Pesquisa: Centro de Estudos
Gustavo Barroso*
A disciplina política tem dois
aspectos: forma e conteúdo. Para entendê-la nada melhor que fazer um paralelo
entre a disciplina política e a disciplina militar.
A disciplina militar é impessoal,
submete o homem a uma ordem determinada, sem discussão. Enquadra-o. Tira sua
roupa, põe outra. Ensina a caminhar de outra maneira, ensinando-o a receber uma
ordem e executá-la com Inteligência porém friamente. Guia-se permanentemente pelo
superior desde que sai até o cumprimento do objetivo (missão, ordem, tarefa).
Se se deteve no caminho há de ser por ordem superior. Isto é, é conduzido, no
verdadeiro conceito, sem ser, em nenhum caso, condutor. Age por ação de
presença e sempre em conjunto.
A disciplina política por sua vez é
aquela que exige que cada homem aja individualmente, pois é uma disciplina
confiada a sua consciência e não à vontade de um que manda e que dirige os
outros.
O militar sai com sua tropa e chega
ao objetivo com esta, todos, em conjunto, obedecendo à voz de comando.
O político está livre nos seus
próprios pensamentos e em suas próprias reflexões. Ele tem um ponto de partida
comum e um objetivo a onde deve chegar. Elege o seu caminho. Marcha por
distintos caminhos desenvolvendo, de diversas maneiras, sua mais completa e
livre iniciativa. É totalmente livre no
rumo que escolheu. Marcha apenas com uma condição: não perturbar os que marcham
com ele e chegar simultaneamente ao objetivo que fixou por sua própria vontade
no exato momento em que é preciso chegar.
O que a disciplina política não permite é o engano, é o mau procedimento. O que a disciplina política impõe é
a sinceridade e a lealdade em todos os procedimentos e por sobre todas as
coisas. Na disciplina política não existe nada de obrigatório que não esteja
conforme a consciência ou que não seja ditado por esta. Em consequência i
militante que realiza um mau ato não somente corrompe a disciplina da
organização de que faz parte mas também
desgasta sua imagem, sua credibilidade pessoal, além de vulnerabilizar e
comprometer a ação e a performance do conjunto. O mau procedimento, em síntese,
inviabiliza o militante para a condição de dirigente (político) da organização.
Companheiros: quem realiza transações
ou manobras em benefício próprio não pode impor nem exigir disciplina de quem
deve obedecê-lo. Por esta razão a disciplina política é uma disciplina
eminentemente de fundo interior. O dirigente político é substantivamente íntegro e livre. Por esta mesma razão, não há quem possa fazer o dirigente
político. Ele nasce de sua própria bagagem interior. Ou seja, os quadros
dirigentes não são feitos, nascem potencialmente para tanto. Engana-se aquele
que acredita que se pode fazer um
dirigente político por decreto, resolução ou eleição. Isto é simples de
explicar: conduzir é uma arte, o artista nasce
não se faz. Assim como o artista o dirigente político precisa apenas se
desenvolver e aprimorar sua potencialidade e talento em grau máximo, a não ser
que procure ocupar na história um espaço
comum de mediocridade.
Uma disciplina desta natureza, como
muitas outras coisas essencialmente importantes, está em todas as bocas e em
muitos poucos corações. Mande com dignidade, mande com sinceridade, mande com
desinteresse pessoal, com lealdade, mande com honradez e será obedecido.
Publicado originalmente no Mensário “Ação Nacional” – São
Paulo: Junho de 86, p. 9.
* O Centro de Estudos Gustavo Barroso é dirigido pelo renomado Jornalista Rômulo Augusto Romero Fontes, editor do combativo “Jornal Bastidores”.
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