sexta-feira, novembro 28, 2008


A Vida Heróica e Revolucionária.
Explicação necessária: Infelizmente, alguns tontos resolveram confundir o Conceito de Vida Heróica e Revolucionária, proposto por Plínio Salgado, com o "Super-Homem", surgido do cérebro demente de Nietzsche. Ora, nada mais distante do Conceito de Homem Heróico e Revolucionário, que tem fundamento Espiritualista e Cristão, do que o produto da mente perturbada do filósofo tedesco. Para comprová-lo, reproduzimos abaixo o maravilhoso Artigo da saudosa Companheira Margarida Corbisier – publicado originalmente em "A Offensiva"(13/04/1935), em que se evidencia a nenhuma semelhança entre a genial criação de Plínio Salgado e a alucinação de Nietzsche.

CONCEITO DE VIDA HERÓICA.

Margarida Cavalcanti de Albuquerque Corbisier.

Já se vai precisamente, no processo misterioso dos tempos, a hora em que os homens ainda uma vez despertos para a realidade de sua tarefa de "homens", ainda uma vez conscientes de sua "irremediável" dignidade, saberão galhardamente "fazer a vida" ao invés de esperar que a vida os fizesse.

Havia uma imensa terra verde, um entrechoque monstruoso de sangues, de matéria humana... hibridismos raciais, riquezas de complexidade.

Um sopro de vida impulsionou aquela exuberância de elementos dispersos em ritmo vitalizante de agregação... e já se vai forjando o extensíssimo laboratório geográfico, em crisol de muitas histórias, uma geração de claridade e frescura, elástica e inquebrantável como os jungos. Virginalmente fecundada de essências.

Geração de aço, pois sua consistência é a simplicidade, - geração de fogo, pois sua força é o impulso das energias nucleares - um dia, essa geração falará ao mundo: sua voz terá o calor dos estios queimantes e a doçura do mel dos manacás... entoará para os homens velhos da Terra o canto guerreiro da Vida Heróica!

Nos mais fundos recessos do Universo latejam sempre, surdamente, as forças de desagregação e de morte. O imperioso movimento de Criação é um eterno desafio à capacidade de luta dos seres. Ressoa um grito de alerta pelos espaços inter-estelares. Existir é a palma de uma conquista incessante. E os seres lutam sem trégua pela sua afirmação. Sucumbem corpos na conservação das espécies. Altera-se a matéria na fixação das formas. Cada berço cava o alicerce de uma sepultura, cada crepúsculo encerra a promessa de uma aurora. Combatem a Vida e a Morte a grande batalha do Cosmos... processo de misteriosa elaboração... E o homem também vem ao mundo com o instinto secreto de luta. No olhar das crianças chameja o impulso das arrancadas irresistíveis. Esses pequeninos, quase ainda só de terra e de sangue, anseiam por aventuras cheias de perigo e de glória. Na indefinição de seu alvorecer, encerram todo o ímpeto de suas potencialidades totais... e arrojam-se combativos a viver por antecipação em seus brinquedos, epopéias e lances heróicos de toda a sorte. Ora são exploradores, audazes caçadores de feras, guerreiros denodados; ora missionários entre tribos selvagens, senhores de fantásticos impérios. Nunca os atemorizam obstáculos, confiam imperturbáveis no pleno êxito de suas façanhas.
Mais tarde, se lhes amortece o brilho do olhar. Descobrem a exigüidade do Espaço e do Tempo que os aprisionam. Aflige-se a banalidade de suas conquistas. Não cabem mais dentro da Vida que os asfixia, desencantam-se ante as perspectivas descoloridas que ela lhes oferece. Tão diferente fora tudo que sonharam...

E amesquinhado o Ideal, desfeitas as visões maravilhosas da infância, perdem o gosto pela luta. Se tudo é relativo, busquemos o que for mais a acessível. Deslizam pela corrente das comodidades, amargos e cínicos. Anquilozam-se progressivamente pela inação. Entorpecidos, deixam-se arrastar pelas forças implacáveis de destruição e de morte.

Não mentem, porém, nem os impulsos ardentes das primaveras humanas, nem as sombrias revelações dos primeiros embates. As crianças conhecem os segredos das intuições profundas... E o heroísmo é a vocação própria do homem. Mas, na esfera humana, a luta se desloca para a ordem moral e adquire um sentido trágico.

