Luiz Gonçalves Alonso Ferreira
Movidos por ignorância ou má fé, acusam
alguns espíritos superficiais os integralistas de se posicionarem contra o voto
e defenderem a implantação no Brasil de uma ditadura de tipo fascista.
Nada mais falso.
Na verdade, tais vilanias, dentre
tantas outras assacadas contra os seguidores da doutrina do Sigma, nada mais
são do que fruto do ódio cego cultivado pelos tradicionais adversários
políticos do Integralismo, única corrente de ideias que representa hoje em
nosso país, através da Frente Integralista Brasileira (FIB), a legítima reação
ao moribundo regime liberal-burguês e às falsas oposições de cunho socialista
e/ou comunista.
Em seus ataques irracionais,
desconhecem ou se esquecem os detratores do Integralismo que este movimento, na
crítica que sempre realizou à liberal-democracia, jamais se colocou, em toda
sua trajetória história e política, contra a própria Democracia, em sua
concepção mais ampla. Pregou e continua pregando, isto sim, seu
aperfeiçoamento, através da superação do Estado de caráter liberal-burguês –
anacronismo do século XVIII, cujos erros e males vêm se acumulando nos últimos
trezentos anos - pela construção de uma forma mais perfeita de Estado,
fundamentada sobre os princípios da Democracia Orgânica – ideia nova dos
séculos XX e XXI - proposta no Brasil pelo gênio político de Plínio Salgado
(1895-1975). Da mesma forma, jamais se declarou o Integralismo contra o voto,
propugnando, isto sim, sua valorização, pela defesa de uma urgente reforma no
sistema representativo brasileiro, que conceda funções legislativas ás representações
de classe, ou seja, aos setores produtivos que contribuem verdadeiramente para
a riqueza material, cultural, moral e espiritual da nação.
Mas, num plano geral, no que consiste
a Democracia Orgânica?
Para o bom entendimento da proposta,
de forma didática, Plínio Salgado comparava o funcionamento do Estado com o
funcionamento do próprio corpo humano. Neste, cada órgão cumpre uma atividade
específica e, conjuntamente, cooperam todos para a realização plena de nossas
funções vitais. Se acometido por alguma enfermidade, um órgão passa a
desempenhar mal seu trabalho, não somente ele, mas todos os demais órgãos
sentirão sua debilidade. Assim como na vida biológica, o mesmo ocorre na vida
social. Os trabalhadores – do capital, do trabalho, da inteligência -, órgãos
da nação, cada qual em sua área de atuação, competem todos para o progresso e
desenvolvimento do país. Se as necessidades básicas de qualquer setor produtivo
não forem atendidas, resultará que, observando-se as relações de
interdependência, a saúde do organismo social, toda ela, ficará comprometida.
Nesta visão integral, os grupos
profissionais devem ser reconhecidos pelo Estado conforme sua importância para
a sociedade, pois são eles os lídimos construtores da riqueza nacional. O atual
sistema de representação é falho e inviável precisamente por ignorar e
desdenhar a relevância social dos setores produtivos, não considerando suas
justas aspirações. O erro provém da Revolução Francesa, cujo preconceito
iluminista e burguês contra as instituições da Idade Média abolira as antigas
corporações de ofício, as quais regulavam e organizavam o trabalho,
representando-o à época junto aos centros de decisão política. Com o surgimento
dos partidos políticos – idealizados como organismos artificiais de representação
para remediar a situação -, elementos intermediários foram criados, isolando
governo e trabalhadores. Estes passaram a designar para as funções legislativas
homens que, pertencendo a profissões diferentes, jamais poderiam defender de
forma satisfatória os interesses de seus eleitores. Era instituído então o voto
deslocado, perdido. Considerado em sua expressão meramente numérica, ele não
estabelecia uma base de correspondência entre o que votava e o que era votado.
O erro perdurou. E, até os dias atuais, vemos, por exemplo, um professor
elegendo um médico para cuidar de seus interesses, um comerciante elegendo um
advogado, um agricultor elegendo um industrial, etc. O absurdo é maior se
dirigirmos nossa atenção para os altos escalões dos governos: ministérios e
secretarias, muitos deles estratégicos, são reservados a indivíduos que, sem
familiaridade alguma com as áreas para as quais foram destinados – por não
terem formação nelas -, recebem pastas levando-se em conta apenas o mesquinho
critério da filiação partidária. No corpo humano, tal descalabro seria como se
o fígado quisesse realizar as tarefas do coração ou os rins as do estômago. Um
Estado assim, funcionando em descompasso, dificilmente estará apto a sanar os
problemas relativos ao Trabalho. Pelo contrário: distanciando o governo dos
setores produtivos da nação – daí a origem dos sindicatos, forma legítima
encontrada pelos trabalhadores para fazerem valer seus direitos - viverá sempre
em clima de tensão social, preparando terreno fértil ao avanço de movimentos
defensores de filosofias políticas negativistas, que trabalham com oportunismo
na exploração da luta de classes, através da manipulação dos órgãos de
representação profissional.
