sexta-feira, maio 27, 2022

JORNAIS SEM PROBIDADE (Editorial de A Offensiva)

 JORNAIS SEM PROBIDADE*

A indústria do “canard” usada como arma de combate.

Os “Diários Associados” e seus métodos reprováveis

Criticando um ato do governo da Bahia, referente à suspensão do pagamento da dívida externa, manifestou esta folha sua desaprovação a tal medida. E fê-lo dentro de um dos mais comezinhos princípios básicos do Integralismo, qual é o da absoluta uniformidade de atitudes dentro do plano nacional. A nação inteira está farta de saber qual o ponto de vista do Integralismo em relação ao nosso serviço de dívida externa. Todos sabem que faremos a necessária revisão desse serviço, e em hipóteses alguma deixaremos de saldar o que, após rigoroso e sereno exame, representar nosso débito real, puro e simples. Isso, porém, só se pode compreender, embricado no corpo de um sistema, obedecendo a um plano nacional, a que todos os serviços estaduais deverão harmonicamente subordinar-se. E não foi isso o que se passou no caso da Bahia; mas ao contrário; em pleno vigor do esquema Oswaldo Aranha, plano financeiro que tem como centro de gravidade o governo da União, um Estado singularmente isolado, foge à norma geral em vigor, e, desrespeitando ostensivamente o critério da Unição, toma uma atitude em inteiro desacordo com aquela que vem sendo assumida pelo governo Central.

Acresce, ainda, a tudo isso, a circunstância de que tal medida assecuratória do direito do Brasil, contra a cupidez dos banqueiros sem pátria, não deve deixar sem garantias os portadores de títulos nossos, que afinal nenhuma culpa tiveram de se tornarem seus possuidores, pois se o fizeram foi por lhes ter sido proclamada a seriedade do emissor.

O Estado Integral estudará os meios de extirpar o cancro do intermediário, e de vincular os direitos de tais portadores diretamente ao seu  acervo de obrigações; e isso não se pode obter sem um aparelhamento financeiro adequado.

E foi sob essa nota de A OFFENSIVA que os “Diários Associados” ensaiaram um dos seus habituais escândalos, reveladores de uma certa apertura na gerência, e de incrível desembaraço das leis e normas que fazem a ética mais elementar da imprensa de responsabilidade.

Se os dirigentes de tais diários julgam conhecer a psicologia do público, e creem que destarte podem, à vontade, jogar com ela, não se devem esquecer, como bons psicólogos de que esse público já os conhece de sobra, e começa já a identificar com eles os seus novos processos jornalísticos.

Culminando (ou melhor, prosseguindo, porque é difícil saber-se a que culminâncias irá o inescrúpulo de tal gente), prosseguindo na sua campanha de mentiras contra o Integralismo o “Diário da Noite” anuncia uma crise no Integralismo, porque o sr. Souza Dantas emitiu sua opinião pessoal sobre o caso. Pobres homens, os que pensam dividir os camisas verdes com manchetes espetaculares...

Em tal “palpite”, como lhe chama o próprio sr Souza Dantas, é difícil saber-se onde acaba a má fé e onde começa a candura, pois todo ele é de uma mediocridade comovedora e, até certo ponto, destoante da capacidade técnica que os Diários Associados têm revelado na indústria da mistificação. Tanto que soube do “palpite” o sr. Souza Dantas correu à redação e escreveu as linhas que abaixo publicamos.]

Tudo isso é, como se vê, profundamente desolador. Não pretendemos, de resto, fazer polêmica com tal imprensa. Não podemos estar daqui a perder tempo com jornais que desconhecem rudimentos de ética, e que possuem uma filosofia toda especial que os tranquiliza a eles, e que a nós outros, causa simplesmente nojo, repugnância e tristeza.

DECLARAÇÃO DO SR. SOUZA DANTAS

Sr. redator.

Lendo o “Diário da Noite” de ontem, extraí os títulos e subtítulos com que aquele jornal apresentou ao público algumas declarações minhas, a respeito da suspensão de pagamento por parte do governo da Bahia.

Seria estranhável, efetivamente, que a simples manifestação de uma opinião que em nada colide com a diretriz da ação Integralista, recentemente traçada no manifesto publicado pelo Chefe Nacional, sr. Plínio Salgado, pudesse servir de motivo ou pretexto à irrupção de uma crise, no Integralismo.

Não há, nem haverá, por minha causa, crise alguma, visto como não há discordâncias doutrinárias que pudessem justificá-la.

Entendo que A OFFENSIVA não foi nem poderia ir de encontro à orientação traçada no manifesto, com a qual estou de pleníssimo acordo. O que A OFFENSIVA vem criticando é a “forma”, não a substância do ato do governo baiano. O que ele estranha e censura não é a resolução de suspender pagamentos, e sim as circunstâncias isoladas que cercaram essa resolução. A singularidade desse procedimento, excepcional dentro do “esquema” Oswaldo Aranha, é que  A OFFENSIVA quer apontar como danosa à orientação e ação do governo federal.

Como se vê, não há qualquer motivo para crises, pelo que lhe peço o obséquio de desautorizar categoricamente semelhante “palpite”.



* Editorial transcrito do jornal A OFFENSIVA, Rio de Janeiro, 04 de Fevereiro de 1936, págs. 1 e 8, graças à generosa cooperação do Pesquisador Matheus Batista que nos deu acesso ao recorte pertencente a sua riquíssima hemeroteca. Para compreender a importância histórica do editorial deve se ler também o seguinte: O Problema das Dívidas Externas