Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira - FIB |
OCIDENTE
Moisés Lima
Presidente Nacional da Frente Integralista Brasileira - FIB
É
verdade que a virtude sempre andou em desvantagem. Já chamava atenção para isso
Plínio Salgado, no seu livro Reconstrução do Homem, em que assim falou
sobre o futuro da chamada “civilização ocidental”: “nem se acha ainda
construída ao gosto dos seus arquitetos, e já oferece mostras de
insubsistência, prenunciando fatal desabamento”.
Uma
simples observação histórica poderá constatar de pronto que em todas as épocas
existem forças desagregadoras que andam debaixo dos mesmos céus que a virtude;
entre si, tais vícios são distintos uns dos outros ao ponto da desídia fatal,
mas, contrariando as expectativas mais lúcidas, se unem para destruir a já
pouca virtude que resiste heroicamente nos povos.
É
inequívoco que, quando nos informamos sobre o mundo em redes sociais, em
aplicativos chineses de interação, programados para reter atenção em
inumeráveis sucessões de poucos segundos, servindo-se ainda de doses de
dopamina para viciar usuários, não resta dúvida de que tudo parece ir de mal a
pior, e poucos são os que não sentem vontade de dar com a cabeça na parede,
quando ouvem os “todes” da “geração Z” e, infelizmente e muito pior, quando uma
França aprova tão desmedido crime como o aborto, isto parece indicar que não há
nada por aqui que ainda seja sagrado e merecedor de respeito, que dirá de
defesa. Enfim, eu confesso, dá vontade de jogar a toalha, e dizer: “O Ocidente
acabou”.
Diante
de tanta esdruxulice e tantas mediocridades abissais, surge em nossos ouvidos
um sussurro estranho, que nos afirma que “tudo deve ser destruído”, que é
preciso mesmo “virar a mesa”, e eis que então, surge do Leste da Europa, uma
horda de monstros de aço, com outro tipo de Z estampado em seus frontões,
invadindo “a degradada Ucrânia”, presidida por um tal comediante, cujo mérito
artístico, entre outros, é o de tocar piano com o seu pênis, e então, no
Ocidente, em meio às massas esmagadas e desiludidas com suas lideranças
políticas, amorfisadas com a própria fragilidade de suas culturas nacionais,
incapazes de se rebelar contra a degeneração, concluem alguns, em coro: “a
salvação vem do Oriente!” E “confiemos em Átila, o Huno”. Ou, ainda: “Por que
não dar a vitória a Cartago?”
***
No
seu livro Quarta Humanidade, Plínio Salgado falou do quanto o inimigo é
importante para a autoafirmação dos povos e isso quer dizer: “na antítese
total, afirmo a mim mesmo: bem, afinal de contas, quem somos nós?”
Em
Roma, nos conta Santo Agostinho, na sua obra A Cidade de Deus, alguns
notórios homens públicos, sintetizados na figura de Cipião Nasica, se opunham à
política intransigente de Catão contra Cartago, justamente antevendo o fatal
esmorecimento moral romano; sem o grande inimigo para manter coesa a sociedade,
num facho de valores, ele se afundaria nas suas próprias convulsões.
Tenho
que reconhecer que o Ocidente passou muito tempo se esfarelando a partir de
dentro. Afinal, quantos “inimigos” estão bem aqui, dentro das nossas próprias
fronteiras, aplicando a velha técnica romana divide et impera?
Nossa
decomposição, no entanto, nem de longe é um processo de desgaste natural, como
o que afligiu o sistema do Império Romano. Ela foi orquestrada e posta em
operação por agentes dissociativos que subordinaram tudo quanto existe de nobre
a interesses tão mesquinhos que simplesmente desaparecem no aluvião das
consequências do realizado em nome deles; seria fatigante para o leitor que eu
passasse agora a uma exposição cronológica dessa grande sanha destruidora do
Ocidente. Aos mais interessados, recomendo o volumoso livro de Monsenhor Henri
Delassus, A Conjuração Anticristã.
