quinta-feira, agosto 28, 2008

A Liberal-Democracia

A Liberal Democracia
Explicação Necessária:
No dia 07 de Outubro de 1932, em São Paulo (SP), o jornalista Plínio Salgado, lança o “Manifesto de Outubro”, dando início público ao Integralismo. O movimento começa a organizar-se em todo o Brasil, e em 1933, antes mesmo que o primeiro Núcleo carioca fosse fundado na Tijuca, Plínio Salgado faz uma série de conferências no Rio de Janeiro, na primeira das quais conhece pessoalmente Gustavo Barroso, que já lera o “Manifesto de Outubro”, que lhe fora ofertado por Ovídio Gouvêa da Cunha, que por sua vez, o havia recebido das mãos de Plínio Salgado e de Miguel Reale, em reunião que com eles tivera na Capital Bandeirante, na exígua sala que servia de Sede na Av Brigadeiro Luiz Antônio, em fins de 1932. Nesse primeiro encontro, Plínio Salgado tira o distintivo com o Sigma que portava no seu paletó e o coloca na lapela de Barroso, selando simbolicamente o início de uma amizade verdadeira, e por toda a vida, entre os dois maiores Pensadores do Brasil Integral.
Ainda na Cidade Maravilhosa, Plínio Salgado entrega ao seu amigo pessoal, Integralista, Poeta e Editor, Augusto Frederico Schmidt, os originais de “O que é o Integralismo” e “Psicologia da Revolução”, os dois primeiros Livros Integralistas, que foram publicados nesse mesmo ano de 1933. O primeiro pela Schmidt, Editor e o segundo pela Civilização Brasileira, na famosa Coleção Azul, que reunia Obras sobre Cultura e Política, e que já publicara “O Brasil Errado”, de Martins de Almeida, a “Introdução à Realidade Brasileira”, de Affonso Arinos de Mello Franco, “O Sentido do Tenentismo” (com Prefácio de Plínio Salgado), de Virgínio Santa Rosa e “A Gênese da Desordem”, de Alcindo Sodré. Em 1957, na 2º edição das Obras Completas de Plínio Salgado, ambos atingiram respectivamente a 7ª e a 6ª edições.
Do segundo capítulo de “O que é o Integralismo”, denominado “A Liberal-Democracia” extraímos o trecho a seguir, em que podemos ler uma crítica exata e atual ao liberalismo.
Sérgio de Vasconcellos.




A LIBERAL-DEMOCRACIA (1933)
(excerto)

