domingo, julho 04, 2021

UMA PALAVRA AOS COMUNISTAS

 

Companheiro Moisés J. Lima
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira - FIB

UMA PALAVRA AOS COMUNISTAS

JAIME REGALO PEREIRA

Não quero terminar esta minha exposição sem dar uma palavra aos comunistas que me lerem. Como irmãos que somos, embora com ideais diferentes, quero com eles conversar um pouco para mostrar-lhes que contra eles não nos animam sentimentos de ódio ou mesmo de desprezo. São eles ovelhas que por desídia dos pastores se transviaram e hoje se encontram à mercê de elementos estranhos à nossa nacionalidade, aos nossos sentimentos, às nossas tradições, às nossas conquistas, às nossas aspirações, ao nosso progresso e ao nosso futuro.

Uma palavra, pois, para convosco, meus irmãos comunistas.

Ninguém vos contou até hoje em que solo mergulhou o comunismo as suas primeiras raízes. Sabeis que a doutrina comunista nasceu do movimento socialista e gira principalmente em torno às ideias expendidas no meado do século passado[1] por Karl Marx. Ao lado deste formou Engels os 2 como os pais do socialismo científico. O socialismo político foi fundado por Louis Blanc, Lassalle e Blanqui e o socialismo econômico e filosófico teve como precursores Saint Simon, Fourier e Owen. Agora, o que não sabeis: todos esses homens tidos e havidos como criadores do socialismo, inclusive Karl Marx, eram burgueses. Além destes, convêm citar o nobre Miguel Bakounine e o príncipe Pedro Kropotkine que se fizeram anarquistas. Na história do socialismo apenas um homem partido do proletariado teve uma atuação notavelmente destacada: Proudhon, saído da classe dos tipógrafos. Concluímos então que a origem do movimento proletário foi essencialmente burguesa. Este mal de origem se tem continuado até hoje. Enumerai os chefes comunistas de hoje e dizei-me qual deles saiu da classe proletária. Que sabem esses homens de hoje e que sabiam aqueles de ontem dos sofrimentos, das amarguras, das necessidades, da fome e do frio experimentados pelos desprotegidos da sorte?

Aqueles de ontem eu os comparo aos nossos líderes abolicionistas: poetas, jornalistas e oradores, intelectuais que viram na escravidão da raça negra um motivo magnífico dentro do qual se inspiraram para comporem os seus poemas, os seus artigos e os seus discursos. Cantaram e pregaram a emancipação dos nossos escravos, mas, com ela só se preocuparam até o momento em que o governo expediu o decreto abolicionista. O que lhe interessava era apenas o sofrimento da raça negra e não a sua felicidade. Libertos os negros, libertos os escravos, eles por aí ficaram ao abandono dos governos, ao abandono dos abolicionistas. Ao abandono da sociedade. Dos negros só quiseram  as torturas para com elas comporem os versos mais sonoros, os artigos mais inflamados e os discursos mais candentes.

Na Europa não haviam negros e escravos em cujo sofrimento pudessem os pensadores se inspirar para as suas elucubrações e as suas doutrinas. Mas, se não havia uma raça que sofresse, havia no entanto uma classe que padecia. E foi então nos padecimentos dessa classe que os intelectuais burgueses foram buscar o motivo para a sua imaginação criadora, para os seus poemas, para o seus artigos e para o seus discursos.

E os socialistas de hoje? De socialista, eu vos asseguro, só têm eles o rótulo. Egressos também da burguesia; desfrutando como qualquer outro burguês ou capitalista hodierno os prazeres da vida fácil; enriquecendo-se à custa de prestígios políticos momentâneos; raivosos e despeitados com o governo por lhes ter retirado os cargos bem remunerados, todos eles só veem no movimento proletário uma arma para as vindictas pessoais ou para o esnobismo estéril e pecaminoso.

Pedi a qualquer um deles que vos ofereça uma sugestão racional para a solução dos problemas sociais. Não as têm. A eles só interessam as doenças do proletariado e não a sua cura. Só cuidam eles de reavivar as vossas chagas, fazê-las sangrar e torná-las mais dolorosas para vos acirrar o ódio e enlouquecer-vos e vos atirar como animais bravios contra os seus inimigos de hoje. Com quem estarão amanhã, si novamente forem chamados, de braços dados à gozar e a viver os prazeres fáceis da vida. E vós que trabalhais a vida dura, que sofreis a vossa desgraça, que chorais as vossas dores, continuareis trabalhando e sofrendo e chorando.

Não, meus irmãos comunistas, não permitais que essas bestas feras continuem a explorar as vossas amarguras. Eles são as hienas e os chacais a revolverem eternamente os cadáveres da miséria alheia. Eles são as hienas e os chacais que só se alimentam de dores e sofrimentos. Não concorrais por conseguinte, para que se satisfaçam os seus mórbidos apetites.

É esta a palavra que aqui vos deixo. Ela reflete em toda a sua plenitude os nossos sentimentos de compaixão pelas vossas dores. No terreno da desgraça e na hora do sofrimento vós nos encontrareis sempre compartilhando com as vossas desgraças e convosco chorando as vossas dores. Não nos preocupamos tão somente com as vossas doenças, mas queremos sobretudo o vosso restabelecimento. Para isto sacrificamos todo o bem estar que poderíamos desfrutar, percorrendo sem desfalecimentos não só os centros populosos das cidades, mas também os lugarejos esquecidos e o sertão agreste, onde quer que haja um coração que sofra, onde existir uma alma em pranto.

Essa é a grande força atrativa do nosso movimento: a sinceridade. Não conhecemos o ódio, como não conhecemos a mentira. Com o nosso grande Chefe Nacional aprendemos a falar sempre a linguagem da verdade e a pregar o amor aos nossos semelhantes. Pelos nossos lábios falam sempre os nossos corações e o nosso olhar é a expressão objetiva das nossas almas. Todos voltados para vós, todos cuidado de vós. Porque vós sois – ó proletários do Brasil – os que mais sofrem e o nosso movimento é um apostolado de sacrifício e de dor.

PEREIRA, Jaime Regalo. DEMOCRACIA INTEGRALISTA. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1936; p. 77 e segs.

O trecho transcrito acima foi lido pelo Companheiro Moisés Lima em uma palestra do seu canal.



[1] O A. refere-se ao Século XIX.

 


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