Pois
bem, com o advento do moderno sistema de comunicação, e nisso chamo atenção
para o período compreendido entre a prensa de Gutenberg até o fim da era da
informação centralizada, monolítica, chamada “quente” por Marshall Mcluhan,
dada sua característica de entregar muita informação com menos participação da
audiência, tivemos, enquanto “sociedade ocidental”, muitos “inimigos” que
figuram como a antítese dos valores outrora considerados sagrados, mas todos eles
foram, de alguma forma vencidos no tecido supérfluo da sociedade, não sem que
forças residuárias permanecessem, e, como de “grão em grão a galinha enche o
papo”, foram se confederando temporariamente com um só objetivo: derrubar o
Ocidente, seja lá o que querem designar por este nome.
Quem
são estes entusiastas do “fim do Ocidente” entre nós? São justamente aqueles
que perderam completamente o vínculo com, digamos assim, a pedra angular da
civilização ocidental, ao ponto de desejarem substituí-la por aquela que,
durante séculos, representou a antítese da afirmação da nossa posição no mundo.
Trata-se, no fundo, de uma revolta justamente contra esta pedra angular, que se
deseja, objetiva ou subjetivamente, isto é, com consciência ou por “efeito
dominó”, substituir por alguma outra.
Já
não me recordo se no seu livro sobre o Direito Natural ou se na sua mais famosa
obra, Humanismo Integral, o filósofo francês Jacques Maritain (enquanto
ainda mantinha os parafusos no lugar) constatou que consideramos dignos do nome
de “civilização” os povos que mais respeitam a dignidade intangível e
inviolável da pessoa humana, e, para não entrarmos numa longa discussão sobre
direito natural e direito revelado, cabe salientar a superioridade que essas
noções trouxeram ao mundo, subsidiando justamente a positivação do valor
absoluto da vida humana, no Ocidente.
Ao
leitor que queira investigar tal assunto na sua máxima potência, recomendo a Suma
contra os Gentios de Tomás de Aquino e, para os que sustentam preconceitos
no tocante aos escritos do Doutor Angélico, a obra de Johannes Messner deve
bastar.
Dito
isso, espero frisar o seguinte: todo ato humano realizado na história é, em
alguma medida, eivado de razões pequenas e muitas vezes mesquinhas, isto é,
quando ampliamos em demasia, até as microscópicas relações, os acontecimentos
históricos, vemos que sempre há uma pitada de mal persistente, que só encontra
justa explicação no pecado original; mas se, ao contrário, minimizarmos esta,
digamos assim, “tela da história”, encontraremos sem problema algum as linhas
longas e gerais de virtude constatável que, no mais, sintetizam valores de
grandeza tal que podemos qualificá-los com as palavras “eternos” ou “imutáveis”
e ainda, como “inquebrantáveis”, pois são valores de ordem que remetem à
constatação: “Passarão o céu e a terra. Minhas palavras, porém, não
passarão” (Mateus 24, 35).
Mas
analisar o Ocidente é constatar um emergir e submergir constante de forças que,
por mais que gritem sobre si mesmas, arrogando-se bandeiras valorosas, são,
pela raiz onde buscam beber suas forças, na verdade, resíduos de morte, isto é,
ideias e pensamentos laureados que, numa recusa, consciente ou não, daquilo que
é eterno, desaguam, quase como em consequência trágica da própria recusa, no
contrário daquilo que propõem, e, assim, em nome do bem se faz o mal, da
liberdade, a tirania, da democracia, o totalitarismo e assim por diante.
Por
muito tempo essas forças de morte civilizacionais não lograram vitória;
em algum momento seus engodos eram percebidos e, uma vez denunciados, passavam
a ser combatidos até perderem o protagonismo.
Eu
ainda acho que as coisas se passem assim, muito embora a comunicação dinâmica
atual, “fria” no conceito já mencionado de Mcluhan, por envolver
incomparavelmente mais a audiência, isto é, a internet, aos apegados a
sua curta passagem pela terra, deve dar mesmo a impressão de que as crises são
mais agudas ou que “o buraco é mais fundo” do que realmente é, o que agrava
qualquer problema ainda mais.