Plínio Salgado
Dissemos no capítulo anterior que o mundo é o que é, e não o que sonham os teorizadores. Nós, integralistas, pretendemos restabelecer o critério das realidades humanas. Assim, repito, em relação ao Homem, que ele deve ser tomado na verdade mais profunda da sua essência.
E não foi por outra coisa que traçamos antes de tudo, o quadro das finalidades humanas, antes de entrar no estudo político.
A liberal-democracia concebeu o "homem-cívico", a grande mentira biológica; o marxismo materialista concebeu o "homem-econômico", mentira tanto filosófica como científica.
Nós, integralistas, tomamos o homem na sua realidade material, intelectual e moral e, por isso, repudiamos tanto a utopia liberalista como a utopia socialista. A liberal-democracia pretende criar o monstro, sem estômago. O socialismo marxista pretende criar o monstro que só possui o estômago e o sexo. Em contraposição ao místico liberal e ao molusco marxista, nós afirmamos o homem-integral.
Σ
Em torno da concepção marxista se criaram fórmulas ilusórias, por serem unilaterais, como sejam o "determinismo materialista", a "proletarização das massas", a "socialização dos meios de produção", a "ditadura do proletariado", "os direitos da coletividade".
Em torno da concepção liberal se criaram essas fórmulas sediças que se denominaram "a causa pública", "a voz das urnas", "a moralidade administrativa", o "civismo", as "massas eleitorais", "a luta dos partidos", "igualdade, liberdade, fraternidade".
Em torno da nossa concepção, nós, integralistas, lançamos as fórmulas definitivas de salvação nacional e humana, exprimindo realidades tangentes: "O Estado orgânico", a "organização corporativa da Nação", a "economia orientada", a "representação corporativa", o "homem integral", o "realismo político", a "harmonia das forças sociais", a "finalidade social", o "princípio de autoridade", o "primado do espírito".
Condenando a liberal-democracia, que arrastou o mundo à crise pavorosa em que se encontra, queremos feri-la no seu próprio coração, que é o instituto do sufrágio.
O sufrágio universal, isto é, o direito de todos votarem no mesmo candidato, ainda que este não seja de sua classe, criou o absurdo de um Estado fora das competências econômicas e morais.
Esse Estado é fraco.
Esse Estado está agonizando na Europa e na América.
Ele não pode por ordem no interior, nem pode realizar nada de prático na vida internacional, para resolver em conjunto com outros Estados, as questões mais simples, como as do desarmamento, das dívidas de guerra, ou do equilíbrio da produção e do consumo.
O Estado liberal, baseado no voto dos cidadãos, desconheceu a organização dos grupos financeiros e dos sindicatos de trabalhadores. Perdeu o controle da Nação. Tornou-se uma superestrutura, para usarmos a terminologia marxista, um luxo da civilização burguesa e capitalista, uma superfluidade estranha aos imperativos orgânicos dos povos.
À sua revelia, deflagraram-se as lutas entre o Capital e o Trabalho e até mesmo entre o Capital e o Capital. O aperfeiçoamento da técnica multiplicou as possibilidades da produção, alijando o homem das fábricas, e o Estado Liberal foi impotente para manter uma uniformidade de ritmo no trabalho, que possibilizasse a colocação dos produtos e evitasse tanta miséria que se originou de tanta fartura.
O mundo está em desordem porque o Estado Liberal é fraco, é anêmico, é gelatinoso. É o Estado inerme, que assiste, de braços cruzados, à angústia das multidões esfaimadas e o desespero dos chefes de indústria, dos agricultores, que não encontram capacidade aquisitiva suficiente, nas coletividades empobrecidas e nuas, para que possam comer e vestir. Estamos assistindo ao incêndio dos estoques: o trigo, nos Estados Unidos; o café, no Brasil; os carneiros, na Holanda e na Argentina: e há tanta criança que tirita de frio e tantas famílias sem um pedaço de pão!
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Chegou o instante de devolvermos aos ideólogos democráticos o presente grego do voto tal como é praticado.
Que façam bom proveito dele os que têm o estômago fornido, automóveis, mulheres, divertimentos, poder. Essa panacéia só tem servido para os demagogos exploradores das turbas e para os "gangsters" elegerem presidentes na América do Norte. Só tem servido para separar o Estado da vida econômica e moral da Nação, permitindo que os sindicatos de capitalistas de um lado, e os sindicatos de trabalhadores do outro, combatam o combate cruel dos interesses meramente materiais, afrontando a inteligência humana, desrespeitando as mentalidades superiores, as únicas que devem impor ordem e disciplina a ambos os contendores, a fim de que não desvirtuem os superiores destinos da criatura humana.
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O Integralismo quer realizar uma democracia de fins e não uma democracia de meios. Quer salvar a liberdade humana da opressão do liberalismo. Quer salvar a dignidade do homem do torvo materialismo dos capitalistas e dos comunistas.
O Integralismo surge como a única força capaz de implantar ordem, disciplina. A única força capaz de amparar o homem, hoje completamente esquecido pelo Estado liberal-burguês, como aniquilado e humilhado pelo Estado marxista soviético.
Nas democracias, o homem está entregue a si mesmo.
Nos tempos de paz, os governos só se lembram dele, para lhe cobrar impostos, para lhe exigir que acorra ao serviço militar, ao júri, que atenda ao apelo para a guerra, quando for preciso. Se o homem está desempregado, que suba e desça as escadas mendigando colocação. Se está enfermo e pobre, que recorra à caridade pública. Se já não pode trabalhar, que mendigue, pois não faltarão mesmo decretos, que lhe garantirão o exercício dessa profissão. Se plantou e não tem meios de custear a pequena lavoura, que se arranje. Se é operário ou camponês, e as fábricas e as fazendas já não têm serviço, que trate de cavar por si mesmo a sua vida. Se existe superprodução de mercadorias e de braços, o mais que o governo pode fazer é oferecer-se para queimar as mercadorias, não tardando que se ofereça a aproveitar a carne dos trabalhadores sem emprego para fazer sabão. E se há conflitos de classes, que o problema seja resolvido à pata de cavalo. Ou então, que as indústrias rebentem, não podendo satisfazer às exigências do proletariado. E se há gente dormindo pelos bancos das avenidas, tal coisa não passa de uma fatalidade cujos desígnios os governos não devem contrariar...
