em extensão, pelo fato simples de não existirem mais terras incultas ou matérias-primas inaproveitadas. Esta situação é tão grave, que a atenção dos técnicos já está voltada para o aproveitamento industrial de determinadas coisas que estavam à margem do ciclo produtivo devido o seu diminuto rendimento.

Nós, ao contrário, temos terra e temos matérias-primas. Pode ser que não sejamos o mais rico dos países; mas com certeza não somos dos mais pobres.

Se assim é, e se somos poucos, nosso dever é nos organizar para que a energia dos indivíduos não se estanque, mas se propulsione mediante a colaboração dos grupos associados e do Estado.

Como escrevi em “O Estado Moderno”, ainda estamos no período do desbravamento, no início de uma economia que ainda não se realizou em extensão, nem na realidade, nem nas obras dos cientistas, tão avultado é o número de riquezas ignoradas.

O erro das nossa economia tem sido este de intensificar a produção de certas riquezas, na exploração descontrolada do açúcar, do café ou do algodão, antes de ter se realizado em extensão. E todo fracasso de culturas isoladas tem constituído um empecilho ao desenvolvimento de novos setores da economia nacional, em virtude dos “déficits” acarretados e das quebras previsíveis.

O corporativismo integralista não pode esquecer essa observação fundamental. Deve ser plástico, adaptável a cada região, variável dentro de um sistema unitário pelos fins e não pelas formas.

É deste ponto que devemos partir para a apreciação do Federalismo Corporativo necessário ao Brasil
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1) Nota do Autor em 1983: Quando escrevi este estudo, não podia prever que iria acontecer exatamente o contrário, com o fascismo reduzido ao endeusamento do Estado totalitário e militarista.
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Publicado originalmente na Revista Panorama, Ano I, Abril-Maio de 1936, nº 6, página 11 e seguintes.


REALE, Miguel. Obras Políticas (1ª Fase – 1931/1937). Volume III. Brasília: UnB, 1983; transcrito da pagina 223 até 233.