***
Existe
um filme muito bom rolando por aí no Youtube, chamado Karol, um homem que se
tornou Papa. Nele, o jovem Karol Wojtyla, revoltado com o terror nazista
que afligia seu país, a Polônia, decide pegar em armas junto da resistência, e
durante uma caminhada, convicto nesse proposito, é impedido por uma figura que
lhe diz que tal ação não era o melhor caminho, visto que “o mal é capaz de
voltar inumeráveis vezes, mutado em outras formas”, e, para fortificar o
espírito, deu-lhe o livro do grande São João da Cruz. Karol, uma vez tornado
Papa, João Paulo II, constataria a verdade daquelas palavras quando precisou
bater-se contra o comunismo.
Por
mais eloquente que fosse essa observação santa, perspicaz é a inteligência
angélica maligna; se, para chegar-se ao bem eterno, esse mesmo bem precisa, em
nós, vencer a morte, por seu turno, o mal arrumou seu próprio modo de ganhar
eternidade; claro, não conseguiu vencer a morte, mas deu jeito de
parasitá-la!
Dissemos
antes que todo acontecimento humano é eivado, em maior ou menor medida, de
maldade, e, por extensão natural dela, de destruição, portanto, de morte, e
enquanto Cristo conduz a vida depois da morte, o mal vive nesta própria morte e
através dela, ganhando, assim, a única imortalidade que nesta vida é possível
justamente por sempre, em graus variados, acompanhar os acontecimentos humanos
de geração em geração.
E
aquele mesmo comunismo metamorfo, então, transcendeu a demanda de inimigos do
bem materializados em sistemas fechados ou pessoas sempre opostas à virtude,
conseguindo presentificar-se constantemente, se apropriando do negativo que em
tudo existe, e tal novo esquema se chama justamente “dialética do negativo”,
estratégia de Antonio Gramsci, que descobriu, assim, que o “segredo” para
destruir uma sociedade que erradicou muitos problemas que Marx considerava
“insuperáveis” no nefando capitalismo é promover a “crítica metódica de tudo
que existe” através desse mal que em alguma medida sempre está presente
em tudo.
Tal
ênfase no mal em detrimento do bem não resulta em nada senão numa aversão
escandalosa à própria natureza das coisas. Eis aí, dentre muitos casos
individuais que poderíamos salientar, o maldito filho da Escola de Frankfurt, a
pseudocultura “mimizenta”, chamada “Wolke”, que é tão revoltante que faz muitos
esperarem de braços abertos que os hunos cheguem de uma vez por todas também
aqui.
***
Muito
bem, antes de hastear uma faixa de “boas-vindas” às naves alienígenas, como
tantos tem feito, pré-assinalando onde eventualmente eles possam lançar seus
mísseis vorazes para “eliminar nossa degeneração moral”, vou sentar aqui e
pensar um pouco sobre o que está acontecendo: será mesmo que se esgotou no
Ocidente, por conta de uma bandeirinha multicolor ou coisa que o valha, tudo
quanto mereça solicitar de nós, a vida na sua defesa?
Bem,
coisas muito podres parecem ter voz ilimitada por aqui, mas desde quando? Devo
pensar que talvez minha vida na terra seja muito curta para um amplo e preciso
diagnóstico.
Uma
breve anedota elucidativa: certa feita, conversando com um sujeito anti-Igreja,
daqueles que dizem “o papa é comunista”, mas que também era ferrenho defensor
da monarquia hereditária, questionei-o sobre o que fazer se um rei despontar
completamente inepto numa linha sucessória? Ele me acalmou afirmando que “a
tradição dá jeito num Rei ruim, supera-o”. Eu lhe respondi que concordava;
todavia, por qual motivo o mesmo não valia para a tradição da Igreja e do
papado? “Você me pegou”, foi sua divertida resposta.
Não
considero que o Papa Francisco seja comunista por se equivocar em posições
montadas com informação de comunistas, quero dizer que não sei se verei o
próximo Papa e tenho que ter fé de que “as portas do inferno não
prevalecerão contra a Igreja”, e fazer um recorte “do” ou “dos” governos de
um período histórico não me parece justo, pois é preciso confiar nas forças
profundas, das quais já falamos, que são mais longevas do que nós mesmos, e é
assim para a Igreja, é assim para Pátria, não será para o ocidente?