No início dos tempos batalhava o Cosmos. Batia surda e massiça a marcha em sentido de fatal unidade. Tudo era escuro.

Houve um estremecimento de gênese. Lampejou na treva uma centelha divina. Surgiu para o ser a alma humana.

Vinha marcada de predestinação aos êxtases supremos – estigmatizada de liberdade – rescendente de essência e de divino.

E a grande batalha começou. A que ressoa na Eternidade. A Batalha do Bem e do Mal.

Bem e Mal!... Dupla face do trágico e sublime e imortal destino humano!

À dignidade do Ser Livre cabe a grande luta. Como todas as coisas criadas, o homem terá de dar testemunho do Criador. Fa-lo-á, porém, quer pela afirmação, quer pela negação. Nascido para o Absoluto, terá de escolher entre o relativo. E essa limitação lhe será dolorosa. Durante toda a sua trajetória terrestre a sua vocação ao Infinito o perturbará. Aguilhão de Vida – que castiga na Terra.

Terá de traçar, assim, a sua feição definitiva incessantemente solicitado por forças contrárias. Será, na ordem moral, o árbitro supremo dos destinos da Criação. Filho de Deus, especialmente elaborado à Sua Imagem, é o escolhido do Céu para cooperar na Grande Obra...

Tal é a revelação misteriosa que encerram os pressentimentos juvenis. Neles palpita o germe de nossa grandeza. E essa mesma grandeza é nossa tentação e a nossa perda. Impele-nos a torrente de nossa potencialidade virgem. Sentimo-nos grandes, pressentimo-nos imortais. Atraem-nos os combates, sobretudo pelo papel que neles podemos desempenhar. Trabalhamos para nossa própria glória. Somos pequenos heróis, pequenos reis – cheios de vaidades.

É então que a vida nos ensina a lição do limite e da morte. Desfolham-se quando as tocamos, as rosas que colhemos. Diminui o mundo à medida que crescemos. Afigura-se-nos quixotesco o nosso heroísmo. Tudo se perde na voragem do tempo. Ninguém nos compreende. Os homens são seresinhos pequeninos e egoístas que se roçam uns aos outros e se desconhecem. Tudo se vai envolvendo de uma densidade cinzenta de ceticismo...

Baixa o crepúsculo sobre a nossa alma. É o resfriamento do coração, a poda das melhores energias.

Mas as grandes noites engendram as auroras luminosas... No desamparo de nossa solidão sentimos doidamente a ausência de uma Plenitude. O vácuo imenso de nossa vida é um apelo ao Infinito... A revelação de nossa profunda miséria... impotentes, desorientados, aniquilados brota de nossa alma exangue um grito de desespero e de socorro !

... e então desvendam-se para nós os horizontes supremos das eternas consolações. Reconhecida e aceita a nossa inutilidade, aprendemos o segredo dos heroísmos invencíveis. Compreendemos que a renúncia a si mesmo é o penhor da afirmação para sempre. Já não mais lutamos insensatos, para nossa própria glória; e sim para a Grande Causa! Lutamos pela honra de servir. Pouco importa a tarefa que nos cabe, o que importa é cumpri-la. Tudo é sublime no Resultado Absoluto.
Fixa-se, indelével, o nosso caráter. A Fé nos unifica, organiza, disciplina, abrindo-nos o horizonte das esperanças totais... identificando-nos a nós mesmos como se renascessemos – e esse renascimento consciente trás toda a frescura e a alegria das alvoradas. Agimos com a serenidade quente das convicções inabaláveis, profundas. Invencíveis pelo desprezo absoluto de nós mesmos nada mais nos demoverá. Caminharemos até a meta final sustentados pela Força de Misteriosa Atração...

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Um dia, os "camisas verdes" da terra moça do Brasil falarão ao mundo: sua voz terá o calor dos estilos queimantes e a doçura do mel dos manacás... e entoará para todos os homens da Terra o hino guerreiro da Vida Heróica.

(Transcrito das páginas 53 até 60 do "Estudos e Depoimentos", volume V da Enciclopédia do Integralismo – Rio de Janeiro – Livraria Clássica Brasileira/GRD – 1958 – 186 págs.)

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