sábado, agosto 21, 2010

O "Fim das ideologias" aplicado ao Brasil


J. F. Neules*

Como é sabido, alguns anos atrás o nipoamericano Francis Fukuyama lançou um livro com o título acima, destinado a se tornar um “best seller” como efetivamente se tornou; uma vez que a mídia planetária recebeu – e cumpriu – a ordem de o trombetear aos quatro cantos do Orbe. É a esta obra que temos que nos reportar para tentar compreender os – até agora – sete anos e meio de consulado de Lula.

Na referida obra e ao redor de muita prolixidade o autor defendeu a tese de que no mundo contemporâneo não há mais lugar para ideologias na medida em que a realidade muda tão vertiginosamente que aquelas com suas posições fixas se tornam quase que instantaneamente superadas; caducas mesmo. Mas o que tal posição na realidade defende é o pragmatismo mais abjeto, mais absoluto; assim a cada instante o que é “conveniente” muda e o homem de governo deve acompanhá-lo, independentemente do que defendia ainda ontem. Quem reconhecer aqui o “esqueçam tudo o que escrevi” do infausto mandatário Fernando Henrique Cardozo estará acertando em cheio.

Efetivamente o que se viu nos oito anos anteriores foi o “socialdemocrata”(?!) F. H. Cardozo entregar metodicamente todas as riquezas e posições estratégicas do Brasil, condenando-o pelo menos por mais um longo período ao subdesenvolvimento e à posição de potência secundária. Isto – o entreguismo e o servilismo mais abjeto ao “neoliberalismo” por parte de um socialdemocrata – seria impensável apenas alguns anos atrás.

* *

Quanto ao atual governante Lula, é tempo de tentar entender o motivo pelo qual seus anos de governo foram tão menos nefastos a nosso Brasil que os de Cardozo como agora salta à vista diante da atual posição que nosso País desfruta no concerto das nações; sendo o PT como é (era?) um partido mais afinado com a III Internacional comunista que com a II Internacional socialista; e é aqui que o “Fim das ideologias” vem à baila.

Efetivamente, com a decantada morte das ideologias Cardozo se sentiu livre para empurrar para baixo do tapete os ideais socialdemocratas e escancarar para o supercapitalismo da City – Wall Street. Com o resultado de dar de bandeja as estatais brasileiras rentáveis – a começar pela Vale do Rio Doce, crime que brada aos céus – e assinar tratados traiçoeiros sob o beneplácito da ONU e que na prática impedem o Brasil de procurar seu próprio caminho de desenvolvimento, condicionando-o a permanecer na miséria e na subserviência. Tudo isso ao cálido som dos aplausos de seus cupinchas “tucanos”, que babavam na gravata ao imaginar que o “Fim das ideologias” – este sofisma transparente – poderia trazer dias radiosos para os brasileiros.

Mas é exatamente essa liberdade de tripudiar sobre os mais altos destinos da Nação sob o pretexto furadíssimo de “pragmatismo” que foi negada a Lula. As massas petistas, altamente ideologizadas após décadas de pregação esquerdistóide e portanto anticapitalista, não poderiam sequer considerar a hipótese de o Brasil continuar sendo desmantelado em proveito do supercapitalismo alienígena. Com isso eis o resultado agora visível: nesses anos lulistas o processo de desintegração da Nação Brasileira comandado pela City – Wall Street e levado a efeito por F. H. Cardozo foi não apenas sustado, mas, assistimos até (pasmo!) a algumas tímidas tentativas de reverter tal situação.

Assim a conclusão se impõe: a ideologia – mesmo a pior das ideologias como é o marxismo mal digerido dos petelhos – ainda é melhor que a ausência total de ideologia que entrega os destinos dos povos ao mais vil pragmatismo. Para não dizer, à corrupção desbragada dos políticos que além de não ter ideologia, também não têm dignidade e honestidade e se sentem à vontade para legislar em causa própria e enriquecer às custas da nação.

Encerrando: é bom esclarecer que o autor destas linhas não crê nem por um instante que Lula seja um brilhante estadista como a mídia compromissada se esforça para o apresentar para as massas carentes de entendimento; na realidade, se seus oito anos ao que tudo indica apresentarão um balanço muito mais positivo (menos negativo?) que o anterior período de Cardozo, isso se deve simplesmente às cobranças partidárias petelhas; isto é, ao fator – vale repetir – ideológico. Enquanto Cardozo fazia o que queria porque os tucanos se haviam transformado numa massa amorfa e amoral só comparável à dos Democratas (ex-Pefelê), os petistas ainda reconheciam um “norte ideológico” para guiá-los. Mas este “norte” se perdeu quase completamente com o desgaste destes oito anos de governo. Assim é o caso de terminar com a pergunta fatal: O que virá agora com as próximas eleições?

* J. F. Neules. Jornalista. São Paulo (SP).

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