Penso
que o cosmonauta que observa a terra a partir do espaço consegue perceber
melhor que o mar, muito acima das ondulações, mares e até maremotos, não deixa
de ser um colosso bastante harmonioso e até uniforme. Aliás, quanto mais alto
nos permitimos estar para olhar, mais vemos a estabilidade.
Quem
governará no próximo século? Ao menos aqui a vitória final já está decidida e
nos pertence, não pela força das armas, talvez nem pela vivacidade da moral
transitória fabricada ao gosto de Rousseau na volátil “vontade-geral”, mas pela
verdade que encerramos, mesmo cercada por toda a mentira passageira que busca
incessantemente desaboná-la, e se a verdade fosse morta, fosse só uma tese, uma
hipótese, já estaríamos perdidos, mas, ao contrário, ela é uma pessoa: Caminho,
Verdade e Vida.
Não
posso transigir com os que acreditam que não vale a pena, em absoluto, este
Ocidente. Afinal, no mesmo leque de sua abrangência de fenômenos complexos,
onde há tantas enfadonhas mediocridades, estão também certas verdades; pense,
por exemplo, no mistério Eucarístico, que está ali, para ser alcançado por quem
quiser, como bem entender, segundo livremente decida.
Esta
liberdade mesma, veja, esta liberdade de que desfruto para apanhar com a minha
mão a verdade e o bem não é algo pelo que se vale a pena lutar? Sim, é certo
que a mesma liberdade me permite apanhar a libertinagem e até mesmo a tirania,
mas a posição onde posso abraçar a verdade, ainda não é melhor do que aquela,
onde não poderia fazer opção por ela?
Este
“recorte” da realidade do grande Ocidente, recorte de um estado da humanidade
que o “acaso” ou a “fortuna”, como queira, conflui afinal com minha existência,
não será amostra insuficiente sobre o poder da verdade e do bem de triunfar?
Sobrevivemos a quantos sucessivos tiranos, a quantas sucessivas ondas de
estupidez? E, ainda assim somos capazes de falar da liberdade como valor, somos
capazes de falar de amor.
Pergunto-me
se não é exatamente isso, se não é esse valor, o amor, donde se desdobra como
pétalas uma série de pilares que podem ser parasitados e distorcidos, mas não
mortos, e em que repousa a força do Ocidente.
Talvez
seja porque, a bem da verdade, para nós esses valores não foram apenas “gases
etéreos”. Ao contrário, o bem, o belo, o justo, têm um rosto, o rosto de alguém
que caminhou entre nós, e pasmem, venceu a morte! Não é um “valor para amar”,
ninguém pode amar um valor, mas para nós, trata-se de uma pessoa, um alguém
para dirigir nossos afetos mais sinceros, não só um ideal, é uma pessoa-divina,
Jesus Cristo.
Venceu
a morte? Sim, venceu, mas enfrentou-a! Não “viveu feliz para sempre” como num
conto de fadas, teve que passar pela Cruz, portanto, se Cristo entrou na
História com direitos senhoriais, e é nesta vida que galgamos a próxima, isto
é, nessa história onde a morte também está, é preciso vencê-la, e tal como a
mentira estava no mundo antes, quando a verdade encarnada também esteve,
não será forçoso admitir que é preciso tomar um lado? E aqui, ao menos, há
opção por isso: É preciso decidir o que seremos, ou filho daquelas trevas que
sobrevivem explorando a morte ou da luz, que a morte supera com a vida, e vida
eterna e em abundância.
Alguns
podem preconizar que é melhor para a Cruz a tirania do Leste, que em teoria
“combate os vícios do Ocidente”, impondo “a virtude”. Oras, me pergunto se é
possível impor a virtude e ela continuar sendo virtuosa.
Erramos
por não escolher o bem, mas errarmos mais se pensamos ser capazes de impô-lo.
Em suma, uma moralidade imposta é tão falsa como a falsa virtude que a impõe, é
o assassinato dela no cerne, é farisaísmo contra o qual o Divino Mestre tantas
vezes se insurgiu com palavras duras: o amor à verdade só é legitimo se
livremente comungado e por qual outra razão nos dotaria o Criador de
livre-arbítrio se não para escolher, fazer opção, por amá-lo?
