UMA PALAVRA AOS COMUNISTAS
JAIME REGALO PEREIRA
Não quero terminar esta minha
exposição sem dar uma palavra aos comunistas que me lerem. Como irmãos que
somos, embora com ideais diferentes, quero com eles conversar um pouco para
mostrar-lhes que contra eles não nos animam sentimentos de ódio ou mesmo de
desprezo. São eles ovelhas que por desídia dos pastores se transviaram e hoje
se encontram à mercê de elementos estranhos à nossa nacionalidade, aos nossos
sentimentos, às nossas tradições, às nossas conquistas, às nossas aspirações,
ao nosso progresso e ao nosso futuro.
Uma palavra, pois, para convosco,
meus irmãos comunistas.
Ninguém vos contou até hoje em que
solo mergulhou o comunismo as suas primeiras raízes. Sabeis que a doutrina
comunista nasceu do movimento socialista e gira principalmente em torno às
ideias expendidas no meado do século passado[1]
por Karl Marx. Ao lado deste formou Engels os 2 como os pais do socialismo
científico. O socialismo político foi fundado por Louis Blanc, Lassalle e
Blanqui e o socialismo econômico e filosófico teve como precursores Saint Simon,
Fourier e Owen. Agora, o que não sabeis: todos esses homens tidos e havidos
como criadores do socialismo, inclusive Karl Marx, eram burgueses. Além destes,
convêm citar o nobre Miguel Bakounine e o príncipe Pedro Kropotkine que se
fizeram anarquistas. Na história do socialismo apenas um homem partido do
proletariado teve uma atuação notavelmente destacada: Proudhon, saído da classe
dos tipógrafos. Concluímos então que a origem do movimento proletário foi
essencialmente burguesa. Este mal de origem se tem continuado até hoje.
Enumerai os chefes comunistas de hoje e dizei-me qual deles saiu da classe
proletária. Que sabem esses homens de hoje e que sabiam aqueles de ontem dos
sofrimentos, das amarguras, das necessidades, da fome e do frio experimentados
pelos desprotegidos da sorte?
Aqueles de ontem eu os comparo aos
nossos líderes abolicionistas: poetas, jornalistas e oradores, intelectuais que
viram na escravidão da raça negra um motivo magnífico dentro do qual se
inspiraram para comporem os seus poemas, os seus artigos e os seus discursos.
Cantaram e pregaram a emancipação dos nossos escravos, mas, com ela só se
preocuparam até o momento em que o governo expediu o decreto abolicionista. O
que lhe interessava era apenas o sofrimento da raça negra e não a sua
felicidade. Libertos os negros, libertos os escravos, eles por aí ficaram ao
abandono dos governos, ao abandono dos abolicionistas. Ao abandono da
sociedade. Dos negros só quiseram as
torturas para com elas comporem os versos mais sonoros, os artigos mais
inflamados e os discursos mais candentes.
Na Europa não haviam negros e
escravos em cujo sofrimento pudessem os pensadores se inspirar para as suas elucubrações
e as suas doutrinas. Mas, se não havia uma raça que sofresse, havia no entanto
uma classe que padecia. E foi então nos padecimentos dessa classe que os
intelectuais burgueses foram buscar o motivo para a sua imaginação criadora,
para os seus poemas, para o seus artigos e para o seus discursos.
E os socialistas de hoje? De
socialista, eu vos asseguro, só têm eles o rótulo. Egressos também da
burguesia; desfrutando como qualquer outro burguês ou capitalista hodierno os
prazeres da vida fácil; enriquecendo-se à custa de prestígios políticos
momentâneos; raivosos e despeitados com o governo por lhes ter retirado os
cargos bem remunerados, todos eles só veem no movimento proletário uma arma
para as vindictas pessoais ou para o esnobismo estéril e pecaminoso.
Pedi a qualquer um deles que vos
ofereça uma sugestão racional para a solução dos problemas sociais. Não as têm.
A eles só interessam as doenças do proletariado e não a sua cura. Só cuidam
eles de reavivar as vossas chagas, fazê-las sangrar e torná-las mais dolorosas
para vos acirrar o ódio e enlouquecer-vos e vos atirar como animais bravios contra
os seus inimigos de hoje. Com quem estarão amanhã, si novamente forem chamados,
de braços dados à gozar e a viver os prazeres fáceis da vida. E vós que
trabalhais a vida dura, que sofreis a vossa desgraça, que chorais as vossas
dores, continuareis trabalhando e sofrendo e chorando.
Não, meus irmãos comunistas, não
permitais que essas bestas feras continuem a explorar as vossas amarguras. Eles
são as hienas e os chacais a revolverem eternamente os cadáveres da miséria
alheia. Eles são as hienas e os chacais que só se alimentam de dores e
sofrimentos. Não concorrais por conseguinte, para que se satisfaçam os seus
mórbidos apetites.
É esta a palavra que aqui vos deixo.
Ela reflete em toda a sua plenitude os nossos sentimentos de compaixão pelas
vossas dores. No terreno da desgraça e na hora do sofrimento vós nos
encontrareis sempre compartilhando com as vossas desgraças e convosco chorando
as vossas dores. Não nos preocupamos tão somente com as vossas doenças, mas
queremos sobretudo o vosso restabelecimento. Para isto sacrificamos todo o bem
estar que poderíamos desfrutar, percorrendo sem desfalecimentos não só os
centros populosos das cidades, mas também os lugarejos esquecidos e o sertão agreste,
onde quer que haja um coração que sofra, onde existir uma alma em pranto.
Essa é a grande força atrativa do
nosso movimento: a sinceridade. Não conhecemos o ódio, como não conhecemos a
mentira. Com o nosso grande Chefe Nacional aprendemos a falar sempre a
linguagem da verdade e a pregar o amor aos nossos semelhantes. Pelos nossos
lábios falam sempre os nossos corações e o nosso olhar é a expressão objetiva
das nossas almas. Todos voltados para vós, todos cuidado de vós. Porque vós sois
– ó proletários do Brasil – os que mais sofrem e o nosso movimento é um
apostolado de sacrifício e de dor.
PEREIRA, Jaime Regalo. DEMOCRACIA
INTEGRALISTA. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1936; p. 77 e segs.
O trecho transcrito acima foi lido pelo Companheiro Moisés
Lima em uma palestra do seu canal.
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