Para restaurar o equilíbrio entre
governo e trabalhadores, Plínio Salgado considerava justo o Estado delegar
funções legislativas ás representações de classe, com o estabelecimento das
chamadas Câmaras Orgânicas. Nos EUA, foi o ex-bispo de Nova Iorque, Fulton
Sheen quem, defendendo a ideia, justificava-a com um argumento poderoso: “Há
mais motivo de identidade de interesse entre um ferroviário da Califórnia, no
Pacífico, e outro em Nova Iorque, no Atlântico, do que entre duas pessoas que,
residindo na mesma cidade – e até votando na mesma seção eleitoral,
acrescentamos nós - são de profissão diferente”.
Inúmeros pontos contam a favor da
Câmara Orgânica. De fato, mais que os partidos políticos, são os grupos
profissionais os que, pela experiência cotidiana, detém o conhecimento e a
capacidade técnica necessários para empreender projetos e leis eficientes,
viabilizando soluções efetivas para os mais variados problemas nacionais. A
qualidade intelectual de nossos representantes aumentaria. A Câmara Orgânica
conciliaria as relações entre Capital e Trabalho, ao garantir assento tanto a
empregados quanto a empregadores que, compartilhando dos mesmos poderes e
atribuições, estariam representados em igualdade de direitos. Combateria a
corrupção: os grupos econômicos deixariam de pressionar os políticos,
sugestionando-os financeiramente com propinas ou doações para campanhas, pois
os grupos profissionais seriam elevados na vida nacional como membros efetivos
de participação política. Limitando-se em épocas eleitorais a campanha e
propaganda política aos círculos mais restritos das representações de classe,
os recursos necessários para cobrir os gastos com campanhas milionárias –
note-se a atualidade do problema – perderiam seu sentido. Candidatos humildes e
capazes teriam mais condições de expor suas ideias e elegerem-se.
Naturalmente, não obstante a
perenidade e imutabilidade de seus valores doutrinários essenciais, reconhecem
e reafirmam os integralistas o caráter prospectivo e dinâmico da História, o
que determina - na marcha empreendida pelo movimento em pleno século XXI, bem
como, na complexidade do tempo que ora vivemos - a necessidade da constante
revisão e atualização de seus valores acidentais.
Dessa forma, com a Democracia
Orgânica, não colimam os integralistas a extinção dos atuais partidos
políticos, mas sua continuidade e fortalecimento. Tampouco menosprezam a
importância do voto, mas valoriza-o, dando-lhe um real significado, ao ligar o
eleitor a um candidato inserido em sua categoria profissional e, portanto,
identificado com seus justos anseios e aspirações.
Assim, dentre várias propostas
estudadas pelos integralistas para a efetivação da Democracia Orgânica e o voto
profissional, destaca-se, por exemplo, a da necessidade da estruturação no seio
das organizações político-partidárias das representações de classe, que
elegeriam para as Câmaras e Assembleias Técnicas os candidatos inscritos em
suas legendas. Estes, por sua vez, passariam a desempenhar suas funções
legislativas de acordo com a orientação doutrinária e programática de seus
respectivos partidos. Nos pleitos internos dos partidos, os representantes de
classe reunidos na mesma legenda política, poderiam eleger os dirigentes da
agremiação nas três esferas: municipal, estadual e federal.
Como se vê, longe de se constituir um
modelo acabado, a instituição da Democracia Orgânica deve obrigatoriamente ser
precedida por uma ampla discussão nacional sobre sua organização e
funcionamento, a qual convidam os integralistas os mais amplos setores
pensantes da sociedade brasileira – juristas, imprensa, professores, cientistas
políticos, etc. – e mesmo seus adversários no campo político.
Num momento em que a sociedade
brasileira acaba de comparecer às urnas para a escolha de seu novo Presidente
da República, triste é constatar, nos diversos debates políticos travados entre
os candidatos – tanto em primeiro quanto em segundo turno –, a total ausência
de propostas concretas para as principais reformas reclamadas pela nação.
Dentre elas, a elaboração de um novo sistema representativo para o país é
certamente a mais ignorada, embora das mais urgentes.
Reorganizados no século XXI, são os
integralistas hoje a única corrente de pensamento e ação política que se
apresenta como portadora de uma proposta clara, eficaz e verdadeiramente
revolucionária para o problema.
Nesta luta pelo estabelecimento da
Democracia Orgânica, nós, da Frente Integralista Brasileira, pedimos o apoio e
a participação de todos os trabalhadores, de todos os setores produtivos da
nação, infelizmente negligenciados e desvalorizados pelas falhas e omissões de
um sistema representativo que opera tão somente em benefício dos caciques dos
partidos, dos politiqueiros profissionais e dos grupos plutocráticos que os apoiam.
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