E isso é a liberal-democracia. O regime onde ninguém está garantido: nem o capitalista, nem o operário; nem o industrial, nem o comerciante, nem o agricultor. Compreende-se que, num regime assim, cada qual trate de se salvar por meio de aventuras pessoais, muito embora os ideólogos fanáticos e os fariseus hipócritas clamem pela moralidade administrativa.
Σ
O liberalismo democrático é hoje defendido apenas pela grande burguesia e pelas extremas esquerdas do proletariado internacional.
E isso se explica. Sendo o regime que não opõe a mínima restrição à prepotência do capitalismo, é o preferido por este, que, através das burlas democráticas, exerce a sua influência perniciosa no governo dos povos, em detrimento das nacionalidades, tão certo é que o capitalismo não tem Pátria. Por outro lado, evitando a interferência do Estado na vida econômica das nações, e oferecendo ampla liberdade à luta de classes, facilita o desenvolvimento marxista do fenômeno econômico e social, preparando as etapas preliminares da ditadura comunista.[1]
Os mais fervorosos adeptos do liberalismo são os que pretendem destruir as Pátrias e o Indivíduo com suas projeções morais e intelectuais: é o argentário, o homem de grandes negócios, de um lado, e o anarquista, o comunista, de outro lado.
O ódio de uns e de outros, contra as mentalidades cultas e contra o espírito elevado e nobre das classes médias, não tem limites. Já um socialista espanhol exclamou no auge da cólera: "a pátria do capitalista é onde estão seus negócios; a pátria do proletário é onde está seu pão: só a classe média tem pátria".
Σ
Não se trata, porém, de classe média, e sim da inteligência e da cultura, da moralidade e do espírito, que criam a dignidade humana, determinando que esta paire acima das lutas mesquinhas, consciente dos superiores destinos da criatura humana.
A liberal-democracia, realmente, só aproveita aos poderosos, que exploram os pobres e os fracos, e aos demagogos marxistas, que exploram a ignorância das massas trabalhadoras, e a inexperiência dos estudantes bisonhos, mantendo-os no obscurantismo, a fim de que só aprenda a filosofia do materialismo, que os tornará mais rapidamente escravos.
Explica-se o motivo porque os grandes banqueiros, as grandes empresas jornalísticas a soldo de sindicatos financeiros ou industriais, os políticos a serviço de trustes e monopólios, os agiotas de todo jaez e os negocistas de todos os quilates vivem a proclamar as excelências da liberal-democracia e investem contra o Integralismo com todas as suas armas: é que o dinheiro não tem pátria e o seu portador não tem coração; o menor pânico num país determina a fuga do ouro para outro país, e a menor notícia de disciplina governamental em relação à vida econômica alarma os arraiais da usura eriçando o pêlo das hienas de garras aduncas.
Evidencia-se também a razão porque os marxistas toleram perfeitamente as democracias liberais. Não foi por outro motivo que os bolcheviques apoiaram Kerenski, na ocasião em que este se achava sob a ameaça de Korniloff. Representava Kerenski a revolução burguesa, que procede a revolução proletária: e Lenine sabia perfeitamente que sem o livre desenvolvimento econômico, sob a égide da democracia, não lhe seria possível o golpe de outubro.
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A democracia liberal significa o país desorganizado e o governo inexpressivo das forças econômicas da Nação.
Vivendo na torre de marfim das fórmulas constitucionais delimitadoras do poder do Estado, o liberalismo é a indiferença diante do duelo de morte de duas classes. É a impotência governamental. É a fórmula inútil que serve apenas às divagações e controvérsias de juristas empedernidos.
É o suicídio da burguesia e a véspera do suicídio do proletariado.
Nós, integralistas, que pretendemos realizar a verdadeira democracia, que não é a liberal, mas a orgânica, em consonância com o ritmo dos movimentos nacionais, condenamos todas as formas de liberalismo, porque atentam contra a dignidade humana e conduzem as massas para a degradação, como conduz o homem à animalização completa.
Combatemos o voto desvalorizado e a liberdade sem lastro, pois queremos o voto verdadeiro e a liberdade garantida.
Combatemos as hediondas quadrilhas das oligarquias ao serviço dos poderosos. E, pelo mesmo motivo, combatemos a utopia socialista.
(Plínio Salgado – “O que é o Integralismo”, 6ª edição - São Paulo, Editora das Américas – 1957 – 77 págs. – “Obras Completas” Vol. 9; excerto do Capítulo II, da pág.36 até 45)



[1] Estava este livro em provas, quando o jornal burguês "O Estado de São Paulo" confessou e em artigo de crítica a um livro de Victor Vianna, as intenções do liberalismo democrático, isto é, a marcha para o comunismo, dizendo: “Não há dúvida alguma de que a evolução da humanidade para a "esquerda" é um fato indiscutível. As tendências profundas dos homens são para a emancipação de todos os indivíduos e de todas as classes, para a extinção de todos os privilégios e regalias de castas e nascimentos. A verdadeira política será aquela que coordene e não a que embarace, a evolução natural dos homens”. Ora, essa política só pode “ser realizada em regime democrático”.
Diante dessa confissão, não me cumpre mais, como paulista consciente e brasileiro, do que chamar a atenção dos meus co-estaduanos que ainda amam a Família, a Pátria e Deus, para o erro dos que ainda não vieram cerrar fileiras no "Integralismo", última expressão do espírito bandeirante.

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