Forçar
as pessoas a “crer”, para motivá-las a morrer em uma guerra imperialista,
privando-as da liberdade com penas de prisão, com a morte em muitos lugares,
por sua decisão errada de não amar, evidencia que o “cristianismo” dos hunos do
Leste, não é mais que uma tosca idolatria do tipo daquela vivida na Coréia do
Norte, por Kim Il-sung e seu sucessor Kim Jong-un.
Quanto
tempo poderá durar a confederação internacional de todos os vícios? Acho que
esses alienígenas para quem alguns estão pré-assinalando alvos por aqui,
crentes na pseudo-bondade deles, estão vindo não só para destruir o que nossas
más escolhas cultivaram por aqui, mas aquilo que é mais fundamental,
a própria liberdade de escolha; como dissemos sobre a fatalidade desse
tipo de força, enfim, por Cristo se combate Cristo.
Não
deveríamos nos precipitar tanto com relação a uma suposta “boa intenção” dos
alienígenas, afinal, nosso livre-arbítrio nos trouxe até aqui, nos trouxe a
ideologia de gênero, o aborto, a juristocracia, o PT, e tantas outras
calamidades de dar raiva, então por que nosso julgamento, do nada, estaria
correto ao tomar por “libertadores” dos nossos erros os mesmos agentes
promotores de toda a degradação do mundo, agora ditos “defensores dos valores”?
Quantos dos males que nos afligem, foram difundidos no mundo justamente por
eles? Não, eu não esqueci do Comintern, e nem o Senhor Putin se esqueceu, ao
contrário, ele nostalgicamente contempla ainda as torres vermelhas do Kremlin
nos seus sonhos de verão, que foram o pesadelo do mundo, e que ainda são, em
especial da Ucrânia.
Neste
momento sinto que há uma coisa por aqui que merece ser defendida com toda nossa
força, mas não só com a energia de armas e militâncias, conquanto estas sejam
necessárias, mas com a força das nossas escolhas, nossas decisões, com nossa
vida talvez, mais dedicada a uma santidade que é tão ou mais valorosa que a
vida dada em combate, aliás, talvez esse seja o verdadeiro combate, a
verdadeira Revolução, a interior: mais do que pedir que morram por
Cristo, que vivam por Ele.
Se
somos tão corajosos para ousar confiar no carrasco, não seria melhor ser apenas
humildes para nos abandonarmos nas mãos misericordiosas do Divino Pai Eterno?
Voltar às nossas raízes? Mais que falar em “volta”, falemos em futuro, isto é,
permitir as raízes dar seu caule, sua folhagem exuberante.
Lutar
e morrer por esta sagrada raiz de verdade, da justiça e do bem? Isso é
necessário, mas só o é porque não fizemos opção em viver por ela, eis aí a
coragem de que precisamos: não é pelos vícios, mas pela virtude que no Ocidente
pode renascer a qualquer momento, e que só espera de nós um pouco de cuidado;
regá-la mais com lágrimas confrangidas, com suor de dedicação e sim, se
precisar, com o sangue das nossas veias, porque “tudo vale a pena, quando alma
não é pequena”, não é assim que nos afirmou o poeta? Será que a convicção do
Leste é mais firme que a nossa?
***
No
livro Cristianismo puro e simples, do genial C.S Lewis, num determinado
momento, este nos fala de um certo vício desmoralizador, que acomete os que se
sentem muito arrojados no seio do cristianismo, quando olham as toscas pessoas
que frequentam as missas, e se decepcionam com elas e em consequência com a
própria verdade cristã. Lewis nos ensina que quando nos sentimos assim,
pensando que nossa fé talvez seja tosca por conta das pessoas que dela
comungam, devemos olhar para nós; assim, se nos sentimos tão arrojados e
pertencemos a essa fé, ela não pode ser tosca, afinal, estamos também nós
nela.
O
mesmo vale para os arrojados paladinos do Ocidente; como acham que o Ocidente
não vale a pena, se vocês, de moral superior, com índices julgadores, estão
nele? Vocês, tão bons homens, tão salutares homens, resquício do que de melhor
o Ocidente poderia produzir, que se sentem desprestigiados com seus patrícios,
oras, por que querem destruir aquilo onde podem, graças a valores que se
cultivam por aqui, galgar o poder político-econômico, para tudo melhorar? Se
vocês são tão bons para julgar e condenar o Ocidente, não seriam para
resgatá-lo? Quem foi que nos convenceu a um suicídio coletivo? Que suicida não
é também um homicida?
Agora
que estamos na fase da informação descentralizada da Internet, quantos
revoltados, declamadores do “fim do Ocidente”, não são, na verdade, frutos
justamente da nascente da grande resistência? O poder da verdade parece estar
influenciando o mundo, alterando as lideranças nacionais, e o que se chama
polarização, não é um fenômeno de mudança de marés?
O
próprio Plínio Salgado não nos disse, no já mencionando livro Reconstrução
do Homem, que “A casa que mais parece com a casa destruída, é a que está
sendo construída”? Essa avalanche que a esquerda tenta pejorativamente
alcunhar de fenômeno “fascista” não marcará uma oposição a hegemonias que
pareciam perpétuas? É importante não confundir os espasmos do paciente tocado
pelo desfibrilador com os espasmos da morte, afinal, aqueles denotam a luta
pela vida, não o contrário.
Se
é verdade que em tudo que há feito pela humanidade poderemos encontrar a mancha
escura do mal, essa não pode nos ser a ótica de vislumbre da realidade, afinal,
isso nos colocaria inevitavelmente dentro da confluência da dialética do
negativo, e é preciso olhar o que há de bom e verdadeiro em tudo.
Se
cremos que Deus dirige o destino dos povos, como afirma o Manifesto
Integralista de 1932, não é decente perder a cabeça diante da mesquinharia
humana, de nossas arrojadas tolices, e nossas decisões erradas, de nossas
omissões criminosas. É muita soberba condenar a humanidade quando seu criador
julgou-a digna de salvação.
De
alguma forma essa constância que identificamos no bem, que permeia estável na
tradição e através da turbulência, há de ser mais do que apenas águas de
aquíferos profundos; ela também deve ser condutora, e, se Deus fez no homem
qualquer coisa que em nós seja um espaço apropriado para a presença dEle, há de
ser isso a guiar o homem, mesmo que ele não compreenda conscientemente seu
próprio papel história.
Nisso
há uma grandeza estranha, de difícil compreensão, creio que uma certa força
paternal da divina providência, que guia homens aventureiros da nossa Pátria
para o outro lado do mundo, cumprindo um não sei que senso de dever, que os faz
combater e dar a vida contra os novos hunos, e nas suas fotinhas simples e
toscas de quem quer se exibir para mocinhas aqui, nas suas estranhas aspirações
misteriosas, as mais baixas delas por vezes, um impulso move as pernas em
direção àquela fronteira do mundo, e os voluntários brasileiros, servindo na
legião internacional na Ucrânia, apegados em rebarbas da grande virtude, que em
seus espíritos perpassa como uma fina corrente, estão mais do que morrendo pelo
que pensaram quando partiram, eles estão morrendo pelo Último Ocidente, em
suma, pela imorredoura causa, esta que não conhece derrota, que não titubeia, e
a grandeza dela aparecerá quanto mais do alto olharmos estes
acontecimentos.
Tanto
lá como aqui é uma mesma confederação que precisa ser destruída, e ainda este
Ocidente cansado há de se bater muito antes de morrer, há de lutar contra as
doenças que o diminuem, como o corpo resiste à morte mesmo quando a consciência
parece desistir, porque existe no Ocidente uma força viva, anticorpo além da
nossa compreensão das coisas limitadas e limitantes, que reage por si; o bem
que também em tudo está, e ao qual Cristo, contra todas as possibilidades
humanas, garantiu a vitória.
Se
vivi para ver homens levados para o inferno da Ucrânia por razões mesquinhas se
tornarem heróis de uma verdade que não sei o quanto podiam compreender, se vivi
para ver aquele comediante medíocre se tornar diante de Átila uma muralha para
a eternidade, como hei de não confiar nas forças vivas da Nação, capazes de
transformar medíocres abissais em gigantes homens, como hei de duvidar da
ressurreição do Ocidente? Graças a esses homens e suas consciências do seu
papel? Não, graças a Cristo, o Deus que dirige o destino dos povos!